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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Tirando os habituais comentários e os textos indignados de meia dúzia de articulistas encartados, o que torna tudo mais real e ao mesmo tempo assustador é a indiferença com que tudo isto é visto pelo cidadão comum. Como algo normal e corriqueiro. Porque o pagamento de comissões, a troca de favores, a agilização de procedimentos e a facilitação de negócios duvidosos está institucionalizada. Como se não houvesse vida depois de amanhã. Como se esta pessegada dos "vistos gold", patrocinada pelo Presidente da República e o Governo, fosse uma coisa normal num Estado de direito respeitável. Como se o significado da diplomacia económica fosse vender apartamentos de cento e tal mil euros por mais de quinhentos mil e repartir o remanescente em comissões entre portugueses e intermediários chineses. Como se isto fosse uma actividade respeitável. Como se pudesse haver seriedade no limbo. Como se o trigo e o joio se tivessem por milagre reunido para constituírem a nossa natureza. Como se mil milhões, dos quais seguramente trinta a quarenta por cento foram para o pagamento de "comissões", valessem o escândalo, a imagem de abandalhamento que fica das instituições, a credibilidade e a reputação do Estado. Como se tudo isto fossem coisas menores.
De um povo de indiferentes resignados só se pode esperar a indiferença. A moleza. É este o preço que andamos a pagar há décadas enquanto nos acenam com a esperança. E que vamos continuar a pagar. Com toda a indiferença.