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incertezas

por Sérgio de Almeida Correia, em 13.07.20

macau-china.jpg

(créditos da foto: Robert Harding Picture Library, Nat Geo Image Collection)

O médico Alvis Lo, que no acompanhamento da situação epidemiológica provocada pelo COVID-19 em Macau se tem revelado uma aposta segura dos Serviços de Saúde, tanto em termos de comunicação para o público como no domínio das matérias que normalmente aborda (deixo de fora as que têm manifesta dimensão política e para as quais não está preparado, nem é pessoa adequada para referi-las), revelou-nos que o Secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, e o antigo Chefe do Executivo, Edmund Ho Hau Wah, que estiveram nas exéquias de Stanley Ho, serão obrigados a acatar e cumprir as medidas de saúde pública aplicáveis à generalidade das pessoas que chegam do exterior.

Tirando o facto de não se saber qual o local destinado ao segundo, a decisão é à partida compreensível e reveladora da saudável preocupação em se assegurar, pelo menos na aparência, que a lei é igual para todos, o que sabemos nem sempre ser verdade por estes lados.

Porém, essa decisão acaba por esconder um outro problema e que decorre da questão de se saber quando terminarão as actuais restrições à circulação de residentes e à entrada e saída de pessoas, turistas ou não?

Já se percebeu que depois da forma atempada com que o problema do COVID-19 e o esquema de entradas e saídas de Macau foi gerido numa fase inicial, o prolongamento da situação presente se por um lado começa a revelar uma inquietante falta de respostas, por outro denota dificuldades em se assumir o risco inerente às decisões que mais dia menos dia não poderão deixar de ser tomadas.

Governar é mais do que controlar as entradas e saídas de uma região minúscula, gerir a distribuição de máscaras e concessões, controlar manifestações e activistas, contar fichas em casinos ou um simples negócio de importação e exportação.

A dependência da RAEM em relação a Hong Kong para voos de médio e longo curso, aliada à incapacidade, mais uma entre muitas, do governo de Carrie Lam em controlar o aparecimento de novos focos locais da doença, acentuam as nossas dificuldades.

Muitos não percebem quais os obstáculos na manutenção em aberto de um corredor para as chegadas e partidas do Aeroporto Internacional de Hong Kong, que não causasse maiores transtornos do que aqueles que têm sido impostos, e que garantisse na medida do possível a segurança sanitária dos passageiros e dos residentes.

Como também não se compreende por que podem residentes de Macau deslocarem-se às demais cidades da Grande Baía, contactando com quem aí reside e regressando sem qualquer problema, mas o contrário não se admite.

O estrangulamento da actividade económica vai dando sinais de não ser comportável sine die por muito vastas que sejam as reservas financeiras da RAEM e dos seus maiores empresários.

As consequências para já têm sido de índole económica e financeira, mas são hoje igualmente de índole psicológica. Muito dos que habitualmente residem em Zhuhai têm enfrentado dificuldades para se deslocarem à região vizinha, passando longas temporadas afastados de suas casas e dos familiares, praticamente acampados deste lado em condições de vida deploráveis, alimentando-se mal, repartindo apartamentos e quartos, enfrentando custos acrescidos e com as suas vidas, e dos seus filhos, permanentemente desreguladas.

Entre a proibição absoluta de deslocações, a existência de entraves burocráticos desproporcionados e a necessidade de manter o controlo da situação epidemiológica, haverá certamente um meio termo, sendo a falta deste que começa a tardar num momento em que um pouco por todo o lado onde a situação se apresenta controlada se procuram aliviar as restrições à circulação de pessoas.

O quadro que vivemos poderá, com mais ou menos esforço do Governo de Macau, ser mantido durante mais algumas semanas, ou meses, mas haverá um dia em que será necessário começar a pensar em tomar decisões.

A situação afigura-se a longo prazo insustentável, pois que não é com os subsídios que têm sido dados às empresas e a particulares, alguns discutíveis visto que houve trabalhadores que não sofreram cortes salariais a receberem “bónus” de MOP15.000 (que deveriam ter sido desde logo “endossados” aos empregadores pelos assalariados que não sofreram cortes, ou retendo estes apenas a parte proporcional aos que tivessem sido concretizados), nem com o turismo “interno”, transportando-se residentes da Areia Preta para o Parque de Seac Pai Van, ou com vales de consumo ou os descontos em refeições proporcionados por alguns espaços, que será possível voltar a uma normalidade mínima e dinamizar uma actividade económica que represente, pelo menos, cinquenta por cento daquilo a que estávamos habituados nos últimos anos.

E não será com alterações à lei de segurança, educação patriótica, a habitual propaganda e as “distracções” similares em que os nossos "comissários" são exímios, que se resolverão os verdadeiros problemas e se dará esperança às pessoas.     

Espera-se, pois, e isso não será exigir muito, atendendo a que estamos quase em Agosto e há meses que não temos casos, que o Chefe do Executivo e o seu governo, sozinhos ou em articulação com o Governo central e os das regiões vizinhas, apresentem com urgência um quadro de soluções que reduzindo a nossa dependência em relação a Hong Kong, cuja situação política com ou sem a nova lei de segurança nacional irá manter-se efervescente durante muitos e bons meses (ou anos), nos traga alguma esperança quanto à sua capacidade de pensar os problemas e apontar caminhos que nos permitam sair do marasmo em que nos encontramos.

Está na altura de começarem a mostrar que para lá da gestão corrente, da distribuição de cheques, da instalação de câmaras, da pintura de passadeiras e abertura de buracos nas ruas, e de vagas promessas, serão capazes de fazer mais alguma coisa.

É nas crises, e na confiança que transmitam, na capacidade de liderança demonstrada e na dinamização que consigam imprimir para se ultrapassarem situações adversas, que se reconhecem os bons dirigentes e se identificam os maus governantes. Haja esperança.

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