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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.

Ao longo dos anos têm sido inúmeras as vezes em que os residentes e os turistas se queixam da falta de táxis em Macau. Neste momento, não me vou aqui referir à péssima qualidade do serviço prestado, à falta de educação e de simpatia da maioria dos condutores, aos modos rudes e ordinários de muitos destes, às irregularidades que aumentaram 17 vezes em três anos, ao mau estado de muitas viaturas e à poluição que os veículos mais antigos provocam, vendo-se sair nuvens de fuligem dos escapes quando arrancam ou nas subidas das pontes; enfim, veículos que em cidades que funcionassem com normalidade, com uma supervisão e fiscalização eficientes, e não estivessem à mercê dos lobbies, já teriam ido para abate.
Pois bem, ontem à noite, ao ver o Telejornal da TDM fiquei a saber que numa cidade onde há uma falta imensa de táxis, na maior parte das horas do dia, mas em especial entre as 17:30 e as 20:00, talvez porque os motoristas resolvam todos render e ir jantar à mesma hora, vamos passar a ter ainda menos táxis. Isto porque há 100 licenças de táxis que irão expirar já em Setembro.
Neste cenário, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que é uma entidade que vive completamente à margem da realidade, graças à incompetência de quem a tutelou e dirigiu na última década, e continua a dirigi-la, veio dizer que como no ano passado foram atribuídos 500 alvarás de táxis, e que estes já estão todos ao serviço, isso "compensa, praticamente, o número de táxis cuja licença expira". Então se compensa escusavam de ter aberto concurso para 500, porque já então teriam 100 em excesso.
É claro que na DSAT nenhum dos patriotas que lá trabalha tem de andar de táxi, nem nunca precisou de chamar um táxi entre as 17 e as 20 horas para ir até ao terminal da Ponte Macau/HK/Zhuai para apanhar um autocarro que o leve até ao Aeroporto Internacional de Hong Kong. Ou num dia de chuva. É que nem mesmo o agendamento funciona. Ainda agora tentei agendar um carro e como se pode ver pela foto da aplicação está tudo "full". O cenário de hoje repete-se para amanhã e todos os dias até ao final da semana. Será que alguém acredita que a aplicação que utilizei ou as outras funcionam bem? Tirando no momento de lançamento do serviço nunca mais foi possível agendar um carro na aplicação para as horas e dias que necessito. E já me aconteceu agendar, confirmarem e depois não aparecer ninguém à hora marcada.
Parece-me, pois, mais do que manifesto que na DSAT e em quem a tutela se padece de um défice de compreensão da realidade envolvente. Atente-se ademais no seguinte:
1. Em 29 de Outubro de 2024, o "director da DSAT, Lam Hin San, disse no final de Setembro que existem actualmente cerca de 1.500 táxis em funcionamento e haverá um aumento para 1.700 a 1.800 táxis depois da entrada em funcionamento de todos os novos táxis", acrescentando que "o número de táxis em Macau “tem vindo a aumentar”, e que serão feitos ajustamentos no futuro de acordo com as necessidades da sociedade". (...) "[A] DSAT recordou que a RAEM lançou “atempadamente” o concurso público para a atribuição de licenças gerais de táxis ao abrigo da nova lei de transporte de passageiros em automóveis ligeiros de aluguer, visto que alguns alvarás de táxis viram o seu prazo terminado sucessivamente, respondendo assim à procura do público no que se refere ao serviço de táxis".
2. Essa mesma entidade, em 8 de Janeiro de 2025, revelou que "até ao final do ano passado, cerca de 1.700 táxis estavam em operação em Macau, sendo que o número vai aumentar para cerca de 1.800 este mês, com mais 100 táxis a prestar serviço para responder à procura do público".
3. Em Fevereiro deste ano, 2025, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok, a mesma DSAT veio dizer que "está a preparar um novo concurso público para substituir as licenças que vão caducar este ano. As autoridades indicaram também que estão a estudar formas para aumentar a taxa de resposta dos táxis às solicitações."
4. Nessa ocasião, a DSAT acrescentou que “continuará atenta à actualização legislativa e os trabalhos complementares relacionados com a prestação de serviços de transporte de passageiros por marcação online nas regiões vizinhas”, indicando que vai proceder aos “estudos necessários em tempo oportuno” e que estava a estudar “o número de táxis especiais e formas para aumentar a sua taxa de resposta à chamada, continuando a auscultar as opiniões da sociedade e a apresentar sugestões, no sentido de responder às necessidades dos residentes e turistas”.
Perante isto, seria de esperar que a DSAT tivesse realizado os estudos que prometeu à população e que a urgência impunha, em tempo oportuno, como referiu, e que já tivesse estudado as formas de aumentar a taxa de resposta dos táxis às solicitações, estando neste momento em condições de fazer os ajustamentos e dar resposta às necessidades de residentes e turistas.
Em vez disso, temos a DSAT a dizer que só agora vai encomendar um estudo – que andou a fazer desde Fevereiro de 2025? –, embora não se saiba quando, nem a quem, nem quanto tempo esse estudo vai demorar e custar. E, como se isso não bastasse e andasse a brincar com a população, a DSAT ainda vem dizer que afinal os cem táxis que faziam falta em Janeiro de 2025 já não são precisos!
Eu sei que os dirigentes desta terra estão habituados a tratar os residentes como gente estúpida, ou como crianças sem formação adequada e destituídas de massa cinzenta, que precisam de ser orientadas e esclarecidas com aqueles cartazes, anúncios e vídeos publicitários infantilizados, que dir-se-ia preparados para mentecaptos, com que somos diariamente brindados pelas instituições públicas. Como se não fossemos todos adultos, com suficiente capacidade de entendimento e compreensão, podendo raciocinar sem a ajuda dos dirigentes. Escusavam era de ir tão longe.
O sector dos taxistas, diz esta manhã o Ponto Final, "tem uma opinião completamente diferente e acredita que é necessário repor as licenças de táxi de acordo com a situação real do mercado". O Presidente da Associação de Auxílio Mútuo de Condutores de Táxi sugere atribuir mais licenças aos táxis pretos, realçando o tempo que leva o processo de concessão de novas licenças.
O vice-presidente do Conselho Consultivo do Trânsito, Lam Chi Chiu, "concorda com a necessidade complementar o número de táxis, uma vez que os cidadãos e turistas em Macau continuam a encontrar dificuldades em apanhar táxis", acrescentando que "o número de turistas tem vindo a subir os residentes relatam sempre que não conseguem apanhar ou chamar táxis", pelo que "em breve [se] vai intensificar a falta de táxis".
A reportagem que a TDM ontem passou no Telejornal mostrou cidadãos chineses a compararem, em chinês, a falta de táxis em Macau com o bom serviço oferecido no Interior do país. Numa terra onde toda a gente critica sempre com medo, esses cidadãos não se coibiram de apontar o dedo ao péssimo serviço de táxis que aqui temos e que toda a gente vê menos os Secretários para as Obras Públicas e Transportes, a DSAT e os seus dirigentes, passados e actuais.
Toda a gente se apercebe do estado miserável em que está o serviço de táxis e da gritante falta de oferta, mas tal como acontecia antes, na equipa governativa que saiu e com ex-titular da DSAT, os actuais dirigentes continuam a querer fazer dos residentes estúpidos.
É com os táxis, mas é também com a poluição dos lagos Nam Van, com as obras nas estradas, com a falta de escoamento de águas de cada que chove um pouco mais, quase que reeditando o que aconteceu no tempo do tufão Hato, com tudo entupido e os carros a boiarem. A RAEM está em obras permanentemente. A região farta-se de gastar dinheiro. Aos empreiteiros, aos fiscais e aos consultores não falta trabalho. Todos enriquecem e continua-se a não se fazer nada de jeito. Os problemas são recorrentes e passam de um ano para o outro, de um Chefe do Executivo para o seguinte, sem solução e com o maior desplante de quem é pago, e bem pago, para servir os residentes.
O Comissariado de Auditoria em 30 de Junho passado dizia que a DSAT, nem mesmo com um medíocre serviço de táxis como o que temos nesta aldeia, foi capaz de cumprir “adequadamente as suas atribuições de fiscalização”, que "o problema é particularmente grave durante os horários de pico diurnos de tráfego” e que "prejudicou a realização do interesse público".
Perante isto, numa democracia decente, só haveria uma solução. Não, não me interpretem mal, não me refiro a "dar-lhes com um pano encharcado na fronha", que com isso não se resolveria nada, embora fosse o que muitos esperariam.
O que se impunha era demiti-los com o máximo escarcéu, como fazem com aqueles que "violam a disciplina do partido", pois que isto que se passa em Macau é tão ou mais grave, atentos os elevados salários que recebem e o pouco ou nada que produzem.
Impunha-se que se mostrasse à população que vão ser tomadas medidas urgentes, sérias e eficazes para se poder ter um serviço de táxis civilizado e normal, que se corrigissem todos estes desmandos, discursos, comunicados e respostas da DSAT que envergonham qualquer governação patriótica, ofendem os residentes e são uma afronta ao bom serviço de táxis que é oferecido aqui ao lado e nas principais metrópoles chinesas aos cidadãos e aos turistas que as visitam. Isso seria o mínimo.
Não há desculpa para tanto desprezo pelos cidadãos e o interesse público. Não há desculpa para tanta falta de vergonha.