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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Em Maio de 68 a imaginação era um slogan. "L'imagination au pouvoir" escrevia-se então nas paredes do Quartier Latin e da Sorbonne. O tempo acabou por levar algumas dessas memórias, mas as que ficaram tornaram-se eternas e reaparecem de cada vez que recordamos as canções malditas e os poetas de sempre que encheram muitas noites de amor e reflexão.
O que não me passaria pela cabeça era descobrir que aquilo que os sonhadores do Maio de 68 não conseguiram então concretizar, tornar-se-ia realidade em Portugal muitos anos depois. E logo no Palácio de Belém.
O livro agora publicado por um ex-colaborador de um senhor que um dia descobriu a existência de vulnerabilidades no sistema informático da Presidência da República, talvez por acreditar que este seria mais seguro do que o da Casa Branca, é a prova acabada de que a imaginação esteve no poder durante dez longos e férteis anos. Da crença do ex-Presidente da República nas palavras do antigo conselheiro de Estado e seu amigo Dias Loureiro à confiança nos gestores do BPN para gerirem e fazerem render as poupanças de alguns amigos, sem esquecer as queixas sobre os cortes na reforma, as preocupações com a poupança e a subsistência futura, os momentos zen das suas comunicações ao país, o deslumbramento com "o sorriso das vacas", a composição de algumas comitivas presidenciais, o nível das preocupações demonstradas ao longo dos mandatos, até mesmo a inutilidade da acção política, tudo o que se passou nesse tempo entre Março de 2006 e Março de 2016 ganha sentido quando se lêem as palavras do ex-assessor de Cavaco Silva. De tal forma que nem o facto deste ter tido, sabemos agora, comportamentos que o ex-assessor considera "inexplicáveis" para consigo, depois de terem convivido "ininterruptamente" desde 1986, o fizeram sair do Palácio de Belém.
Tantos anos volvidos sobre o Maio de 68, é bom saber que a imaginação esteve no poder, que ainda há editores que apostam na imaginação, que há gente capaz de viver para depois poder contar as suas experiências paranormais. Isso e colecções de cromos.