Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Faz agora três meses que o assunto começou a ganhar força. O pretexto foi o lançamento de um livro, devidamente enquadrado por uma entrevista à Sábado e, que me recorde, uma notícia do i. Entretanto, Santana Lopes também assomou fugazmente à varanda. No passado dia 12 de Agosto foi a vez do Público retomar o assunto. De mansinho, enquanto não disparam os nobres e as aves de capoeira, os presidenciáveis começam a ocupar os seus lugares.
António Guterres tem vários pontos a seu favor. Não é um arrivista, tem educação - coisa que muitos políticos no activo não têm -, apresenta pergaminhos académicos insusceptíveis de discussão nas primeiras páginas de alguns jornais que misturam assuntos sérios com o silicone que levou ao rompimento de noivados, possui experiência governativa, não fala com a boca cheia, não usa fatos castanhos, consegue comunicar em várias línguas, e, o que não é desprezível, sabe ler e escrever em português decente. Para além disso, é reconhecido fora de portas, mostra um currículo com uma vasta experiência internacional e os pergaminhos de uma carreira na ONU à frente de um cargo particularmente difícil e exigente como é o ACNUR. Acima de tudo, tal como Santana Lopes, é um homem sério, não constando que ande por aí a amealhar para a reforma e as peúgas com as acções que o primeiro vendedor de castanhas lhe ofereça.
Contra si pesa, ainda, a imagem que deixou quando bateu com a porta do Governo e do PS, após umas autárquicas pouco conseguidas, uma proximidade à Igreja Católica vista por alguns sectores como excessiva, para já não falar na dificuldade que tem em fazer contas complicadas com microfones à frente.
Todos sabemos que as funções presidenciais são bem diferentes das de um primeiro-ministro, e que o facto de um indivíduo não ter sido um excelente primeiro-ministro, com excepção de um caso conhecido, não o transforma num Presidente sofrível. Em especial se tiver um mínimo de bom senso, a noção de que a Terra é redonda e de que o Sol não gira à volta do Palácio de Belém.
Guterres tem boa imprensa - tal como Cavaco Silva no seu tempo e Passos Coelho ainda mantém -, mas para conseguir ser bem sucedido vai ter de se afastar da imagem que deixou no espírito de muitos portugueses de ser um "mole" demasiado palavroso. O ACNUR deu-lhe outra dimensão e mostrou que é um homem que não foge à luta, sendo capaz de compreender a dimensão do sofrimento humano. Quanto à segunda parte, se quiser fazer o caminho, vai ter de ser mais poupado nas palavras de cada vez que tiver de falar.