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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Existe um tempo para chegar, ficar e partir. E isso é válido em quaisquer circunstâncias.
Não me refiro ao evento cultural. Refiro-me ao acto de uma pessoa se expor.
A vida pública e cívica de um indivíduo é, ou pelo menos devia ser, um acto transparente de exposição orientado por valores e princípios em prol de um combate pelo bem comum, pela realização dos interesses superiores da comunidade. Um exercício de cidadania, um exercício de seriedade, de rigor ético e coerência moral, de correspondência entre o pensamento, o discurso e a prática.
O mesmo se diga quanto às instituições e as organizações colectivas.
Está tudo errado quando a exposição não é, ou deixa de ser, transparente (se é que alguma vez o foi), quando a acção se esconde através de decisões opacas e de um discurso redondo, quando se percebe que o acto de exposição apenas visa a realização de interesses egoístas, pessoais ou de grupo.
A exposição é um risco. Expõe os indivíduos, as instituições e as organizações à crítica, ao juízo de terceiros. Isso faz parte da própria da exposição e da essência da vida pública. Daí que a crítica rigorosa, fundamentada, também ela transparente, seja uma exigência da nossa vida colectiva.
Confundir isso com a crítica pessoal orientada, com a maledicência generalizada, é não só um erro como releva de um processo deficiente de formação da personalidade.
Quando não se percebe isto dificilmente se compreenderá o sentido da exposição e da acção colectiva. Perder-se-á o objectivo, o rumo, a clarividência.
E estes não poderão faltar quando se escolhe o momento de chegar, enquanto se está, e na escolha da hora de partir.
Por vezes é difícil, mesmo doloroso, como aconteceu com Churchill. Mas foi isso que fez a diferença em relação ao seu sucessor.
Hoje todos sabem quem foi Churchill. Ninguém sabe quem foi Eden.
É sempre mau sair empurrado pelas circunstâncias porque não se percebeu qual a hora de sair. Ou depois dessa exposição se ter tornado prejudicial, indiferente e/ou irrelevante. Dar o lugar aos outros também pode ser um acto de grandeza se se souber sair de cena.