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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Num país que continua a ter meio milhão de analfabetos, isto é, gente que não sabe ler nem escrever, a desastrada (e inaceitável) intervenção do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior na Assembleia da República pode ter muitas explicações. A começar pelo nervosismo. Essa será uma parte da história mas que, apesar de tudo, não a tornará desculpável.
A um primeiro-ministro que conjugava o verbo haver no plural junta-se agora um ministro que diz "interviu", em vez de interveio, e "tinhemos", em vez de tenhamos. O currículo do ministro pode ser o melhor do mundo, mas não há acordo ortográfico nem reforma educativa que remedeie o que aconteceu.
O ideal era voltarmos todos à Cartilha de João de Deus, a uma edição actualizada e aumentada, e que as televisões organizassem alguns concursos que, em vez de mostrarem analfabetos a dizerem asneiras e a exibirem os cus e as mamas à hora do jantar, ou que ande a perguntar aos concorrentes o preço dos electrodomésticos, os obrigasse a responder a questões sobre a cultura e a língua portuguesa. Um concurso que atribuísse prémios chorudos, em euros, e levasse os concorrentes a estudarem os tempos verbais, os advérbios, os pronomes e a fazerem provas de composição, talvez pudesse operar milagres. E, quem sabe, se até não poderia contar com o patrocínio do Presidente da República eleito e das fundações que por aí temos para levar todo o país a reaprender a ler, a escrever e a dizer. Eu também; que com estes exemplos que nos chegam em cada dia que passa vou desaprendendo e esquecendo o pouco que me ensinaram.