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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Recordo-me de há umas dezenas de anos, quando trabalhei para eles, ter ficado impressionado com o seu nível de organização, embora por vezes me parecesse demasiado burocratizado nalguns aspectos atinentes à decisão. Depois disso mudei de ares, fui para outras paragens, mas não deixei de acompanhar a sua vida, e a de outras companhias aéreas, por vezes ainda viajando nos seus aviões.
Tempos houve em que alguns dos seus técnicos chegaram a estar destacados em Macau, colaborando com a companhia aérea local. Onde a TAP também excursionou nos anos finais do vierismo, transportando a tralha mais inimaginável. Depois tudo mudou. Não em Singapura.
Ontem fui surpreendido, uma vez mais, pelos resultados obtidos pela Singapore Airlines no exercício do ano transacto. Não é todos os dias que uma companhia aérea, mais a mais de um Estado minúsculo, consegue atribuir aos seus trabalhadores um bónus de 7,94 meses de salário. Sim, leram bem: sete vírgula noventa e quatro meses de salário.
A explicação é simples: boa gestão. O que, aparentemente, para a Singapore Airlines é uma coisa fácil.
Após o levantamento, em 2022, das restrições de viagem impostas pela Covid-19, em que a companhia já tinha atribuído aos seus trabalhadores um bónus de 6,65 meses de salário, o ano fiscal de 2023/2024 apresentou um crescimento de 24% dos lucros líquidos. Os lucros atingiram 2.675 milhões de dólares de Singapura, mais ou menos o equivalente a 2 mil milhões de US dólares. Depois de três anos de resultados negativos, é caso para dizer que voltou tudo à normalidade.
Quanto à folha salarial do seu pessoal, consegui um registo relativo aos salários do pessoal de cabine de 2017, entretanto divulgado em Janeiro de 2022. Quem quiser pode espreitar e fazer as contas para depois poder comparar com a "nossa" (deles) TAP.
Também a Emirates, que utilizo regularmente, onde trabalham muitos portugueses, aos comandos dos aviões e servindo os passageiros na cabine sempre com disponibilidade e simpatia, apresentou excelentes resultados e vai pagar cerca de cinco meses de salários, a título de bónus, aos seus trabalhadores.
Sei que em aviação, como em política, e muitas outras áreas, não há milagres. Por isso, uma vez que já sabem que daqui a umas dezenas de anos vamos, finalmente, todos poder aterrar em Alcochete, humildemente sugiro que as sumidades que têm gerido a TAP, a rapaziada das juventudes partidárias, o Estado português e os sindicatos organizem visitas de estudo a Singapura, muitas, e podem também levar o Prof. Marcelo, pois pode ser que o homem se modere, para ver se conseguem aprender alguma coisa e perceber qual é o segredo de gerir bem uma companhia aérea, num pequeno país, com paz laboral e resultados extraordinários.