Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: Macao News)
Ficou finalmente concluída, entrando ao serviço depois de muitos incómodos, transtornos e milhões gastos, a obra designada por “Obra de construção da travessia pedonal ao longo da Avenida de Guimarães na Taipa”. Nome pomposo para uma obra que entendo ser perfeitamente despicienda, como muitas mais realizadas na cidade com pouco ou nenhum critério.
Tenho sérias dúvidas sobre a utilidade prática da obra. Além de tornar muito mais feio o ambiente urbano.
Talvez com excepção da Rua do Campo e da Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, em Macau, a maior parte dessas travessias pedonais é pouco utilizada, continuando a haver muita gente que as ignora e insiste em atravessar a rua, colocando em risco a sua segurança e a da circulação rodoviária. Veja-se, por exemplo, o que acontece na Avenida Marginal Flor de Lótus, entre a Pousada Marina Infante e o Hotel Broadway, no lado oposto ao Galaxy, ou na Estrada de Seac Pai Van.
Depois, porque nas ruas adjacentes à Avenida do Guimarães continua a haver passadeiras, sendo certo que não raro os engarrafamentos na via principal são provocados pelos carros que nela circulam e que quando mudam de direcção são obrigados a aguardar que os peões atravessem as "zebras" nas laterais, obrigando todos os veículos que circulam atrás de si a parar.
Mas pior do que tudo isso é que quer a passagem superior agora inaugurada, quer a que em breve será inaugurada na Estrada de Seac Pai Van, a seguir ao Parque, no sentido de quem vai para Coloane, próximo do acesso à Estrada do Alto de Coloane, constituem monumentos ao mau gosto, à falta de critério e à total ausência de sentido estético.
Já que se iriam gastar milhões, seria expectável que existisse alguma uniformidade estética entre, por exemplo, as passagens superiores existentes nas proximidades do Cotai, na Rotunda do Istmo e na Estrada Governador Nobre de Carvalho, onde está o elevador inclinado da Taipa grande, ou a da Estrada de Seac Pai Van, próximo do nado-morto "Hotel 13", com utilização das mesmas cores, de materiais de qualidade idêntica e esteticamente inseridas no mesmo estilo.
Nada disso aconteceu.
Esta nova passagem da Avenida do Guimarães é um bom exemplo de como não se devem fazer as coisas, havendo inclusivamente partes da construção que foram erguidas mesmo em frente à porta principal de acesso a edifícios residenciais, que ficaram agora com um mono de betão colocado à entrada, o que certamente facilitará as mudanças de casa que estão quase permanentemente em curso numa cidade onde não existe estabilidade residencial para uma grande parte da população menos favorecida devido aos altos valores das rendas.
Finalmente, dir-se-á, quanto a um dos objectivos da obra, traduzido na remoção das passadeiras para que o trânsito flua mais depressa, que o objectivo não deverá ser o de transformar ruas e avenidas que atravessam zonas residenciais e onde há grande circulação de peões em vias rápidas. Já basta a velocidade a que circulam alguns motociclos, designadamente os de distribuição de comidas ao domicílio, e transportes públicos, cuja condução descuidada e ao arrepio das regras rodoviárias se reflecte nos inúmeros acidentes que provocam e que em nenhum caso se devem à falta de passagens superiores para peões.
A simples colocação de bandas que obrigassem os condutores a reduzir a velocidade junto dos locais de atravessamento de peões e a colocação de semáforos e temporizadores electrónicos teria resolvido o problema – como sucede entre o City of Dreams e o Venetian – e não teria tornado a cidade ainda mais feia e desconfortável para quem gosta dela e aqui vive.