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descaramento

por Sérgio de Almeida Correia, em 06.12.22

AL_RAT-kits.jpg.webp(créditos: Macau Daily Times)

Como se não bastassem já todos os constrangimentos a que os residentes estão sujeitos, agora ainda têm de participar no pagamento de kits de auto-testes rápidos de antigénio.

Antes foram os encargos com as máscaras azuis que não servem para nada, e que logo ao primeiro surto a sério, como foi o de Junho passado, o Governo recomendou às pessoas que não as usassem, optando antes pelas KN95 ou modelos superiores. Como neste momento não há nenhum surto activo podemos voltar a usar máscaras inúteis para irmos ao bufete buscar o pão-de-ló e a salada de frutas.

Em relação àquilo que é o cumprimento de um dever cívico, que deveria ser um acto de patriotismo para protecção dos próprios e de toda a comunidade, que é a vacinação, o Governo sentiu-se na obrigação de oferecer vales pecuniários às pessoas com mais de 65 anos, aqueles cujas taxas de vacinação são mais baixas e que mais resistem à vacinação com argumentos espúrios, vales que podiam depois ser trocados em estabelecimentos como o Supermercado Luen Fong, a Pastelaria Maxim’s e os estabelecimentos da cadeia McDonald’s (porquê estes e não outros?). 

Aquilo que devia ser penalizado, que é a falta de vacinação, a falta de sentido cívico, a falta de patriotismo que a todos nos trama, para o Governo de Macau continua a ser irrelevante. 

Tanto faz ser vacinado como não-vacinado que os encargos e incómodos são os iguais para todos. Quem não se vacinou continua a poder circular livremente, a frequentar serviços públicos, a entrar e sair sem restrições, e até pode receber vales pecuniários por não ter feito o que deve. O absurdo é total. 

Por causa dos que não se vacinaram, e da estupidez que tomou conta de tudo, todos estão sujeitos a limitações à sua liberdade de circulação, à sua liberdade de deslocação, de reunião e até de convívio, obrigados a usar máscaras – mesmo que por vezes seja só para a fotografia oficial –, a fazerem testes por tudo e por nada para entrarem num serviço público, seja num tribunal para consultar um processo ou assistir a uma audiência de julgamento, seja para participarem em cerimónias públicas e eventos festivos privados; isto para além das desgastantes e dispendiosas quarentenas em hotel impostas a quem se atreve a sair para o estrangeiro.

A imposição da aquisição de kits pelo Governo da RAEM aos cidadãos é mais uma medida abusiva, insensata e que servirá apenas para dar dinheiro a ganhar aos fabricantes, vendedores e intermediários que fornecem os SSM, e que até hoje a maioria desconhece exactamente quem são e quais as suas margens de lucro.

Repare-se, por exemplo, que o Festival da Gastronomia, junto à Torre de Macau, durou dezassete dias. Havia lá gente infectada a passear, mas o Governo entendeu que não havia risco, ou o risco era "controlável", para a comunidade. Desde o dia 28 de Novembro são já 56 casos. Quantos se devem ao Festival de Gastronomia? Quantos tinham a vacinação completa com as doses de reforço? 

Em contrapartida, no Festival da Lusofonia, com meia-dúzia de falantes lusófonos, sedentos por uma bifana e uma caipirinha, num evento que só durava três dias e onde não havia qualquer infectado, considerou-se que havia risco, ou risco "incontrolável", concluo eu, e toca de fechar tudo a correr antes do último dia.

Tenho pena que a presidente da Casa de Portugal não tenha um nome parecido com o do presidente do Festival de Gastronomia. Muito provavelmente também não teria havido risco, pese embora o laxismo do controlo deste último.

Fica, pois, a sugestão de no próximo Festival da Lusofonia a organização arranjar uma comissão de honra que integre, pelo menos, um deputado do regime para presidir ao evento. Ao mesmo tempo podia-se pedir-lhe ajuda para encontrar alguém que também fornecesse umas máscaras KN95, coloridas e alusivas ao evento, e kits de auto-testes rápidos para venda no local durante três dias para assim se diminuírem eventuais riscos e se aumentarem os números do negócio (das máscaras e dos kits, que as bifanas não dão dinheiro).    

Se é do interesse do Governo que se façam esses testes por tudo e por nada, então deveria ser aquele a subsidiá-los na íntegra e a distribui-los por toda a população. Como faz com as câmaras de segurança pelas ruas. Ou, então, deveriam ser distribuídos kits gratuitamente a todos os que se tenham vacinado com as duas doses mais as duas de reforço. Os que sem razão recusam a vacinação ou rejeitam as doses de reforço que paguem os kits. Em Portugal, os comunistas diziam que os ricos é que deviam pagar as crises, não os pobres ou remediados. Aqui deveriam ser os egoístas e os insensatos.

Este seria sempre um custo muitíssimo inferior por comparação com os milhares de milhões que se têm desbaratado em rondas sucessivas de testes, em períodos de observação disparatados e à caça de "turistas" infectados, enquanto se corre com os trabalhadores não-residentes sem haver quem os substitua, delapidando-se sem racionalidade as reservas financeiras da RAEM e a qualidade de vida da população.

Sim, porque de cada vez que chega alguém para passear na RAEM, ou para participar em maratonas internacionais sem estrangeiros, ou em festivais gastronómicos que se prolongam por mais de duas semanas e por onde andam infectados, ou quando há residentes sem vacinas que vão ao lado de lá às compras ou em visitas de estudo e regressam contaminados, voltamos sempre ao mesmo.

Aqui, em Macau, todos pagam por igual a falta de descaramento, a pouco patriótica resistência à vacinação e as decisões desproporcionadas e destituídas de razão.

Decisões que no interior da China levaram ao cansaço e ao descontentamento generalizado das populações, originando manifestações de rua, e que obrigaram as autoridades à mudança de critérios e de medidas.

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De Pedro Coimbra a 06.12.2022 às 07:39

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