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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Parece que finalmente as autoridades de Macau resolveram empenhar-se a sério numa campanha de promoção da vacinação contra a COVID-19.
O problema é que uma vez mais chega tarde e numa altura em que o aumento de número de casos na província de Guangdong – não, os casos não vieram de países terceiros, nem foi nenhum gweilo que os trouxe na bagagem – fez aumentar os receios dos Serviços de Saúde de Macau. De qualquer modo, antes assim.
O lamentável é que só ao fim de mais de um ano é que se tenham lembrado de pedir a amostragem de códigos de saúde à entrada dos transportes públicos (como farão os velhotes que não usam telemóvel para irem ao mercado?) e que continue a não haver uma uniformização de procedimentos.
De que serve exigir-se esse mesmo código na entrada em hotéis, casinos, instituições médicas e departamentos governamentais se depois deixa de ser obrigatória a apresentação do código para quem vai a um supermercado, loja de conveniência, sauna, cinema, karaoke ou sala de exposições? Será que nestes locais o risco de transmissão do vírus é menor?
Por outro lado, é notório que a população continua a não compreender quais são as "vantagens" da vacinação, para além da óbvia protecção individual e grupal. As empresas privadas, nomeadamente bancos e concessionárias, à semelhança do que se passa em Hong Kong, oferecem dias de férias extra aos trabalhadores para os motivarem, entregam brindes, organizam sorteios que levem as pessoas a vacinar-se. Porém, em contrapartida, não existe qualquer diferenciação ou reconhecimento em relação a quem desde a primeira hora se colocou ao lado das autoridades de saúde e se disponibilizou para tomar as vacinas.
Os tempos de quarentena para quem tem ou não tem vacina são os mesmos. Os vacinados continuam a usar máscara, a mostrar o código de saúde, a enfrentar as mesmas dificuldades para se deslocarem, e ainda sujeitos a igual grau de exigência para entrarem ou saírem da RAEM como os não vacinados. Será que isto tem alguma lógica? Será que faz algum sentido? Se para se passar a fronteira é indiferente estar ou não estar vacinado, como justificar aos descrentes da vacina que convém tomá-la?
Depois, também não se percebe porque o Governo de Macau continua a não chegar a um entendimento com o Governo de Hong Kong para se ter um corredor entre a RAEM e o Aeroporto Internacional de Hong Kong, quando entre este e Shenzhen continua a haver carreiras regulares que permitem um acesso directo ao terminal sem que seja necessário passar pela cidade ou realizar qualquer quarentena.
Raia o absurdo, e é absolutamente incompreensível, de um ponto de vista científico, que uma pessoa vacinada e apresentando testes de ácido nucleico negativos no local de partida e à chegada à RAEM esteja obrigada a 21 ou 28 dias de quarentena em hotel.
O aumento das taxas de vacinação verificado nos últimos dias não ilude a gestão deficiente que se fez do programa de vacinação. De nada serviu o exemplo dado pelo Chefe do Executivo e por outros altos responsáveis de se voluntariarem desde logo para receberem a vacina. O gesto revelou-se inconsequente e veio desacompanhado dos estímulos que deviam ter sido transmitidos à população. Agora, é o andar ó tio, ó tio a ver se os residentes se vacinam porque se teme o pior.
É assim nas vacinas. Foi também assim com o que aconteceu na altura do tufão Hato. Continua a ser assim com as cheias no Porto Interior e outras zonas baixas da cidade, cujas soluções tardam para desespero da população afectada, como também é com os lixos, com o não tratamento das águas residuais e as suas descargas diárias e ao longo de muitos anos por falta de capacidade das centrais, com os maus cheiros ou a falta de limpeza de algumas zonas, com a má qualidade do ar ou com a falta de exigência e descontrolo das emissões de gases por autocarros, carros velhos e super poluentes e camiões de obras (que continuam a circular a toda a hora pelas principais avenidas do COTAI, sem que as contornem pelas vias laterais, como se aquelas fossem verdadeiros e próprios caminhos de estaleiros).
Depois da casa roubada é que se colocam as trancas à porta. Anda-se sempre a correr atrás do prejuízo. E dá-se cabo da saúde – e da paciência – dos sãos porque não se sabe cuidar destes e tratar do que está doente a tempo e horas e sem vacilar. Um drama permanente de um filme há muito visto na RAEM.