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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: daqui)
Quem acompanha aquilo que vou rabiscando e escrevendo por aí, incluindo neste blogue, sabe que que sou convictamente republicano e considero que a república é a forma de governo mais consentânea com os valores que defendo para mim e para os meus.
Dito isto, é-me fácil reconhecer onde estão esses valores, sendo certo que muitos são partilhados com a monarquia, e não sendo a virtude, a honra, a prossecução do bem comum, a defesa do interesse pública, da história ou de seculares tradições exclusivo de uma ou outra forma de governo.
Em rigor, não é por serem republicanos ou monárquicos que os homens e as mulheres de bem se distinguem; antes pela sua praxis, pelo modo como conciliam as suas convicções com a sua acção, a teoria com a prática, aquilo em que acreditam e os valores que defendem com o exercício quotidiano da vida em sociedade, o interior com o exterior, dentro e fora de casa, à luz do dia e na escuridão.
E como em tudo na vida há bons e maus regimes, boas e más acções, gestos que dignificam e enobrecem e atitudes e comportamentos desprezíveis.
Impõe-se por tudo isso, e porque também há décadas procuro estar sempre em sossego com a minha consciência, gozando o sono dos justos, dizer uma palavra sublinhando, na linha do que havia sido feito pela sua falecida mãe, a atitude de Carlos III e da Coroa britânica em relação ao que é publicamente conhecido das relações de André (Andrew) Mountbatten-Windsor com Jeffrey Epstein e seus amigos.
Ao contrário do que se tem visto do outro lado do Atlântico, de onde só chegam péssimos exemplos, não houve equívocos nem hesitações, muito menos protecção do poder a quem, ainda que invocando a respectiva inocência, não terá estado à altura dos seus direitos e das suas obrigações. Não se arranjaram desculpas, não foi preciso um clamor público, nem manifestações de rua. O que já se sabia, aliado às memórias póstumas de Virginia Giuffre, retiraram qualquer margem de manobra à Coroa. E na hora de decidir impuseram-se a dignidade e o dever. Sem alarido, sem dramas, sem teatro.
Muito haverá a criticar, certamente, sobre a acção ou os privilégios dos monarcas numa democracia, em especial em relação à de Westminster, mas é dali, e de um outro farol cada vez mais trémulo, que contra o temporal de insânia e os ventos que sopram de diversos quadrantes que ainda nos chega a luz do exemplo. Exemplo para outras monarquias, mas também para democracias consolidadas e autocracias, sejam estas de direita, de esquerda ou de raiz teológica.
O que aconteceu no Reino Unido não será muito diferente do que fez Filipe VI em relação ao seu pai e à defesa da Coroa espanhola. E que também aqui mereceu na altura o destaque merecido.
E se é verdade, o que acredito, que a nobreza não está no sangue, como bem se vê comparando irmãos, sejam Carlos e André ou William e Harry, mas antes na elevação do gesto, no rigor do comportamento, pois que é daí que vem o exemplo, a dignidade e a autoridade moral de uma elite, de quem governa, de quem nos representa, na república ou na democracia, neste momento impõe-se dizer que a Carlos III "honor is due".
A cada um o que é devido. O resto será com os historiadores.