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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: Carlos Carneiro/Arquivo, JN)
Durante anos vimo-lo a comentar tonitruante, no seu estilo justiceiro, a falta de transparência e os conflitos de interesses de muitos políticos. Por vezes com razão, de outras nem tanto; não raro imputando factos e fazendo afirmações sem qualquer suporte, baseadas em meras convicções, suposições, rumores e falsidades.
Ainda todos devem estar recordados do que ele disse e apontou a Adolfo Mesquita Nunes, ao tempo dirigente do CDS-PP, dizendo que este prestava assessoria jurídica directa a empresas, obrigando-o a vir defender o seu bom nome e a sua honra.
Paulo Morais também concorreu a umas eleições presidenciais, ficando o resultado muito aquém das suas expectativas. E nesse seu combate, a dada altura, integrou a lista do partido político Nós, Cidadãos. Dizia o sujeito que era seu "entendimento que os partidos do sistema - do bloco total de interesses que se expressam no Parlamento, o PS, o PSD, O CDS, o Bloco e o PCP - já mostraram que não sabem dar conta do recado. É necessário que os cidadãos tenham uma alternativa sem terem de recorrer nem à extrema-esquerda, nem à extrema-direita. Os cidadãos sabem que têm aqui uma alternativa ao centro do espectro político e não estão a correr atrás de extremismos".
Todos os outros eram maus. Aquele é que era bom.
Depois, ainda apontou conflitos de interesses a deputados do PS, do PSD e do Chega e enviou uma carta a Ferro Rodrigues, ao tempo presidente da Assembleia da República. A Comissão da Transparência e Estatuto dos Deputados respondeu dizendo que todas a denúncias e alegadas incompatibilidades constantes da missiva que assinou estavam "devidamente registadas", haviam sido objecto de escrutínio pelo parlamento e não eram incompatíveis nem constituíam impedimento para quem não exercia o mandato em regime de exclusividade.
Pelo caminho acusou o Presidente da República de corrupção, e em Junho do ano passado, criticou a agenda anti-corrupção de Montenegro e as medidas da ministra da Justiça, continuando essa crítica em Dezembro, atacando Rita Júdice e escrevendo que "a corrupção em Portugal está em roda livre". A propósito da Lei dos Solos, já este ano, escrevia no Correio da Manhã que "vai ser um fartar, vilanagem".
Mas esses foram outros tempos.
Não vê qualquer conflito de interesses nem problema na situação do primeiro-ministro, não comenta a aquisição de imóveis no mínimo em circunstâncias estranhas, omitindo informação relevante, nem o facto daquele praticar um acto nulo de cessão de quota para disfarçar a sua posição societária, continuando essa sociedade, da qual, em rigor, nunca se afastou, a receber por interpostas pessoas, seus familiares, avenças da Solverde Casinos e de outras entidades por si angariadas, enfim, suportando as suas posições e criticando veementemente os partidos da oposição.
Só faltou dizer, com tanta transparência, que Paulo Morais se rendeu aos encantos de uma candidatura autárquica e que é o candidato escolhido pelo PSD, um dos tais partidos do sistema, do "bloco total de interesses", liderado por Luís Montenegro, à Câmara Municipal de Viana do Castelo.
O cheiro a mel e a proximidade do pote são infalíveis. Vale tudo.
Agora fui eu quem foi ao tapete. "Fiquei estarrecido" com este bípede.