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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: Ponto Final)
De repente, parece que tudo começou a mudar. Milagre, dir-se-á.
Nos últimos anos, em múltiplas ocasiões, chamei aqui e noutros locais a vossa atenção, inclusivamente com publicação de fotografias, para a proliferação de roedores e a falta de limpeza da cidade, notando a desatenção do IAM e dos seus responsáveis para com a situação.
Aparentemente estava tudo em boa e devida ordem, de tal forma que o ex-presidente daquela instituição até tinha tempo para se dedicar aos assuntos eleitorais, e outros prestaram tão bons serviços que foram recompensados com promoções.
Digo aparentemente porque desde há dias surgiu na comunicação social um conjunto de situações que não são novas, não correspondem a novos problemas e que saltaram para as primeiras páginas das notícias. Porquê só nesta altura?
O problema dos ratos tem vindo a agravar-se. O IAM nunca lhe deu a devida atenção, pois que de outra forma não se teria chegado à presente situação. O encerramento de três estabelecimentos de uma cadeia de supermercados em Macau, na Taipa e em Coloane, para além de um restaurante na Rua de Entre-Campos, mostram que não se trata de um problema pontual e localizado.
Os ratos estão espalhados por toda a cidade e ilhas. Do Porto Interior a Coloane, passando por edifícios residenciais e nas imediações de hotéis e restaurantes. Já perdi a conta às vezes que referi esses casos e a quantidade de ratos que vi circularem livremente às mais variadas horas do dia, até em dia de Grande Prémio, passeando-se ao sol nas imediações do Sands e por todo o NAPE.
Em Maio de 2022, neste mesmo blogue, escrevi o seguinte:
"Muitas vezes me tenho insurgido contra a falta de higiene urbana da cidade onde vivo, chamando inclusivamente a atenção para a quantidade de roedores à solta pela RAEM, da cidade velha ao NAPE, da zona dos lagos Nam Van ao Lilau e a Coloane.
Para o IAM, que se limita a distribuir ratoeiras pela cidade, de onde os ratos entram e saem alegremente, e que deixa os contentores de recolha de lixo abertos, de onde muitas vezes sai um cheiro nauseabundo e escorrem líquidos pestilentos para os passeios, como aqui ao meu lado no NAPE, parece que tudo isto é normal.
Com tantos alertas, e com o tifo entre nós, alguém deverá começar a tomar medidas a sério e avisar o impante líder (pode ser que ele se chegue à janela) de que está na hora dos seus serviços fazerem alguma coisa em matéria de higiene urbana."
É claro que nada aconteceu, continuou tudo bem e os ratos foram-se multiplicando. No final, o Secretário para a Administração e Justiça até louvou o ex-Presidente do IAM. Sobre a imundície urbana que permanece, espelhada na proliferação da rataria, não houve uma palavra.
E como se não bastasse andar a rataria a banquetear-se nos supermercados, mudou o Chefe do Executivo e logo se descobriu que o crédito mal parado atingiu o valor mais alto dos últimos 20 anos, que a "ligação errada de esgotos e tubagens de escoamento de águas residuais está a gerar mau cheiro na Areia Preta", que "há lacunas no cuidado prestado a doentes com cancro e a sobreviventes da doença em Macau", que os casos de gastroenterite não param de surgir e de aumentar, tal como os de salmonella, sendo que muitos destes aconteceram a partir de Agosto pp., afectando creches e outros estabelecimentos de ensino.
Estes são problemas que incomodam todos os residentes, que dão péssima imagem da RAEM, e que não podem continuar a ser sistematicamente desvalorizados e ignorados por quem manda. Porque se não o fossem não seriam tão recorrentes apesar de ser cada vez maior o número de louvores.
Não há desculpa para a má gestão, para a falta de higiene urbana, para o funcionamento deficiente das redes de esgotos e de tratamentos de águas residuais, para tantos casos de gastroenterites, em especial afectando crianças, quando recursos não faltam e muitos foram generosamente pagos para resolverem esses problemas, embora pouco ou nada tivessem feito.
E é bom que não se perca tempo e que se responsabilize rapidamente quem tem de ser responsabilizado.