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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos daqui)
Está a começar um novo ano. Macau tem um Chefe do Executivo e um novo Governo que foi empossado há dias pelo Presidente Xi. Muitos dos que residem na RAEM lutam diariamente por contribuir para a melhoria das suas condições de vida e darem o seu contributo à região.
Todos sabemos qual o peso dos lobbies e dos grupos de interesses nesta cidade, mas é preciso que cada um de nós contribua, de algum modo, para que as coisas melhorem.
Entendi, por isso mesmo, iniciar aqui, regularmente, uma coluna de ideias exequíveis para que o Governo da RAEM possa constituir um exemplo de verdadeira e efectiva boa governação.
A primeiro sugestão que aqui trago vem do Luxemburgo. País pequeno, menos populoso que Macau, constituindo uma democracia parlamentar numa monarquia constitucional, no coração da Europa, onde vivem dezenas de milhares de portugueses.
Pois bem, o Luxemburgo tem apenas um único casino autorizado a funcionar, o Casino 2000, em Mondorf-les-Bains. Em 2023, as receitas do jogo no Luxemburgo ascenderam a pouco mais de 24,2 milhões de Euros, que equivalem, grosso modo, ao câmbio do dia, a pouco mais de MOP$200 milhões de patacas. Um número rídiculo para Macau.
O que há aqui de especial é que nesse pequeno país, de pouco mais de 500 mil habitantes, todos os transportes públicos, sim, leram bem, todos os transportes públicos (autocarros, metro ligeiro e comboios) são inteiramente gratuitos tanto para residentes como para turistas.
Em 6 de Dezembro de 2018, o jornal New York Times anunciou a intenção do Governo luxemburguês, pela voz do primeiro-ministro Xavier Bettel, de ser o primeiro país a oferecer transportes públicos gratuitos face ao número crescente de automóveis privados em circulação (662 por cada 1000 habitantes).
Dois anos depois, em 29 de Fevereiro de 2020, quando a pandemia do Covid-19 se instalou em todo o mundo, o Luxemburgo concretizou esse objectivo e desde então todos os transportes públicos são gratuitos.
Em Belgrado, na Sérvia, solução idêntica entrou ontem, 1 de Janeiro de 2025, em vigor. Em Canberra, na Austrália, está-se a pensar no assunto.
Ora, se o Luxemburgo, sozinho, conseguiu fazê-lo, por que razão a RAEM, que ainda por cima conta com o apoio do Governo Central, não pode seguir o mesmo caminho?
Há quem em Macau se preocupe com a construção e gestão de cidades inteligentes e amigas do ambiente e pode-se sempre aprender alguma coisa com a experiência luxemburguesa.
Há cada vez mais carros a circular em Macau. Muitos chegam de fora, com condutores que não sabem conduzir e que se limitam a deslocar os veículos de um ponto para outro sem cuidarem das regras estradais vigentes na RAEM. O número de acidentes continua a crescer; o de vítimas também, que pode ser qualquer um de nós, como ainda há dias se viu com uma alta funcionária do Governo, pessoa estimada e, ao que me dizem, servidora pública exemplar.
O que pergunto é se não será possível, com as verbas astronómicas que os casinos pagam à RAEM, encontrar para Macau uma solução semelhante à do Luxemburgo e de Belgrado?
Não seria possível ao Governo de Macau arranjar vontade política e mandar alguém ao Luxemburgo para lhes perguntar como é que por lá fizeram, quanto custou e como conseguem manter esse sistema que não discrimina residentes de não-residentes e turistas?
Talvez – já que nem um serviço de táxis decente para toda a população e os turistas os dois últimos Chefes do Executivo conseguiram concretizar em 15 anos! – o novo Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, e a sua equipa possam pensar neste assunto.
Estou certo de que se solução idêntica à do Luxemburgo fosse transportada para Macau ficaríamos todos a ganhar, aliviando a cidade de muitos veículos, dando menos trabalho aos senhores polícias, e, em especial, contribuindo para reduzir os elevadíssimos níveis de poluição atmosférica da RAEM, cuja qualidade do ar nos últimos dias, desconheço se em razão da saída de Raymond Tam da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, passou a ser sistematicamente insalubre, de acordo com a classificação adoptada pelas próprias autoridades locais, não sendo recomendadas actividades ao ar livre.
Não há que ter medo de fazer de Macau uma cidade melhor para viver. Fundamental, como diz um amigo, é acabar com a "bandidagem".