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tragédia

por Sérgio de Almeida Correia, em 06.11.24

El rey manchado de barro(créditos: BBC News/Getty Images)

A tragédia de Valência, porque é disso mesmo que se trata, fez-me recordar o que aconteceu em Macau, em 2017, com o tufão Hato. Não pela dimensão dos estragos e o número das vítimas, que então foram infinitamente menores, mas pela forma displicente como se trata da prevenção de catástrofes, em particular perante circunstâncias meteorológicas vincadamente adversas, e a falta de responsabilização política.

Para lá da luta política e da governação de trincheira, cada vez mais popular entre os radicais à direita e à esquerda, há um mínimo, ou devia haver, de bom senso, sentido de equilíbrio e responsabilidade que conviria que estivesse presente em cada decisão.

Em locais onde é cada vez mais inexistente a responsabilização política dos dirigentes, o que bem se compreende porque a sua acção é avalizada nas sombrias, resguardadas e estreitas veredas das práticas e da tradição inerente ao “centralismo democrático”, quando a coisa aquece fazem-se umas declarações compungidas, distribuem-se uns rebuçados e promete-se melhorar. De caminho arranja-se um bode expiatório. Pode ser o homem da meteorologia ou outro que esteja à mão e se possa deixar cair em desgraça, atirando-o para a praça pública.

Nos regimes democráticos, a democracia pode “não funcionar bem”, mas normalmente existe um Estado de direito, há escrutínio da acção dos governantes por parte da imprensa e da opinião pública em geral, há acesso à informação, há transparência, há crítica livre e descomprometida (também há da outra, da encomendada e comprometida, que em regra é rapidamente denunciada) e presunção da inocência, as coisas não se passam bem assim.

Da mesma forma que existem negacionistas da Covid-19, temos quem pense de igual modo sobre as alterações climáticas, a poluição e o aquecimento dos oceanos ou a propósito do buraco da camada de ozono. E que continua a considerar que esses problemas não passam de propaganda da "esquerdalhada" e de uns activistas loucos. Alguns, é verdade, são completamente chalupas e ignorantes, estando no patamar inverso ao dos negacionistas, prejudicando de igual modo a consciencialização das pessoas, o progresso da ciência e causando mais danos à sua causa do que bem.

Como recorda o jornal digital elDiario.es, o Governo de Carlos Mázon Guixot, o presidente da Comunidad Valenciana desde Julho de 2023 e líder do Partido Popular local desde 2021, assim que ganhou as eleições, e numa das suas primeiras decisões, resolveu acabar com um organismo que havia sido criado exactamente para a prevenção e controlo de catástrofes, e entregou a gestão das situações de emergência ao seu parceiro de coligação, o Vox, um partido negacionista climático, pelo que em escassos quatro meses desmantelou a Unidad Valenciana de Emergencias cuja missão era “garantizar la rápida intervención en cualquier lugar del territorio en caso de emergencias de origen meteorológico o sísmico, extinción de incendios forestales y maremotos.

Depois, quando a depressão Dana se prenunciava, Mázon negou a gravidade da situação, disse às pessoas que o temporal se deslocava para Cuenca e que se previa uma diminuição da intensidade do temporal. E de tal forma o fez que publicou um tweet na rede social de um catavento oportunista apoiante de Donald Trump para que toda a gente o soubesse, no mesmo dia em que se preocupava com os touros. Era difícil ser mais imbecil.

E após a destruição provocada pela intempérie, o mesmo Mázon ainda rejeitou a ajuda de outras regiões, do governo central do socialista Pedro Sanchez e dos militares.

Perante a dimensão do que aconteceu, com cerca de 1900 pessoas desaparecidas, o presidente da Comunidad Valenciana acabou apagando o tweet que publicara.

As medidas anunciadas pelo Governo espanhol são neste momento apoiadas por todos os partidos, incluindo o Partido Popular de Mázon, menos pelo Vox.

O discurso e a prática política de muitos dirigentes políticos na Europa e no mundo, incluindo em Portugal, não se distinguem dos de Mázon.

A reacção de toda aquela gente ao que aconteceu, à chegada dos Reis e do Presidente do Conselho, é mais do que compreensível. A ajuda de vizinhos e de outros que chegaram das mais variadas regiões também não passou despercebida. Ainda assim não faltou o aproveitamento político da desgraça.

As imagens que todos vimos, espelhando a brutalidade da destruição e a angústia de toda aquela gente que perdeu familiares e haveres de um momento para o outro, para além da dor que não deixa nenhum ser senciente na indiferença, e da solidariedade que imediatamente reclama, não pode deixar de nos obrigar a reflectir sobre o que aconteceu.

Este mundo começa a ser demasiado pequeno para tanta estupidez. Daria jeito exportá-la para outra galáxia.

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por Sérgio de Almeida Correia, em 06.11.24

skysports-ruben-amorim-sporting_6740065.jpg(créditos: Sky Sport News)

Sei que não é habitual ver nestas páginas elogios aos treinadores e às equipas que discutem campeonatos e títulos com o Sport Lisboa e Benfica.

Também é verdade que ver equipas portuguesas, treinadas por um português, jovem e talentoso, a golearem o tetracampeão campeão inglês não costuma fazer parte do cardápio de quem segue a Liga dos Campeões.

Mas mal ficaria a quem dá tanto valor ao mérito que, tomado por uma qualquer clubite aguda, não reconhecesse valor, profissionalismo e classe onde eles estão. E é indiscutível que o Sporting Clube de Portugal deu ontem uma alegria aos seus adeptos e a todos os que gostam de futebol, merecendo por isso os parabéns. Para o Manchester City, como se escreve no site do clube, foi mais uma noite de desapontamento. A Sky Sports viu-a como a "stunning win".

Para além dos pontos que a todos os outros clubes portugueses dão jeito no ranking da UEFA, Rúben Amorim despede-se de Alvalade em grande, deixando muita gente feliz. Antes assim.

Nunca um benfiquista terá dado tantas alegrias ao SCP e à sua massa associativa. Até na hora da despedida.

Quero por isso desejar ao Rúben Amorim, um grande benfiquista e profissional de futebol, que seja capaz de fazer na sua nova casa de Old Traffford o mesmo que fez em Lisboa no clube de que se despede, deixando o seu perfume de bom futebol, educação e dignidade dentro e fora do campo. Disso beneficiaram todos: os adeptos leoninos e o futebol em geral. 

Pode ser que os arruaceiros e os cafres que ainda temos pelas bancadas lusíadas, a dirigir alguns clubes de futebol e a gesticular em São Bento, aprendam alguma coisa que contribua para a mudança dos persistentes maus hábitos futebolísticos e políticos.

E queiram seguir o exemplo de quem teve, e se espera que continue a ter, fora de portas, sucesso no "chuto-na-bola" com elevação.

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