Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um estudo da Fundação Belmiro de Azevedo alerta para a escassez de professores em Portugal, prevendo um deterioramento da situação entre 2026 e 2030.
O cenário agrava-se, sublinha-o David Justino, antigo ministro da Educação e membro do Conselho Consultivo do Edulog, um think thank da referida fundação, quando se verifica que para formar um professor são precisos cinco anos.
Defende, por essa razão, a introdução imediata de medidas estruturais que possam atalhar ao problema, considerando ser fundamental haver capacidade de "planeamento e antevisão", coisa que tem escasseado de há alguns anos a esta parte.
Com o seu conhecimento e experiência, David Justino acrescentou que é preciso valorizar as carreiras e a componente remuneratória e que "toda a gente pensa nos custos, mas ninguém pensou que os professores não são um recurso ilimitado". E exactamente por serem um recurso limitado é que "o problema não se resolve apenas com a componente remuneratória", o que toda a gente, a começar pelos próprios professores, incluindo o camarada Mário Nogueira que anda há décadas afastado do campo de batalha, percebeu há um ror de anos.
David Justino, para que dúvidas não ficassem, permitiu-se acrescentar que “foi criada a péssima imagem de que todos podem ser professores, o que desvaloriza a própria carreira”.
Olhando agora para nós, que estamos longe da pátria, e para o panorama da Escola Portuguesa de Macau (EPM), dir-se-ia que David Justino estava a pensar nesta, no seu director, no presidente da Fundação que a (des)ampara e nalguns dos novos contratados.
À beira de Novembro, com a silly season macaense a entrar pelo Outono, multiplicadas as confusões e as decisões tonitruantes, rapidamente substituídas por saídas mansas e silenciosas quando se percebeu que os gatos estavam identificados e tinham todos a cauda de fora, verifica-se que na EPM não faltou conversa fiada. Onde houve discursata faltou capacidade de planeamento e antevisão. O essencial. Porque o importante era desmantelar a equipa existente, em vez de reforçá-la, e trazer a trupe que jogava junta numa equipa que se desconjuntou por diversos continentes.
Também aqui se falou muito nos custos, mas aqueles crânios não pensaram que os professores, como disse Justino, eram um recurso limitado. E, às vezes, há poupanças de tostões que acabam custando milhões porque nem todos podem ser professores. Ou treinadores. Olhem para o Erik ten Haag. Não há milhões que o salvem, embora ele esteja convencido de que percebe alguma coisa de futebol.
A prova é que ao fim de mais de uma dezena e meia de novas contratações, depois de afastados professores que deram provas e estavam qualificados para a função, repescaram-se alguns, porque a isso se obrigou, mexendo-se nas horas de descanso e de treino, e nas extraordinárias, jogando-se depois com estas noutros lados. E chegamos a esta altura do ano lectivo, ao que me dizem, ainda com alunos sem algumas aulas, com falta de professores e professores experientes que podiam ter mais trabalho ao lado de outros que estão a fazer aquilo para que não foram fadados.
Como se não bastasse terem ido buscar uma turista reformada, que generosamente se prestou a dar uma mão ao "caos" enquanto por cá estivesse, ainda me chegou notícia de um "escuteiro" sem formação pedagógica, nem experiência lectiva, talvez porque o trabalho na sua área técnica esteja difícil, ter sido investido no ensino de disciplinas que nada têm a ver com a sua vocação profissional nos últimos anos.
E dá-se ainda o caso de entre alguns dos novos professores haver estranhas afinidades geográficas, ficando-se com a ideia de que esse foi igualmente critério para o recrutamento. Diria mesmo que foi talvez o único em que houve planificação a sério entre o director da equipa da EPM, os seus "assessores" e os "olheiros".
Sobre estas contratações não espero, até porque não sei se o empresário Jorge Mendes não terá um dedo nisto, ouvir a associação representativa dos pais e encarregados de educação. As mudanças de temperatura nesta época do ano provocam dores de garganta e afonias.
Consta, vox populi, que algumas dessas contratações foram a termo certo. Outras que estavam consolidadas passaram a prazo; tudo opções que todos sabem não servirem para dar grande segurança, como diria o Gabriel Alves, nem no miolo do terreno, nem nos corredores, por onde as grandes equipas ganham os jogos.
Em qualquer equipa de futebol, de bom futebol, não de futebol de praia, é preciso que haja alguém que pense o jogo e seja capaz de chegar ao "último terço do terreno". Não ao da transição, como o outro, o dos contentores da Quinta Patiño. É preciso marcar golos para vencer os jogos. Na EPM, nesta altura do campeonato, joga-se para o empate. Ou para perder por poucos.
Pode ser, ainda tenho esperança, que o Jorge Mendes, antes do fecho do mercado de Inverno, recomende mais uns craques a preço de saldo à direcção da EPM.
Entretanto, não estranharia que de Lisboa, passada a fase da troca de galhardetes que antecede a aprovação do Orçamento de Estado, não viesse por aí um treinador a sério, um Justino qualquer, mais a sua equipa técnica, que metesse ordem na equipa e no seu jogo. E os fizesse sentar no banco.
Não aos alunos. Estes já lá estão, mais os reforços, cansados de esperar. Aos outros.
Aos que deambulam pelo campo desaustinados, que não apanham uma bola, que não constroem uma jogada segura. E, armados em craques, ainda querem os aplausos da bancada, os microfones e as câmaras na zona mista.
E isto, repare-se, ao mesmo tempo que o presidente do clube e o "mister", com o banco de suplentes à cunha, correm pela linha lateral, à beira do intervalo, para cima e para baixo, à procura de um defesa central para a baliza. Coisa nunca vista em equipas profissionais que ocupavam no início da época os primeiros lugares dos rankings.
Seria bom que alguém respeitado e com autoridade fizesse a equipa acalmar. E que dissesse à equipa técnica que chega de asneirar.
O tempo passa a correr. Para os alunos que jogam na EPM corre ainda mais depressa.
Era importante que a planificação da próxima época, já que a presente foi um desastre, estivesse concluída antes do Outono de 2025.
Alguém tem de controlar as novas contratações e avaliar os custos envolvidos. Actuais e futuros. E, se necessário, dar uma "chicotada psicológica" na equipa técnica. Para ver se ainda se salva uma parte da época.
Não será fácil, bem sei; que aquilo não se resolve com cartões amarelos e livres directos.
Mas ainda não perdi a esperança de chegar aos desfiles do Carnaval com a equipa da EPM fora da zona de descida.
E com as matrafonas todas no banho. De espuma.
Senhor de uma fortuna digna de um oligarca, apoiante da invasão da Crimeia em 2014, militante da “solução ucraniana”, como antes fora da intervenção russa na Abecásia, na Ossétia do Sul e na Síria, deixou de poder dirigir as grandes orquestras a que em tempos emprestou o seu brilho em Londres, Nova Iorque, Milão, Berlim, Amesterdão, Roterdão, Viena ou Munique. Foi banido no Ocidente, como outros foram na Rússia.
Não fosse isso e jamais o teríamos visto por estas bandas.
Dentro daquela sala importava esquecer as circunstâncias que o trouxeram a Macau e curar, simplesmente, de tirar partido da música. Foi o que fiz.
Tudo começou com uma breve incursão a Prokofiev e a excertos da Suíte Romeu e Julieta op. 64, espécie de aperitivo para preparar os ouvidos e os olhos para o banquete que se seguiria.
Quando Shostakovich se apresentou com a sua Sinfonia n.º 6 em Si Menor, op. 54, todos tínhamos percebido que aquela não iria ser mais uma noite como as outras.
A minúscula batuta na mão direita, marcando o tempo, enquanto a esquerda imparável, com dedos bailando acima e abaixo, ante o olhar compenetrado dos músicos e o crescente arrebatamento da audiência, percorria as várias secções e dirigia o seu pequeno exército.
O clímax chegaria com uma execução magistral da Sinfonia n.º 5 em Mi Menor op. 64 de Tchaikovsky.
Musicalmente seria impensável, a ele, Gergiev, e aos seus músicos, a Mariinsky Orchestra, regatear aplausos.
Politicamente é outra coisa. As posições que foi assumindo ao longo dos anos, até o tornarem num símbolo do mais execrável putinismo, do qual nunca se quis distanciar, a muitos suscitam viva repulsa. A mim também.
Impunha-se um esforço de abstracção. A "música não é mais apolitica sob Putin do que era sob Hitler". E no caso de Gergiev nunca seria.
Se valeu a pena, pergunta-se agora? Bem, mentiria se dissesse o contrário. Bastaria ver no final a satisfação no rosto da segunda violinista, a coreana Alexandra Lee, para perceber o nível da execução. E o encantamento do público que por três vezes chamou o maestro.
O que, em todo o caso, não invalida a conclusão. E um certo desconforto pessoal.
E não nos permite esquecer que há princípios e valores que têm de estar sempre presentes, mesmo quando o génio se manifesta de forma tão exuberante e sublime.
As guerras são uma desgraça. Perdem todos. Que ninguém duvide.