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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Quando a perspectiva da aproximação de um super tufão começa a tomar forma, há muito pouca coisa que se possa fazer. Arrumar os tarecos no escritório e em casa, procurar proteger o que puder ser protegido, minorar eventuais danos.
Faço-o sempre contrariado, por descargo de consciência, porque sei que quando uma besta como o Saola começa a assobiar e resolve entrar-nos em casa ou no escritório não há nada a fazer. As precauções que se tomam parecem-me sempre insuficientes e risíveis perante a imensidão do vidro e a exposição em que estamos nos pisos mais elevados. A histeria é geral. Mas se isso conforta alguém, então que se faça.
Depois é esperar. Pegar num bom livro, levantar os olhos, por vezes, e esperar. Esperar. Esperar muito perante segundos e minutos que tardam em passar. Os que sabem rezar podem sempre fazer as suas orações, que talvez isso os alivie.
Eu, que há muito deixei de fazê-las, e na verdade já me esqueci de como se deve rezar, pelos menos desde que há décadas passei a dialogar com Ele de vez em quando, sem cerimónias nem mediações beatas, falando de homem para homem, tão depressa discorrendo como olhando para a linha do horizonte, até onde a vista alcança, sempre na esperança de que o estafermo não chegue, que perca o táxi ou que se desvie antes do próximo cruzamento, na ânsia de ver surgir uma nesga de céu mais clara e menos ventosa que nos permita regressar à normalidade pluviosa, vivo momentos de grande quietude, uma imensa harmonia interior.
Perante a força da Natureza, para quem cá está, à sua espera, o único conforto é mesmo saber que a mais de 200 Km/hora tudo é passageiro, efémero, e que no final virá a paz.