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veículos

por Sérgio de Almeida Correia, em 18.07.23

1920.jpeg(imagem daqui

Notícia publicada na edição de hoje do matutino Ponto Final dá conta do embate de um autocarro de turismo na conhecida Casa do Mandarim, pérola do património que faz parte do Centro Histórico de Macau, constitui Património Mundial da China e desde 2005 está integrada na Lista do Património Mundial.

Muitos pensarão, e perguntarão, como é possível que um autocarro de turismo, dois anos depois do mesmo ter acontecido com uma betoneira naquele local, embata e danifique as paredes da Casa do Mandarim, sem que nada tenha sido entretanto feito para evitá-lo.

Numa cidade que tem ruas, avenidas, jardins pejados de pilaretes, barreiras metálicas e correntes ao longo dos seus passeios (também barreiras plásticas eternas na Avenida da Amizade), obstáculos que crescem e se multiplicam nos lugares mais incríveis e sem qualquer explicação razoável –  dando dinheiro a ganhar a uns quantos sem concursos adequados, como acontece em muito do que IAM faz com o alto patrocínio de quem o tutela –, e pejada de câmaras de televisão, dir-se-ia impossível que em circunstâncias normais, isto é, não estando o motorista sob o efeito de drogas, isso acontecesse. 

Porém, como se lê na notícia, a PSP diz que o motorista teve um primeiro um acidente na Calçada da Paz, ao virar para a Rua do Padre António, onde colidiu com dois edifícios residenciais, para logo a seguir bater num dos muros da Casa do Mandarim, "provocando-lhe danos". 

Temos há vários anos um responsável pelas estradas, transportes e obras públicas, que não é nenhum novato no ofício. Foi responsável antes e depois. Conhece os problemas da cidade, mas, aparentemente, digo eu, não consegue resolvê-los, seja por falta de colaboradores à altura (alguns já julgados como corruptos), por cumprir ordens superiores, ou por simples cansaço ou desinteresse.

Porém, qualquer residente se apercebe do caos que reina nas estradas de Macau, da Taipa e de Coloane. São autocarros a circular em quantidades industriais. De "turismo", se quiserem, outros ao serviço dos casinos ou das velhas concessionárias de transportes públicos, na sua maioria velhos, poluentes e circulando pela direita (também já carros oficiais e da própria PSP, às vezes também sem luzes porque se devem esquecer que têm faróis), como se fosse esta a regra em Macau onde os passeios para peões e as paragens de autocarros se situam em geral do lado esquerdo das vias de circulação. Não respeitam nada nem ninguém, circulam pelo exterior nas rotundas dando voltas completas, passando vários acessos, onde vão parando a seu belo-prazer e sem qualquer sinalização, violando regras estradais básicas para facilitarem a entrada de veículos pesados, com o que colocam em risco a segurança de quem circula nessas mesmas rotundas.

Mas há também betoneiras e camiões de caixa aberta que circulam a qualquer hora do dia pelas pontes e artérias principais da cidade, muitas vezes a velocidades excessivas, dando cabo dos pavimentos, mudando de direcção sem qualquer sinalização de aviso, a que se juntam os táxis e milhares de veículos que ao abrigo das novas regras de integração e vindos de outros lados do delta circulam como se fossem os donos da estrada, sem respeitarem ninguém e sem que haja alguém que, com excepção do controlo de velocidade e da autuação de ligeiros e motociclos em estacionamento indevido, mesmo que sem estorvar a circulação de outros veículos ou peões, se preocupe com alguma coisa.

Numa cidade em que se deviam retirar veículos de circulação, em especial pesados, até por razões ambientais atenta a cada vez mais crónica má qualidade do ar (a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental é como se não existisse tal a irrelevância da sua acção, é uma ficção, uma espécie de serviço-fantasma), vêem-se cada vez mais pesados a circular, largando nuvens de fumo negro, andando por locais que lhes deviam estar vedados, seja no Cotai ou na cidade, colocando em risco a segurança dos residentes, impedindo a fluidez do tráfego, danificando vias de circulação e património classificado, que é da China e também Mundial, em suma, agravando a qualidade de vida dos residentes que vão levando com o fumo dos escapes quando circulam pelas estradas e passeios.

Como se isto não bastasse, continuam a amontoar-se nos locais mais nobres da península, que deviam estar destinados a museus, passeios ribeirinhos, espaços verdes, diante de hotéis de 5 estrelas, como ali entre a Torre de Macau e o MGM Macau, parques improvisados de pesados, com os tais autocarros de "turismo" (lixo) e de transportes públicos a perder de vista. Locais que há muito deviam ter sido transformados em zonas de lazer e ao serviço dos residentes, que lhes permitisse o gozo do rio e das vistas. Qualquer hóspede, vindo de fora, que se abeire de uma janela de um daqueles hotéis ou que passe na Ponte Nobre de Carvalho deverá ficar sem perceber como é possível ter tantos autocarros (parados) na zoa ribeirinha, do mesmo modo que se vêem betoneiras e atrelados alegremente estacionados em múltiplos pontos da cidade e das ilhas sem que nada lhes aconteça, nem se seja capaz de arranjar uma solução que tire aqueles monos (particulares) das vias de circulação.  

Agora, para além dos milhares de tampas desniveladas, sejam de electricidade, de água, de esgotos ou de empresas de telecomunicações, até placas de metal, com uma altura suficiente para darem cabo dos pneus de qualquer veículo ligeiro que por ali passe a 50 km/hora (a alternativa é travar de repente e levar com quem vem atrás), estão colocadas no piso da Ponte de Sai Van, como se toda esta loucura em matéria de estradas, obras, insegurança rodoviária e circulação descontrolada de veículos fosse normal numa cidade com o PIB per capita de Macau, com a sua riqueza e uma dimensão minúscula.

Quem está habituado a andar de motorista, que não gasta dinheiro com o combustível nem com as revisões, desconhecendo o seu custo, não tem nada com que se preocupar. Para lá, naturalmente, dos solavancos quando é transportado e do tempo que perde a deslocar-se.

Essas pessoas também não sabem quantas acções estão a inundar os tribunais, com custos elevados e ocupando tempo precioso aos intervenientes processuais, em razão de acidentes que poderiam ser evitados sem o caos reinante.

Mas os outros, os que não podem escapar à falta de transportes públicos – é vê-los apinhados, e os utentes em hordas à espera nas paragens, inclusive ao Domingo, no Cotai e em Coloane quando os trabalhadores saem das fábricas ou das obras), e são obrigados a utilizar motociclos e ligeiros utilitários, para se poderem deslocar e às respectivas famílias, em tempo razoável e com um mínimo de conforto, sabem quanto é penosa a circulação e elevados são os custos. Dos abastecimentos às oficinas, sem esquecer os seguros.

E sabem, igualmente, como se têm agravado ao longo dos anos os custos do caos, das obras públicas, da especulação, da falta de controlo dos preços e da governação verborreica.

Ainda que quem veja os noticiários do canal público de televisão, e os despachos de algumas agências de notícias, possa ficar convencido de que tudo não passa de uma alucinação, tantas e tão constantes são nos últimos tempos as boas notícias e os motivos de satisfação.

Nada, sejamos justos, que nos impeça de observar e aplaudir outros sucessos. Os que não se vêem e não chegam às notícias. Como o facto da Casa do Mandarim ainda não ser um condomínio ou não ter havido nenhum camião a entrar por ali adentro.

Os danos na Casa do Mandarim, sendo esta património classificado, são apenas mais um dano colateral provocado pelo excesso trabalho de quem nos pastoreia. Que tenha acontecido duas vezes em dois anos, com um autocarro e uma betoneira, foi um azar. Como o tufão Hato.

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