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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
A história passou-se em Macau, no Supermercado New Yahoan, no sétimo piso do Centro Comercial onde aquele se integra, e é digna de ser contada porque reveladora do estado de insânia que ataca algumas entidades.
Entre a secção dos vinhos e bebidas espirituosas e a padaria, do lado oposto às caixas registadoras, existe um espaço denominado Cigar Club onde se vendem diversos produtos que vão de isqueiros, a cortadores e cinzeiros. Também se vendem charutos, como é normal numa qualquer casa de charutos por esse mundo fora.
Sucede que tendo pretendido verificar que charutos havia disponíveis, pedi, como sempre, que um dos funcionários daquela secção me franqueasse a entrada. Logo aí começou o drama porque nenhuma das pessoas que foi colocada ao serviço naquele local pela entidade patronal fala inglês, o que no mínimo é de estranhar num das poucas grandes superfícies comerciais (department store) da cidade, que ocupa um edifício inteiro bem no centro e numa zona de grande movimento de turistas e visitantes.
Finalmente, lá veio um empregado que me disse não ser mais possível aceder à sala de charutos. Agora teria de escolher o que queria de uma lista que me foi passada para as mãos, com tudo escrito em chinês e apenas com os logotipos de algumas marcas ao lado.
Ora, só com isso não se consegue comprar nada porque não se sabe qual o tipo de charuto, a bitola, o tamanho da embalagem, enfim, as características básicas do produto. Prova disso foi que tendo apontado para algo que se me afigurava ser a descrição e preço de um charuto me trazem uma caixa de cigarrilhas.
Pedi que me deixassem ver o que havia nos expositores, mas foi-me negado.
Por fim, insistindo e questionando, com o que o pessoal começa logo a ficar incomodado porque tem má preparação e não foi treinado para dar respostas, lá consegui que me abrissem a porta da divisão onde estão os expositores à temperatura e com a humidificação adequadas, sendo-me então dada a indicação de que poderia ver dali, da soleira da porta, mas não poderia entrar. Só poderia apontar o que queria à distância e, depois, o funcionário encarregar-se-ia de ir buscar e me trazer.
Acontece que as duas primeiras embalagens que pedi que me trouxessem tinham rótulos rasgados e charutos com bolor. Só à terceira embalagem é que verifiquei estarem em condições aceitáveis. Mas estes charutos também não constavam da lista em chinês que me fora facultada no início, pelo que se a porta não tivesse sido aberta também não saberia que existiam.
Não sei de quem foram as indicações para que as vendas de charutos se processassem desse modo, num estilo meio-clandestino típico dos antigos países comunistas e de alguns do chamado terceiro mundo, nem se estamos perante uma decisão da empresa ou se estão a cumprir ordens "discretas" do Governo para inviabilizarem a venda de charutos na cidade.
Também desconheço se isso se deve ao açambarcamento de caixas de charutos, como por várias vezes vi, por parte de visitantes que chegam do interior da China, mas aquilo que comigo aconteceu é absolutamente inaceitável em qualquer cidade de um país civilizado onde se vendam charutos. Aqui ao lado, em Hong Kong, isso não acontece, pelo que não percebo por que razão o proprietário do New Yaohan, que presumo que continue a ser a STDM, assim trata os residentes de Macau.
Se não querem que os visitantes do interior açambarquem é limitar-lhes as aquisições a uma ou duas embalagens por pessoa. Os residentes não têm que levar com a mesma bitola porque também não andam a açambarcar charutos, sabonetes, latas de leite em pó ou cremes para branquear a pele.
Depois do aumento de preço dos charutos, e estamos a falar de aumentos em alguns casos de cerca de 100%, chegou a fase de se tratar os residentes como montanheses. Há cá muitos que chegaram há pouco tempo e não se importam, só que nem todos têm de ser assim tratados.
Percebo que ao New Yaohan e aos seus donos só lhes interesse facturar, como é habitual com as empresas da gente da STDM e afins, mas há muitas maneiras de fazê-lo. E uma delas é prestando um bom serviço aos residentes, coisa que ali seguramente não acontece.
Já é tempo de alguns empresários mal habituados deixarem de olhar para os residentes como umas vacas que só servem para se espremer as tetas e alimentarem os seus lucros.