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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Seria importante perceber quais os critérios do Governo de Macau e dos Serviços de Saúde em matéria de controlo dos riscos epidémicos porque há cada vez mais gente que não consegue entender a razão para que sejam tomadas decisões díspares num curto espaço de tempo.
Em 30 de Outubro pp., detectada que foi a existência de um caso de Covid-19 numa trabalhadora de um casino e seus filhos, as autoridades determinaram de imediato o encerramento do casino, o sequestro dos hóspedes do hotel e frequentadores do casino durante vários dias no seu interior, o cancelamento do último dia da Festa da Lusofonia, bem como de diversas outras actividades desportivas e culturais, obrigando-se toda a gente na cidade a fazer testes durante vários dias.
Pouco mais de duas semanas volvidas, em plena semana de Grande Prémio e com um festival gastronómico a decorrer na cidade em barracas ao ar livre, em situações em tudo idênticas às verificadas na Festa da Lusofonia, mas com muito mais gente, e durante mais dias, há uma turista vinda do interior da China, em 14 de Novembro, que se hospeda no Hotel Harbourview e que quatro dias depois de se andar a passear pela cidade testa positivo. Uma outra pessoa, também vinda do outro lado, instalou-se no edifício "The Residencia Macau", na Areia Preta.
E que dizem os Serviços de Saúde? Que o risco para a comunidade é baixo, não se mostrando necessário realizar testes em massa, e podendo, naturalmente, o Grande Prémio e o Festival de Gastronomia, que trouxeram à cidade uns milhares de visitantes, prosseguir sem limitações, ainda que ninguém tivesse de apresentar testes de ácido nucleico negativos para se sentar nas bancadas ou conviver à volta de uns petiscos.
A mim não me pareceu mal que as actividades programadas continuassem a decorrer durante o passado fim-de-semana, uma vez que entendo que a situação devia ser gerida de outro modo e que Macau, não sendo propriamente uma aldeia nos confins do mundo entregue a um chefe tribal, já há muito devia ter regressado a uma vida normal.
Uma coisa é os visitantes de um conhecido restaurante da cidade não compreenderem a razão para deixarem de ter guardanapos decentes às refeições. Este é apenas um problema deles e de quem gere os custos insignificantes dos guardanapos, e que só tem repercussões no bem-estar dos comensais e na imagem e nível do estabelecimento. Um problema privado de caserna.
Outra coisa é todos os residentes perceberem quais são os critérios que guiam as autoridades sanitárias, para além obviamente dos políticos, para que em situações em tudo aparentemente idênticas haja diferentes decisões. Aqui, contrariamente ao exemplo anterior, os custos são elevadíssimos, dizem respeito a toda a população e têm graves consequências na saúde e bem-estar dos residentes e das empresas. Um sério problema público.
Não se percebem as exigências absurdas, e com custos elevados, para algumas situações que à partida não oferecem qualquer risco visível – outro caso de absoluta desproporcionalidade foram as limitações impostas à publicidade, aos advogados e ao exercício de direitos de defesa de arguidos num julgamento que está a decorrer invocando-se razões sanitárias –, e outras em que, pese embora estejam envolvidas milhares de pessoas que nem sequer residem em Macau, trazendo o vírus do exterior e circulando livremente pela cidade, se relaxem as medidas.
Todos nós percebemos que há cada vez mais discriminação em relação aos estrangeiros e não falantes de mandarim, embora também não compreendamos, mas ao menos que se conheçam, as razões em matéria de saúde.