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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Em Macau nunca houve qualquer problema em matéria de segurança, fosse antes ou depois da aprovação da Lei n.º 2/2009 (Lei Relativa à Segurança do Estado). Esta lei nunca foi aplicada.
Recentemente, algumas sumidades criaram a ideia da necessidade da sua revisão e alteração para fazer face a umas ameaças que nunca ninguém disse claramente quais eram. Mas ontem, na Assembleia Legislativa, de acordo com o relato da imprensa, o Chefe do Executivo disse que "[Em 2022] foi, de forma abrangente e eficaz, prevenida a interferência e a destruição de Macau por forças externas e elementos relacionados com o terrorismo".
Não sabemos que interferência e destruição seriam essas, que forças externas estariam tão interessadas em ocupar o Clube Militar, apropriarem-se do nosso minchi e da água do Lilau, em especial sabendo-se que devido às restrições pandémicas continuamos praticamente fechados ao exterior, o que, todavia, não invalida que fiquemos satisfeitos e sumamente agradecidos, enquanto residentes, por termos sido protegidos, por mim falo, dessas ameaças.
Em Hong Kong, onde não havia legislação que desse cumprimento ao artigo 23 da Lei Básica, Pequim encarregou-se de aprovar a legislação necessária, substituindo-se ao Legislative Council, e acabou com as manifestações, com os pró-democratas, correu com os arruaceiros, com os cortes de estrada, com o sistema eleitoral anti-patriótico e colocou travão à destruição de propriedade pública. Agora, felizmente, é só progresso e prosperidade.
Ontem, curiosamente, aqui na provincía ao lado de Macau e de Hong Kong, onde existe uma lei de segurança nacional em vigor há vários anos, onde o acesso à Internet é limitado, onde as redes sociais são censuradas, onde existe um sistema socialista, onde não há forças externas, onde impera a tolerância zero e a liberdade de imprensa é, diria, a suficiente para a prosperidade e felicidade do povo, ficámos a saber que os casos de Covid-19 continuam a ser aos milhares – quando se estão quase a perfazer 3 (três) anos sobre os primeiros registos do vírus – e que as pessoas violaram as regras do confinamento imposto pelas autoridades, foram para as ruas, destruíram propriedade pública, manifestaram-se, provocaram distúrbios, viraram um carro da polícia, enfim, fizeram tudo o que não era natural fazerem numa "democracia que funciona" com boas leis, com boa governança e tolerância zero.
Não se compreende a sua insatisfação e tão despropositada reacção estando as autoridades a protegê-las.
Em que ficamos? Então para que servem as leis numa "democracia que funciona"?