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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Compreendo que todos queiram saber o que se passa na sua terra. E também me parece pertinente que lhe seja dado algum destaque no espaço informativo mais importante do único canal de televisão em língua portuguesa. Só que daí até ao que se tem visto, começa-me a parecer um exagero sem sentido e sem qualquer justificação.
Refiro-me ao tempo de antena que é dado às conferências de imprensa dos Serviços de Saúde e às descrições detalhadas dos percursos de cada vez que aparece um infectado. Sim, um infectado. Ou dois, vá lá.
Um director de serviços agarrado a uma folha de papel a descrever minuciosamente todos os passos do infectado? O telejornal dando-lhe cobertura durante minutos a fio? Ninguém se enxerga?
Bem sei que somos candidatos a "Centro Mundial de Turismo e Lazer" com a dimensão e a mentalidade de uma recôndita paróquia transmontana ou beirã nos anos 50 do século passado, mas era escusado brindarem-nos com os números "CT" do pai, da mãe, da filha, e com a descrição detalhada da vida de cada um, do estágio que a filha está a fazer num restaurante, com indicação do nome deste, mais o que fizeram às 11:18, as carreiras de autocarros que utilizaram, e por aí fora. Podemos agradecer que não se fizessem acompanhar de animais de estimação, com o que nos pouparam aos resultados dos testes do canário e da tartaruga e ao percurso do cachorro quando foi à rua alçar a perna.
Enfim, se há momentos deprimentes em televisão, os do Telejornal da TDM, a propósito da situação epidémica, nalgumas ocasiões conseguem bater todos os recordes. Ontem foi um deles. Estavam lá ingredientes com fartura para se mudar de canal. A descrição detalhada e desinteressante para o público em geral, as imagens descoloridas num cenário vazio, o tom monocórdico, um tempo longo e vagaroso, a sensação de que nunca mais acaba a lengalenga, o martírio. E depois, quando a apresentadora regressa, as cores frias e distantes do fundo e a falta de gosto do painel também não ajudam. Cores mais alegres e mais quentes também são importantes para o estado de espírito de quem está em casa a ver. Ou em observação num hotel de quarentena.
Se em vez de um caso, de tempos a tempos, como tem acontecido, tivéssemos dezenas ou milhares de casos diários, iriam fazer o mesmo com todos? O director dos SSM não tem mais nada com que se entreter? Qual o interesse de durante largos minutos nos estarem a dar a vida do infectado e da família próxima? E a TDM tem de embarcar nisso? Isso não podia ser resumido? Qual é o critério editorial?
Tomem as medidas que se impõem, aprendam a viver com o vírus, evoluam, usem os neurónios. E poupem-nos a mais deprimência. Já basta como estamos.
(foto de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
A frase tem tanto de genuína e singela quanto de ingénua. Revela bem a natural preocupação de um pai pelo destino, neste caso político, do seu filho. E pertence ao pai do novo secretário-geral do Partido Comunista Português.
Mas qual é a frase?, perguntar-se-á com razão.
Pois bem, o que o pai de Raimundo disse foi tão só que “ter um filho, de 46 anos, a receber um partido nas mãos, nas condições em que o PCP está neste momento, não é algo que se deseja”.
Ele lá saberá por que a disse naquele momento. E não valerá a pena discorrer, por agora, sobre o que estará na base da sua conclusão sobre "as condições em que o PCP está". Presume-se que não sejam as ideais.
Para já acompanhemos o pai de Raimundo na sua apreensão, manifestando-lhe a nossa solidariedade.
Por muito que acredite nas competências e potencialidades do filho, e com ele partilhe dos mesmos ideais, o homem não anda a dormir, e não se deixa cegar pela ideologia ou o amor filial.
Assim se vê, não a força do PC, mas antes qual a natureza dos trabalhos em que o Raimundo se meteu.
Os comunistas deviam conversar com o senhor José Raimundo. O Paulo Raimundo, depois do discurso que fez na sua cerimónia de entronização, também. Fazia-lhes bem uma aproximação à realidade. Aos portugueses. Deixarem-se de ronaldices.