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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Ainda não me tinha apercebido do sucesso da política de tolerância zero, ou do "zero dinâmico", em Hong Kong, região que entretanto a abandonou, reivindicando a sua autonomia para fazer diferente. E teve toda a razão para isso.
Bastou-me passar pelo Aeroporto de Hong Kong para sentir a dimensão da asneira, da falta de bom senso, da ausência de inteligência e racionalidade.
Tirando o vendedor de bebidas espirituosas e charutos, com um pequeno quiosque de circunstância, não há nada. Tudo fechado. Sem aviões, sem gente, sem lojas. Uma dor de alma, mais de dois anos e meio após o início da epidemia.
Aquela que foi a porta de entrada, de passagem e de saída de uma das mais vibrantes cidades do mundo, um porto de acolhimento, um entreposto único de culturas e gentes, uma meca dos negócios, onde todos se queriam estabelecer ou possuir um escritório, pequeno que fosse, para poderem crescer, surge agora como uma sombra desfocada de si.
O Aeroporto de Chek Lap Kok é actualmente uma viagem à tristeza, ao desacanto, ao desconforto, a um sistema que aos poucos desaparece. Ali, tal como na Macau de hoje, que não passa de uma pequena aldeia mal governada, sem carisma ou apelo, a política da prosperidade comum passou num ápice a política da miséria comum.
A prosperidade transferiu-se para outras paragens. Aqui ficaram cartões de consumo, um paliativo que não gera investimento, não potencia a criação de riqueza, e não contribui para a alegria e a felicidade de pessoas sãs, normais e trabalhadoras.
John Lee ter-se-á apercebido a tempo do que lhe estava destinado, no seguimento de um desastre político e governativo de contornos épicos, não sendo por isso de admirar que tenha decidido correr o risco de abrir, desafiando a politica de tolerância zero e invocando para tal a autonomia de Hong Kong, no que foi apoiado pelas autoridades do Governo Central.
A notícia da eliminação das quarentenas pode vir a ser o balão de oxigénio de que Hong Kong necessita para tentar sobreviver e manter-se à tona. Por agora.
Temo, apesar de tudo, que chegue tarde e seja insuficiente.
Em todo o caso, chegará sempre muito mais cedo do que em Macau, onde ainda se procura ver de onde soprará o vento a partir de Outubro. E se espera que haja condescendência para se continuar a "enterrar" a economia de Macau e a transformar o apregoado centro mundial de turismo e lazer num incaracterístico, mas muito seguro, centro nacional de excursões para compatriotas.