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lata

por Sérgio de Almeida Correia, em 26.08.22

PHOTO-2022-08-26-13-04-16.jpg(créditos: AT, direitos reservados)

Esta manhã houve uma notícia que chamou a minha atenção. Vinha no matutino Ponto Final e tinha por título "SJM acusada de levar 'casinos-satélite' para um "beco sem saída" ao pedir mais lucros partilhados". O título é forte.

Tirando o descaramento da proponente, quando a li, logo me lembrei do que aconteceu com a proposta de alterações à lei do jogo, dos resultados da consulta pública, da discussão em seu torno, e dos sucessivos recuos por parte do Governo à medida que o deputado Chan Chak Mo se ria, com aquele ar de gozo desbragado para as câmaras de televisão, e a 2.ª Comissão da AL se debruçava na especialidade sobre o texto inicial aprovado no plenário.

As intenções do Governo passaram para os arquivos da AL. Eram tantos e tão repentinos os avanços e recuos que só podia sair uma coisa mal-enjorcada. Não sei se o sempre atento Gabinete de Ligação terá reparado nisso. Os resultados estão aí e a tal notícia é disso reflexo.

O caso é muito simples: uma das actuais concessionárias de jogo tem feito propostas de continuidade aos casinos-satélite, exigindo um "aumento da proporção das receitas partilhadas" e a assinatura de um novo acordo até 14 de Setembro, data em que termina o prazo para a entrega de propostas para o próximo concurso de jogo.

Que os casinos-satélite eram uma coisa péssima e de gosto duvidoso já era mau. Que uma coisa tão má tivesse sido permitida ao longo de muitas décadas pelo Governo ainda é pior. Que no fim se admita a continuidade do que se queria acabar à paulada, revestindo uma outra forma jurídica, e deixando entrar pelos fundos o que se queria atirar pela porta principal, é inqualificável.

O resultado é ver uma concessionária do jogo, a que pela sua história e antecedentes é a mais antiga e uma das que mais lucrou durante décadas, na triste situação de para se poder apresentar a concurso precisar de pressionar os donos dos tais "casinos-satélite", levando-os a queixarem-se em praça pública. Isto depois de há pouco tempo ter visto o seu rating reduzido pelas agências e ter sido obrigada a recorrer a uma accionista para conseguir fazer face aos encargos e à falta de liquidez, posto que os bancos, que andaram durante anos a comprar lenha a eito e não sabem como dela se livrar antes da casa começar a arder, não estavam para ali virados.

O estado de podridão a que se deixou chegar este mundo subterrâneo não tem adjectivação.

Vamos, pois, ver como irão descalçar a bota. E aguardar pelo fim da limpeza em curso, que me cheira irá ficar pela rama (a não ser que o Governo Central dê dois berros a esta malta e mande para cá alguém preparado). E esperar, igualmente, pela apresentação das propostas que vão a jogo e pelo resultado do próximo concurso. Por esta amostra, repescagens à parte, vê-se que, no mínimo, vai ser mais problemático do que o anterior. 

Mas os sinais estão todos aí, ainda que haja alguns "campónios", com o queixo demasiado levantado, que não vejam um boi à frente.

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diferenças

por Sérgio de Almeida Correia, em 24.08.22

image-2.jpg(créditos: Paulo Spranger/Global Imagens)

Há uma semana tinham divulgado a sua intenção e anunciado os seus propósitos. Ainda que alguns possam ter a nacionalidade portuguesa, o que desconheço, assumem-se como nacionais da China. E foi nessa qualidade que ontem saíram à rua empunhando bandeiras chinesas, cartazes e megafones.

E, pergunta-se, fizeram-no em que local? Na capital de Portugal, em Lisboa. Mais exactamente diante da Embaixada dos Estados Unidos da América, um local sensível em termos de segurança.

Os EUA são um aliado de Portugal de longa data. E são também seu parceiro na Organização do Tratado do Atlântico Norte e noutras organizações de que ambos fazem parte.

Os manifestantes chineses quiseram dar conta da sua oposição à política externa estado-unidense e do seu apoio ao Governo da China e às suas políticas em relação a Taiwan. A favor de uma China única. Nada contra. Estão no seu direito. E eu até estou de acordo com "Uma Única China", contra as provocações.

Cada um apoia e critica quem quer, manifesta-se como quer, quando quer, respeitando as suas convicções e as leis. Essa é a essência da vida democrática. Não é o medo, a unanimidade e o silêncio em caso de se pensar de maneira diferente.

E aqueles chineses fizeram-no pacificamente, sem oposição do Governo português, do Ministério da Administração Interna ou da PSP, que também não andou a importunar, filmar, fotografar e a levar para a esquadra, nas coloridas ramonas para posterior identificação, quem lá esteve.

Não foram impedidos de se manifestar, ainda que pudessem causar algum constrangimento à circulação e não tivessem respeitado as recomendações das autoridades sanitárias chinesas quanto às medidas de combate e controlo da Covid-19 – não guardaram distâncias, não usaram máscaras, não foram fazer testes PCR antes de se manifestarem.

Enfim, tiveram toda a liberdade para se exibir, gritar, opinar na terra estrangeira que os acolheu, onde vivem e fazem os seus negócios, contra a política de um país amigo de Portugal. Ninguém os impediu ou invocou leis de segurança interna ou a pandemia para os contrariar na sua intenção. E não vão ser agora acusados da prática de crimes de desobediência, julgados e condenados.

Seria bom que em Macau, o Governo da RAEM, o seu Chefe do Executivo, o Secretário para a Segurança, o Comandante da PSP e aqueles senhores que se sentam no hemiciclo da Praia Grande olhassem para este caso e para a forma como as autoridades de Portugal o trataram.

Estou certo de que se em Macau fosse convocada uma manifestação por residentes que se quisessem manifestar livremente, ao abrigo da Lei Básica, respeitando todas as leis e recomendações dos SSM, para darem conta do seu apoio à política das Nações Unidas e da União Europeia em relação à Ucrânia, de condenação à invasão russa, contra os crimes e violações dos direitos humanos que são diariamente cometidos no Mianmar e no Afeganistão, tal manifestação jamais seria autorizada.

E se fossem empunhadas bandeiras portuguesas, como ali foram erguidas bandeiras chinesas, logo apareceria um patriota zeloso a acusar os manifestantes de serem uns saudosos do colonialismo. E nessa crítica seriam também seguidos por alguns estrangeiros anafados, cheios de saudades dos tempos da URSS como antes tiveram da tropa que no passado os alimentou, e que aqui residem gerindo folhas de couve e missas a troco de subsídios e viagens.

É evidente que no actual contexto nada disto seria possível em Macau. Como anteriormente não foi possível por parte de trabalhadores birmaneses que aqui laboram e que se quiseram manifestar contra as atrocidades da junta militar. Ou a residentes contra os abusos da polícia de Hong Kong.

E sabem porquê? Porque o sistema de direitos, liberdades e garantias dos residentes de Macau, constante da Declaração Conjunta e da Lei Básica, pifou. Finou-se. E é agora um simples punhado de frases soltas entregues à interpretação dos sempre disponíveis burocratas de serviço.   

Mas é bom que se sublinhe, até pelo pequeno episódio de ontem da manifestação de Lisboa promovida pela Liga dos Chineses em Portugal, com o apoio de todas as associações chinesas existentes em Portugal, a diferença entre uma democracia digna desse nome, que acolhe estrangeiros como se fossem os seus nacionais, dando-lhes espaço, paz, trabalho, acima de tudo liberdade para se expressarem e manifestarem, e um regime policial onde diariamente se assiste à erosão das liberdades e das garantias mais básicas pelas mais estapafúrdias razões.

Era só isto que hoje vos queria dizer. Amanhã não sei se poderei fazê-lo.

 

Em tempo: A LUSA queixa-se de ter sido filmada, mas não esclarece por quem. As autoridades portuguesas deverão esclarecê-lo, porque se jornalistas portugueses são filmados na sua terra por agentes estrangeiros, então é porque muita coisa está mal no reino da Dinamarca e será preciso tomar medidas.

 

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parabéns

por Sérgio de Almeida Correia, em 23.08.22

Deles será o futuro. Para já, enquanto bem jovens, ganharam tudo o que de importante havia para ganhar: Campeonato Nacional, Champions League (UEFA Youth Cup) dos pequeninos e a Taça Intercontinental de Sub-20. A final contra o Peñarol, no Estádio Centenário, em Montevideu, e perante 40 mil pessoas, reeditou velhos encontros dos graúdos. Há ali muito talento, muita esperança e muito trabalho. Espero que não se percam. Hoje estão de parabéns, inteiramente merecidos. Esperemos poder repeti-los amanhã com outros troféus.

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sequestrados

por Sérgio de Almeida Correia, em 17.08.22

1.-saude.png(foto daqui)

A notícia de que pessoas que se encontravam em quarentena no Hotel Tesouro foram avisadas ao fim de sete dias e cerca de quarenta minutos antes da hora prevista para a sua saída de que a sua quarentena havia sido alargada por mais cinco dias é mais uma evidência da arbitrariedade e irracionalidade da gestão epidémica e da política seguida em Macau.

Durante todo o tempo que estiveram em quarentena essas pessoas testaram negativo à Covid-19. Obrigá-las a continuar presas no Hotel Tesouro, em quartos sem arejamento e sem limpeza, não tem qualquer justificação. 

Desde logo porque não é verdade que as pessoas em quarentena tenham qualquer contacto com o pessoal do hotel. Este pessoal não ajuda ninguém a transportar as bagagens nem à chegada, quando falam com as pessoas através de um vidro, nem à saída, mantendo-se sempre afastados, sempre a mais de metro e meio, mesmo sabendo que todos tinham acabado de testar negativo e permaneceram durante horas numa sala do aeroporto e depois em quarentena.

Durante todo o tempo de quarentena a única pessoa que contacta com os sequestrados é quem faz as colheitas para os testes de ácido nucleico, mas mesmo esta pessoa vem toda equipada e protegida. As próprias refeições, por sinal de péssima qualidade, são largadas à porta dos quartos. Quando o hóspede do hotel abre a porta do quarto já há muito desapareceu a pessoa que largou a caixa plástica na mesinha que se encontra do lado de fora.

Não foi esclarecido, mas devia ter sido, quais as funções desempenhadas por esse trabalhador e como foi possível testar positivo com todas as medidas de segurança que impuseram. 

E também terá de ser esclarecido se os sequestrados terão de pagar um adicional pelo sequestro aos seus sequestradores e qual a razão para que aqueles, ainda que tenham direito à primeira estada paga, tenham de avançar com o pagamento do custo da quarentena até que os senhores do hotel procedam ao reembolso, depois da aprovação pela DST.  

É, ademais, particularmente grave que já não seja a primeira vez que hóspedes corram risco de contaminação por parte de empregados de um hotel.

Se uma pessoa em quarentena arrisca ser contaminada pelos trabalhadores que dela cuidam, então isto só quer dizer que as quarentenas dos SSM não são seguras, e que a somar à arbitrariedade, ao custo elevadíssimo, à destruição da economia, aos problemas físicos e psicológicos, agora temos também a insegurança e o risco decorrentes da má governança.

Numa altura em que até o primeiro-ministro Li Keqiang reconhece que os efeitos da política de tolerância zero foram mais graves do que o esperado, e é ordenado que seja encontrado um "equilíbrio entre as medidas de controlo do vírus e a necessidade de dar um impulso ao crescimento", as políticas do Governo de Macau retrocederam décadas, mostrando a falta de talento dos "talentos" que gerem a crise.

Dir-se-ia que esta gente saiu de um episódio dos Flintstones. A desgraça que caiu sobre Macau não podia ser maior.

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rentreé

por Sérgio de Almeida Correia, em 15.08.22

O regresso da actividade judicial a partir de Setembro vai ser particularmente interessante. Os julgamentos já agendados e que aí vêm de Alvin ChauLi Canfeng e companhia prometem. Quanto a Levo Chan, deduzida que foi a acusação, é ainda preciso aguardar os próximos passos.

Conhecendo-se Macau e o que nas últimas décadas por aqui se fez (nalguns casos o que não se fez ou se fez mal para não se prejudicarem os interesses de uns quantos),  com a habitual impunidade e a bênção de quem mandava, não faltam os motivos de interesse.

No banco dos réus também vai estar quem lhes deu a mão que tudo permitiu e que os protegeu, mas antes convém reler algumas peças que foram publicadas nos jornais e passadas na TDM, recordando as dúvidas que oportunamente foram levantadas em relação a alguns talentos que já vinham com um vasto "currículo" do tempo colonial português e que na altura, em vez de estarem presos, foram agraciados por Rocha Vieira. É fundamental fazer-se um bom trabalho de casa.

Espero que os (poucos) bons jornalistas que ainda estão em Macau, e que não obstante todas as dificuldades que enfrentam conseguem publicar alguma coisa de útil, possam fazer esse trabalho preparatório. Basta ir aos arquivos, e ver as fotografias, não precisam de falar com ninguém. Para avivar memórias e dar uma nota de enquadramento histórico a quem muito pouco conhece, pese embora os cargos que ocupam, da história recente de Macau.

No caso do ex-director das Obras Públicas, em especial, essa será uma boa oportunidade para se perceber – e desta vez sem falhas de memória – qual foi o contributo que Li Canfeng deu depois do seu regresso para o aumento da tão prometida transparência administrativa, tanto mais que, como se sabe, "o Governo analisa o carácter, as habilitações e a experiência do pessoal antes da nomeação para os cargos".

O que presume-se que também faça antes da realização de obras públicas em relação às empresas que escolhe para consigo colaborarem quando estudam, projectam, constroem e fiscalizam os monos que para aí vemos.

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chalana

por Sérgio de Almeida Correia, em 11.08.22

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(10/02/1959 - 10/08/2022)

Todos aqueles a quem sentaste ao longo da vida, com a classe, a perfeição e o brilho do teu génio, levantam-se hoje em tua homenagem. Até à Eternidade. 

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dsal

por Sérgio de Almeida Correia, em 11.08.22

Há vários serviços da Administração Pública de Macau que deviam ser objecto de reforma ou encerramento pela simples razão de que não cumprem cabalmente a respectiva função. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) é um deles.

O que tenho visto da actividade dessa entidade, onde a língua portuguesa está proscrita, tem sido de molde a ficar sempre com a pior das opiniões, tal a forma altamente burocratizada, ineficiente e perturbadora das relações laborais, e não raro contra os trabalhadores, como exerce a sua actividade. 

Se todos se recordam, e esse é um problema que afecta muita gente, por ocasião do confinamento imposto pelo Governo durante o mês de Julho, aliás na linha do que o Secretário para a Economia e Finanças dissera em Maio na AL, a DSAL veio logo a terreiro, quase que se diria que a pedido das entidades patronais, dizer que era legal e legítimo baixar salários e descontar os salários dos trabalhadores. No caso do Secretário, Lei Wai Nong tinha ido à AL dizer, perante a crise, que os trabalhadores deviam aceitar "as actuais regalias e salários" e que os "empregadores têm de apresentar um salário de acordo com o mercado", quase como que justificando, concordando e aceitando uma alteração unilateral às regras fixadas na lei e nos contratos de trabalho.

Passadas uma semanas, logo veio a DSAL esclarecer através de uma nota de imprensa, de que os jornais de 22 de Julho deram conta (Ponto Final e JTM), de que terminado o período de confinamento parcial se manteria o princípio de que os empregadores não são obrigados a remunerar os funcionários. Adiantou a DSAL que "se orientações de prevenção epidémica causarem a suspensão de uma empresa trata-se de “um caso de força maior”, e que não sendo a suspensão causada pelo trabalhador, nem pelo empregador "o trabalhador fica impossibilitado de prestar trabalho, portanto, trata-se de uma falta justificada e o empregador não tem o dever de pagar o vencimento”.

Também se referiu, como que a dar uma no cravo e outra na ferradura, que "tanto os empregadores como os trabalhadores devem negociar de boa fé e de acordo com a situação real da empresa".

Ora, há aqui dois pontos em que a DSAL, e também o senhor que a tutela, estão profundamente errados.

O primeiro diz respeito à interpretação, abusiva, ilógica e ilegal que foi feita pela DSAL do artigo 50.º, n.º 2, alínea (9) da Lei das Relações de Trabalho. Diz a DSAL que, perante uma determinação do Governo, note-se, as faltas dos trabalhadores devem ser consideradas justificadas e que o empregador não tem de pagar o vencimento.

Ora, para que houvesse falta justificada do trabalhador era primeiro preciso que a empresa estivesse aberta. Se as empresas estão fechadas por decisão do Governo não há qualquer falta justificada ou injustificada ao trabalho que dê lugar a corte nos vencimentos. O trabalhador mesmo que quisesse cumprir não o poderia fazer porque a empresa estava de portas fechadas. Não há aqui qualquer falta do trabalhador que tenha de ser justificada porque aquele até podia estar à porta da empresa que esta não iria abrir para ele picar o ponto. 

A DSAL, quando emite comunicados como aquele que atirou cá para fora, fala para ignorantes, para gente que está habituada a ser maltratada pelos patos-bravos desta terra, partindo de um pressuposto sem qualquer cobertura legal, desligado da realidade e de cujo único beneficiário é o patrão. Além do mais, se houvesse força maior para o trabalhador também a haveria para a entidade patronal, e não se vê porque tem de ser a parte mais fraca a suportar o prejuízo do risco, da "força maior", de uma decisão do Governo da RAEM para cortar sem qualque base legal os salários dos trabalhadores. O princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, o velho favor laboris ou favor laboratoris para alguns autores, estaria a ser fortemente vilipendiado. Acresce aqui, ainda, o art.º 4.º n.º 2 da Lei das Relações de Trabalho, segundo o qual a "lei não pode ser interpretada no sentido de implicar a redução ou eliminação de condições de trabalho mais favoráveis aos trabalhadores".

Depois, em segundo lugar, porque quando a DSAL refere que os trabalhadores e os patrões devem negociar de boa fé e de acordo com a situação real da empresa, isso também quer dizer que as empresas não são todas iguais e as soluções não podem ser todas iguais independentemente da situação económica de cada empresa. Se uma empresa tiver uma sólida situação económico-financeira, não obstante a suspensão da actividade imposta pelo Governo, não faz qualquer sentido cortar nos salários de quem já ganha mal. Com isso não se está a diminuir prejuízos, mas sim a aumentar os lucros à custa dos trabalhadores. 

Se o Secretário para a Economia e Finanças e a DSAL queriam ajudar os patrões deviam tê-lo dito claramente, não arranjando uma interpretação aberrante da lei para uma decisão da sua exclusiva responsabilidade, para assim fazerem o jeito aos empresários amigos e prejudicando ainda mais os trabalhadores do sector privado, já que os do sector público estão sempre protegidos. Nessa matéria o Governo da RAEM não faz o que recomenda aos outros, por exemplo, aplicando o mesmo princípio aos trabalhadores da DSAL e descontando-lhes no vencimento os dias em que os serviços estiveram encerrados e não resolvem os problemas das pessoas.

Se a ideia não era essa, então o Governo da RAEM devia pagar aos trabalhadores que viram os seus salários descontados pelos patrões, em razão do confinamento, o valor da diferença, para assim proteger, como se fosse uma seguradora, os lucros dos empresários amigos, e evitando-lhe os "prejuízos" decorrentes da sua actividade empresarial.

As queixas que ouço contra a DSAL são mais que muitas, mas parece que a única coisa que a preocupa são as manifestações de trabalhadores à sua porta. Ainda ontem houve mais uma com trabalhadores da limpeza cujos títulos de permanência foram cancelados pelo prevaricador, embora esteja a dever vários meses de salários e de horas extraordinárias àqueles desgraçados. Para todos os que na RAEM são abusados e explorados até ao tutano, a intervenção da DSAL tem-se revelado um verdadeiro fiasco.

O Gabinete de Ligação da RPC em Macau devia acompanhar com mais atenção a actividade exercida pela DSAL. Esta não pode continuar a ser uma muleta do Governo de apoio aos poderosos patrões locais e contra os trabalhadores indefesos – muitos são "blue card" que vêm do interior da China para serem explorados em Macau.

E também acompanhar a de outras entidades que são um cancro para os direitos dos trabalhadores, em especial dos mais desfavorecidos, como é o caso das agências de emprego e do seu mais do que escandaloso negócio das quotas. Uma especificidade vergonhosa de Macau que tarda em desaparecer porque dá a alguns milhões a ganhar. A estas coisas que interessam a todos e dizem respeito à vida das pessoas normais, e não a outras que não lhe dizem respeito, é que o Gabinete de Ligação devia estar atento. E mexer os cordelinhos.

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insegurança

por Sérgio de Almeida Correia, em 08.08.22

A política da "covid zero dinâmica", tal como tem sido "vendida" aos residentes de Macau pelos Serviços de Saúde, aliás por um custo muitíssimo elevado, tem sempre em vista, ao que dizem e repetem até para justificar os maiores disparates, a segurança da população.

Isso seria verdade, e muito interessante, se houvesse em termos práticos efectiva correspondência com essa ideia de segurança.

Na realidade, o que se passa é que de cada vez que surge um caso está-se sempre à procura de ver se veio do exterior, isto é, de fora da China; ou se chegou, ainda que por hipótese académica para vender à comunicação social alinhada, nos alimentos congelados; ou se veio nas cartas e encomendas distribuídas pelos CTT; ou se o vírus entrou a cavalo de algum daqueles que teve a ousadia de se ausentar de Macau, não obstante todos os entraves levantados, os custos elevadíssimos e as penas impostas pelo Governo da RAEM.

Ontem fiquei à espera de ver o Chefe do Executivo esclarecer que, desta vez, o vírus nos chegou de Zhuhai. Sim, do outro lado da fronteira, pendurado num padeiro que trabalha num supermercado da Taipa. E que não andou a veranear no estrangeiro.

E também contava que com tanta segurança dos SSM nos fosse esclarecido como é possível que o homem tivesse andado para cá e para lá, pernoitando, subindo e descendo de autocarros, pegando ao trabalho, atravessando a fronteira, cheio de códigos coloridos, de RAT e de NAT, com todos os seus passos escrutinados, até que as autoridades do outro lado informassem as deste lado, que tantos cuidados têm para nos protegerem e não deram por nada, de que havia uma pessoa com um vírus à solta.

Não se percebe por que razão se fazem tantos testes, dando tanto dinheiro a ganhar a meia dúzia de pessoas e empresas, para depois um só indivíduo cruzar a fronteira entre Zhuhai e Macau, andando por aí à solta com o vírus, num supermercado, e logo depois obrigarem toda a gente que vive nas imediações desse estabelecimento, ainda que não tenha lá ido às compras, a fazer testes de ácido nucleico, e todos os demais a realizarem em suas casas testes de antigénio em dois dias consecutivos.

Aquilo que efectivamente se confirma, perante um caso tão corriqueiro, é que a insegurança é enorme, e que a política de "covid zero dinâmica" da RAEM é uma farsa. E não só aqui, como também se viu pelo que aconteceu este fim-de-semana numa ilha aqui perto, sem estrangeiros.

Por mais voltas que se dêem, por mais acusações que façam aos outros e aos produtos que chegam de fora, por mais bodes expiatórios que procurem, à primeira situação entram em pânico e causam transtornos e prejuízos a toda a gente, menos aos que estão a lucrar milhões com os testes.

Com um exemplo tão simples, e vindo de dentro da própria casa, se demonstra a impossibilidade de controlo de um inimigo invisível que não se compadece com a cartilha nacionalista e xenófoba de alguns crânios.

Não há nada como um banho de realidade para lhes demonstrar o quão errados estão. Bastou um caso para a casa ruir.

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excessiva

por Sérgio de Almeida Correia, em 04.08.22

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Vai por aí um escarcéu com a deslocação de Nancy Pelosi à Ásia, em especial com a sua solitária incursão a Taipé.

Compreende-se que a atitude de Pelosi cause algumas comichões em Pequim, e que os responsáveis pela política externa da RPC vejam a visita a Taiwan e as honras que lhe foram concedidas pela senhora Tsai Ing-wen como uma atitude provocatória. Mas é exactamente isto de que se trata, de uma provocação, e a vocalização exacerbada da oposição à atitude da speaker da Câmara dos Representantes só serviu para lhe dar mais visibilidade, desvalorizando a legítima posição da RPC e conferindo à deslocação e à senhora a importância que não têm.

Convirá ter presente que este ano haverá eleições intercalares nos Estados Unidos da América e que a maioria democrata nos Representantes poderá estar em risco. Quem acompanha a vida política interna desse país sabe perfeitamente que ali é esta que condiciona a política externa e que todos os movimentos conduzidos na frente diplomática têm repercussões dentro do país e forte influência na balança do poder e nos equilíbrios políticos internos nas duas câmaras do Congresso.

Esquece-se que já era assim no tempo de Obama, dos Bush, de Reagan, de Nixon, de Kennedy, de Roosevelt, de Truman e de todos os outros que antecederam Biden. Mas o melhor exemplo é o de Woodrow Wilson. Quando este propôs o plano dos 14 pontos empenhou-se, e à sua administração, na formação da Sociedade das Nações e depois viu rejeitada a aprovação do Tratado de Versalhes e a subsequente entrada dos EUA na organização, a qual estava condenada à nascença pela oposição do senador Lodge. Lodge achava-se o supra-sumo em matéria de política internacional e ficou zangado pelo facto de Wilson não ter incluído senadores na delegação que foi a França à Conferência de Paris. Um problema de sacristia. Também em 1918 havia "midterm elections" e o resultado da disputa interna entre Wilson e Lodge conduziu à rejeição do tratado pelo Senado em Novembro de 1919. 

A situação que hoje se vive não é muito diferente da que naquele tempo se vivia, com a diferença de que Joe Biden fez aquilo que a RPC deveria ter feito: desaconselhou a visita de Pelosi a Taiwan, desvalorizou-a, e seguiu em frente porque há questões mais importantes para resolver interna e externamente.

É claro que os arautos do megafone e campeões do patriotismo embarcaram na esparrela. Há um congresso do PCC no Outono e é preciso manter as massas arregimentadas. Basta ler o que na imprensa de Macau se escreveu para se perceber do que falo. Gente habituada a calar-se perante as maiores arbitrariedades e que não se importa de rastejar por quem lhes paga independentemente da cor do dinheiro, que não diz uma palavra sobre a violência das políticas de Covid-19, os ataques à liberdade de imprensa, os direitos de manifestação e reunião e a criação subreptícia de um estado policial, ou até sobre o que está a acontecer no Mianmar, veio logo a terreiro em bicos de pés repetir, para "inglês ver", a cantilena do megafone.

Pelosi não tem no sistema institucional dos EUA o peso político que lhe quiseram atribuir. Em fim de carreira, numa situação permanente de equilíbrio periclitante na Câmara e nos saltos altos com que desce as escadas do avião que a transporta, sem o apoio da Administração Biden na sua excursão, montou uma encenação destinada a dar-lhe o palco que em breve vai perder. 

Ao conferirem importância à visita de Nancy Pelosi, personalidade sem qualquer poder executivo e verdadeiro peso, esquecendo o sistema de repartição de poderes nos EUA, os falcões de Pequim acenderam os holofotes e cometeram um erro político, visto que deram-lhe o protagonismo que ela queria, que não tem e não merece. Com isso encheram canais de televisão, páginas de jornais e revistas com fotografias da madame, da sua entourage e da líder de Taiwan. As senhoras devem estar neste momento profundamente agradecidas à falta de visão política de quem embarcou nessa campanha e lhes deu tanto tempo de antena.

Nenhum país com peso no contexto mundial deu importância à viagem. Alguns houve que fizeram declarações de circunstância, habituais nos corredores da diplomacia, mas a maioria não ligou peva ao assunto. Não há, não houve, qualquer inflexão na política de uma só China, até porque a ONU e a opinião pública mundial não o permitiriam, e a viagem será rapidamente esquecida.

Tudo o mais não passa de folclore de ocasião, demonstrações de força inconsequentes para consumo interno das opiniões públicas em Washington e Pequim, e satisfação de egos tão limitados que merecem a nossa compaixão.

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mal

por Sérgio de Almeida Correia, em 03.08.22

Tenho criticado as conferências de imprensa dos Serviços de Saúde de Macau sobre a situação da Covid-19. Não porque não sejam necessárias ou importantes; antes pelo que representam de atraso e paroquialismo quanto ao que ali se diz e como se diz sobre questões importantes.

Tem-se ouvido de tudo um pouco. De coisas sérias a banalidades, de dados estatísticos correctos a conversa fiada, disparates e pura propaganda. Repare-se que, muitas vezes, o que ontem era mentira hoje é verdade, e tudo é dito com igual, por vezes atabalhoada, monocórdica displicência.

Voltou a acontecer, e não será a última, com a defesa de medidas que são um insulto à inteligência de qualquer residente.

Houve quem sublinhasse a ausência de um plano de saída da crise e de abertura das fronteiras, cuja premência é cada vez mais visível, em especial depois de conhecidas as exigências que os candidatos à atribuição de concessões no próximo concurso dos jogos de fortuna ou azar devem satisfazer. Andrew W. Scott teve oportunidade de referir o irrealismo de algumas dessas condições incluídas no caderno de encargos que se colocadas de outra forma ou num contexto diferente do que nos é dado viver poderiam fazer sentido. Acrescentar aqui algo mais seria despiciendo.

Contudo, quero recordar que quando o afastamento da realidade se torna tão notório por parte de alguns dirigentes, e as decisões se apresentam de tal modo caricatas que somos tentados a beliscar-nos, passamos do que é confrangedor e deprimente para o campo da alucinação. E não será caso para menos quando há decisões que sendo tão cientificamente indefensáveis, e socialmente desajustadas, surgem justificadas com a maior desfaçatez perante o auditório como se verdades absolutas fossem.

As explicações dadas a um jornalista sobre a eventual origem da vaga de Junho, e a insistência na realização de análises em alimentos vindos de fora, isto é, de qualquer lado menos do interior do país, à revelia daquilo que é o entendimento do Governo Central e da OMS, e sem que concomitantemente seja dada uma resposta clara e se apresentem os tais estudos, não merecem qualificativo. 

A imolação de funcionários em conferências de imprensa não abona a favor de quem lá está a prestar as justificações, inexistentes, para supostamente esclarecer a opinião pública. Menos ainda funciona em benefício de quem os manda para lá arrastarem-se durante meses, semanas e dias seguidos para explicarem o que foi decidido por um obscuro comissário político e carece de senso, de razoabilidade. Porque esta simplesmente está ausente e a explicação não pode ser dada.

Para quem assiste, a insistência torna-se então sinal de um mal maior, muito maior. Vem nos livros.

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jorge

por Sérgio de Almeida Correia, em 01.08.22

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Ainda há semanas tinha pensado nele. Era um daqueles amigos que raramente encontrava. Via-o pouco, mas era sempre uma festa. A Mélita gostava muito dele. Conhecia-lhe a família toda. Ele fora companheiro e amigo do Ricozé desde o tempo em que andaram juntos nos Maristas. Sempre bem disposto, sempre simpático e atencioso, bonacheirão, de sorriso largo, farto e ingénuo; às vezes malandro, rindo muito por debaixo dos óculos e da barba. Já me tinha dito para ir visitá-lo ao Alentejo, à sua herdade, seu refúgio desde antes de se reformar e onde gostava de estar entre oliveiras e animais sempre que fugia de Cascais. Os jardins do Casino devem-lhe muitas horas de atenção e cuidado. Todos perdemos alguma coisa. Hei-de voltar a tomar um copo com o Jorge Pinto Basto quando chegar a minha vez. Um vinho de estalo. E voltaremos a rir-nos, saudavelmente, de nós próprios e dos outros, com mais amigos. Até lá, irei ter saudades dele.

 

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