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mudanças

por Sérgio de Almeida Correia, em 01.06.22

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Agradeço ao Ricardo Pinto a generosa oferta que me fez da edição portuguesa do III volume da obra "A Governança da China". É sempre bom termos bons referenciais quando queremos analisar o presente e equacionar o futuro.

Em 20/12/2019, por ocasião do "Discurso de Celebração do 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria (...)",  o Presidente Xi disse:

"Nos últimos 20 anos após seu retorno à pátria, Macau tem registado um grande salto no desenvolvimento económico e na melhoria constante da vida do seu povo. Constatam-se sólidos progressos na transformação de Macau em um centro mundial de turismo e lazer, em uma plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa e em uma base de intercâmbio e cooperação que, tendo a cultura chinesa como predominante, promove a coexistência de diversas culturas ("um centro, uma plataforma, uma base") . O PIB per capita da RAEM tem aumentado exponencialmente, tornando-se o segundo maior no mundo. Os esforços pelo crescimento económico moderado e diversificado começam a obter resultados preliminares, enquanto os sectores emergentes como os de convenções e exposições, medicina tradicional chinesa e serviços financeiros específicos estão em grande ascensão. Macau vem alcançando progressos positivos na participação da iniciativa "Cinturão e Rota"e no desenvolvimento da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau. O nível de vida e do bem-estar público têm melhorado substancialmente, e uma série de políticas sobre a educação gratuita, cuidados médicos gratuitos e regime de seguridade social em dois níveis, entre outras, vêm beneficiando de forma generalizada, toda a sociedade. Com tudo isso, os residentes de Macau sentem-se mais beneficiados e felizes." (Xi Jinping, A Governança da China, III volume, páginas 529/530).

Esta manhã pego em dois jornais. E que leio eu?

No Ponto Final (PF) vejo, na primeira página, que um inquérito conduzido pela União Geral dos Moradores "indicou que quase 74% dos entrevistados mostraram-se sem vontade de reproduzir [leia-se procriar] em Macau. Os principais factores que afectam a intenção de ter filhos relacionam-se com a questão de rendimento da família, que foi escolhido por mais de 75% dos inquiridos, da habitação (64,5%) e das políticas de educação". Lá dentro percebo que foram inquiridos "1643 residentes, com idades entre os 18 e os 50 anos, sendo que mais de 70% deles têm entre 26 e 40 anos de idade." Queixam-se os inquiridos de falta de tempo para educar os filhos, de sofrerem de "pressão económica" e "têm problemas como falta de espaço e de habitação". Quem diria. No final, essa mesma notícia esclarece que "a baixa taxa de natalidade já foi alertada pelo Executivo, dado que a referida taxa se situou em 7,4%, segundo as estatísticas demográficas referentes ao quarto trimestre do ano passado, a taxa mais baixa desde 2005%". (sic)

A notícia do PF não elucida se foi perguntado aos inquiridos se haveria algum outro local onde os residentes estivessem dispostos a reproduzir-se, dentro ou fora da China, presumindo eu que isso não fosse perguntado, mas no Macau Daily Times, ao qual daqui saúdo na pessoa do seu Director pelo seu 15.º aniversário, registo, sem tradução, o seguinte: "He [Lei Wai Nong, Secretário para a Economia e Finanças do Governo da RAEM] said tourism industry practitioners should take this "quitness" as an opportunity to consider how the city can become more attractive to non-Chinese tourists. In fact, some academics have pointed out that Macau's heavy reception of 40 million tourists a year and having departed somewhat from leisure tourism, the city is no longer attractive to foreign tourists, who usually are more financially ample and tend to explore experiences of higher quality."

Ao mesmo tempo, olho para as estatísticas e reparo que o PIB de Macau, que era de 89.197,4 USD/per capita em 2019, caiu em 2020 para 39.401,10. Em 2021 foi de 43.735. O de Hong Kong, que era de 48.354,50 em 2019 passou em 2020 para 46.323,90. Em 2021 o valor de Hong Kong foi de 49.788. A pandemia explica a queda, não explica as diferenças. 

E ainda menos justifica as dificuldades que hoje se vivem na RAEM. Por isso também não vou comparar o que aconteceu noutras latitudes e em países ou regiões com as quais Macau competia, e deixou de competir, com o que por aqui acontece.  

Se os residentes não querem procriar na RAEM, por falta de rendimentos adequados, de espaço, de boas políticas de educação, de habitação ou devido à pressão económica, quando ainda em 2019 a Região era um oásis; e se agora também os turistas estrangeiros não querem vir e procuram experiências de mais qualidade noutros lados, como diz o Secretário, então é de perguntar: Como vai ser o futuro? O que nos espera depois do Verão?  

Não é fácil viver em contra-ciclo. Todos sabemos isso. Em Pequim também o sabem. Não é preciso lembrar-lhes. E não vale a pena perguntar o que andaram a fazer. Ninguém irá responder. 

Todavia, é capaz de ser difícil conciliar o discurso de 2019 com os resultados conhecidos deste inquérito. Passaram menos de três anos. O que mudou na fotografia?

E quanto a explicar aos residentes o sentir, i.e. o estado de espírito, que decorre desse inquérito – conduzido por aquela que será, provavelmente, a mais patriótica e nacionalista das associações de Macau, que já o era no tempo em que outros, os novos-patriotas, se vergavam às patacas coloniais e se prestavam a todos os favores –, deverá ser ainda mais complicado.

A gente usa o cartão de consumo. Dá sempre jeito. E normalmente fala para dentro. Mas a maioria é patriota, gosta de Macau e da China. E não é burra.

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