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insegurança

por Sérgio de Almeida Correia, em 28.04.22

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Há já algum tempo que era para ter referido o problema. A circulação rodoviária nas vias públicas de Macau continua a ser, e fica pior em cada dia que passa, uma aventura muito insegura.

São múltiplos os casos de má ou ausência total de sinalização. Seja por obras ou trabalhos de jardinagem e afins, muitas vezes com placas a menos de 5 metros das intervenções em curso, há vias que de repente estreitam, iluminação que não existe de todo ou é deficiente em múltiplos pontos, milhares de tampas de esgoto, de electricidade, de telecomunicações, muitas das quais extremamente desniveladas e dando cabo das jantes, das lâmpadas, das suspensões, dos amortecedores, dos apoios de escape e dos motores, com múltiplos e péssimos remendos no alcatrão e/ou no cimento, depressões, abatimentos e buracos que mais parecem crateras, e até placas de ferro com pontas pontiagudas das quais é muitas vezes impossível a um condutor desviar-se atempadamente devido à má e tardia sinalização e aos outros veículos em circulação, em especial pesados. Muitas dessas placas metálicas rasgam os pneus, como a alguns já sucedeu no inenarrável Istmo de Coloane, cujas obras se prolongam eternamente e onde é de pasmar que não haja mais acidentes.

Se um condutor se apercebe do perigo na estrada e trava subitamente, ou tenta desviar-se e mudar de direcção, arrisca-se a provocar um acidente e a levar com o camião ou autocarro que circula a alta velocidade na sua traseira ou que vem desembestado pelo lado direito da via, local onde os condutores de pesados e de motociclos adoram circular. 

Mas um dos casos que mais dores de cabeça dá aos condutores de ligeiros são as floreiras colocadas junto ao Hotel Star World, num troço da Avenida da Amizade.

Pois ali, além da evidente apropriação da via pública pela concessionária, obriga-se os condutores que circulam no sentido da Av. Sir Anders Ljungstedt para a Avenida da Amizade, e que demandando esta pretendem seguir em direcção à Avenida de Sintra, que façam uma perigosa gincana por uma zona que está muitas vezes apinhada de táxis, peões, carros e carrinhas de jogadores e de junkets, não raro estacionados em segunda e terceira fila, alguns à espera do arrumador, sem esquecer os autocarros ao serviço da concessionária que também têm ali as suas paragens para tomada e largada de passageiros. Um caos.

Depois, devido à colocação das floreiras, há uma verdadeira e permanente lotaria para qualquer condutor poder entrar na Avenida da Amizade, sendo grande o risco de se levar com outro ligeiro em cima ou de se embater num motociclo que circule encoberto pelas ditas.

Será que aquelas almas da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego e da PSP nunca se aperceberam de nada disto? De que estão à espera para agir? De uma desgraça com mortos e feridos para depois mobilarem as estradas com pinos plásticos coloridos? IMG_3681.jpg

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reconhecimento

por Sérgio de Almeida Correia, em 25.04.22

salgueiromaia_alfredocunha.jpg(Salgueiro Maia, imortalizado pelo génio de Alfredo Cunha)

Passa hoje mais um aniversário sobre o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Data única da nossa história recente, constitui um marco na restituição da liberdade, da democracia e de direitos básicos de cidadania a todos os portugueses e a outros povos subjugados.

Em relação a Macau, o 25 de Abril também permitiu o seu regresso pacífico à administração chinesa, contribuindo para o estupendo desenvolvimento das últimas quatro décadas e o reforço da cooperação e das relações diplomáticas entre Portugal e a China. 

O ano passado, na primeira cerimónia de Dez de Junho a que esteve presente, no Consulado-Geral de Portugal em Macau, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, agradeceu o profundo empenho dos portugueses e macaenses e o seu contributo, "excepcional", para a multiculturalidade e o desenvolvimento de Macau, e a sua boa cooperação e forte empenho para o combate à pandemia. Outros responsáveis, de Macau e da China, não se cansam de repetir esta lengalenga que a todos sensibiliza em todos os actos oficiais que se prestem a isso.

Todavia, na prática, esse reconhecimento do papel dos portugueses não existe ou é letra morta. Os portugueses vêem a sua língua com um estatuto cada vez mais menorizado nas relações com os tribunais e a administração pública. E mesmo os residentes acabam por ser penalizados por um estatuto de igualdade aparente que diariamente lhes torna a vida mais onerosa.

O caso das limitações de deslocação impostas pela pandemia são disso boa prova. As regras são diferentes para os residentes que vão à China, a Hong Kong ou a Portugal, apesar do número de casos neste último país ser reduzido,  o de vacinados ser dos mais elevados a nível mundial e da situação epidémica em algumas regiões chinesas ser muito grave.

Por estes dias, quando as quarentenas foram reduzidas de 21 para 14 dias, os portugueses residentes também ficaram a saber que para o Governo da RAEM é indiferente vir do Bangladesh, da Venezuela, da Tanzânia ou de Portugal. Os residentes que regressem de Portugal, ainda que com três doses de vacinas de boa qualidade, reconhecidas na China e internacionalmente, e com certificados negativos, continuam a ser obrigados a períodos de quarentena que em nada os distingue, nem ao país de onde vêm, daqueles outros que têm um registo de casos diários elevadíssimo, taxas de vacinação sofríveis e milhares de internados em situação grave.

Como se tal não bastasse, ontem foram brindados com a novidade de que passarão a pagar os testes obrigatórios de ácido nucleico que terão de realizar durante a quarentena, e que o número e valor dos testes (oito e MOP2.000,00) será superior aos impostos aos residentes que venham de "zonas de risco do interior da China" (cinco e MOP1.250,00).

Para quem há mais de dois anos tem cumprido religiosamente os pedidos do Governo da RAEM, e que durante todo este período não saiu de Macau, não beneficiando de qualquer quarentena ou de testes gratuitos por motivo de deslocação ao estrangeiro,  e se preparava para aproveitar a recente redução da quarentena para 14 dias para finalmente poder visitar os seus familiares e os velhos e doentes, gozar uns dias de férias e ir a médicos no exterior, a suas expensas, este é mais um brinde do Governo da RAEM e uma prova da sua satisfação pelo contributo "excepcional" dos portugueses ao desenvolvimento de Macau. 

Não era bastante ter colocado os residentes a viverem numa espécie de colónia penal e não haver hotéis em quantidade, com número suficiente de quartos disponíveis, mesmo que fossem pagos, e com qualidade mínima para se cumprirem as quarentenas. Era fundamental penalizar nesta altura, ainda mais, os residentes portugueses que estavam a pensar sair este Verão, criando-lhes um encargo adicional, embora muitos nunca tivessem usufruído anteriormente de qualquer quarentena à custa da RAEM ou de testes gratuitos durante esse período. Vai tudo a eito. Os que cumprem, os que não quiseram cumprir, os que contribuem mais, os que contribuem menos, e também os que não contribuem para nada.

Aqui está mais uma forma original que o Governo da RAEM encontrou para agradecer o papel dos portugueses residentes em Macau, motivá-los para o futuro, e de se associar à celebração de mais um aniversário do 25 de Abril de 1974.

Palavras leva-as o vento. Nalguns locais mais depressa do que noutros. Todos os dias e a toda a hora.

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opacidade

por Sérgio de Almeida Correia, em 21.04.22
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(créditos da foto: Macau Business)

 

Se há coisa que seja legítimo pensar é que não há justificação para a falta de informação, para a desinformação e para a opacidade que decorre dos trabalhos relativos ao sistema do metro ligeiro.

Depois de tudo o que se passou com o anterior executivo era de esperar que, não obstante seja o mesmo o secretário responsável, que houvesse uma mudança de atitude e se corrigissem as deficiências e esclarecessem as dúvidas anteriormente suscitadas. Mas afinal temos mais do mesmo.

Se bem se recordarão, em 20 de Maio de 2021 foi cancelado o concurso público para a empreitada da obra de construção da linha de Seac Pai Van. De entre os argumentos apontados para essa decisão ressaltava a "probabilidade de ocorrência [de] situações graves de trabalhos a mais e extensão de prazo de execução", a "irracionalidade considerável dos prazos de execução propostos". Em consequência, o Governo da RAEM, por "razões de interesse público", evidentemente, "decidiu pela anulação do referido concurso", mais esclarecendo que, "muito em breve procederá ao lançamento de um novo concurso para a execução a respectiva obra".

Entetanto, em 15 de Outubro de 2021, a sociedade que tem a seu cargo a exploração do metro ligeiro veio esclarecer que devido ao "sobreaquecimento dos cabos de alta tensão de 22 kV utilizados no sistema", que provocavam falhas no funcionamento do sistema eléctrico, "a Mitsubishi Heavy Industries, Ltd. irá proceder à substituição, a título gratuito, dos cabos de alta tensão de 22 kV na Linha da Taipa, pelo que os respectivos serviços serão suspensos a partir do dia 20 de Outubro".

Já em Janeiro deste ano, na Assembleia Legislativa, diz-nos a TDM, "em resposta a uma interpelação oral do deputado Leong Sun Iok sobre os custos acrescidos que as obras de substituição dos cabos eléctricos do Metro Ligeiro vão ter para o erário público, o secretário para os Transportes e Obras Públicas disse que os custos das obras são da exclusiva responsabilidade da Mitsubishi Heavy Industries, e que o Governo não irá ter custos acrescidos sendo que os trabalhos de substituição dos cabos devem terminar num prazo máximo de seis meses".

De acordo com a informação prestada, estando a obra dentro do prazo de garantia, os encargos seriam assumidos pela Mitsubishi. Até aqui nada de mais.

É verdade que ninguém esclareceu, tanto quanto me tivesse apercebido, qual a razão para esse sobreaquecimento dos cabos que levou à sua substituição integral ainda dentro do prazo de garantia.

Nem se clarificou se era normal isso acontecer noutras obras da Mitsubishi. Nem se tal se ficou a dever à má qualidade dos cabos inicialmente colocados. Como também não se esclareceu qual o valor pelo qual foram inicialmente orçamentados esses cabos, nem se a empresa teve idêntico problema no Japão, no Dubai, na Coreia do Sul, por exemplo. Nem se disse qual a diferença de custo entre os cabos que foram colocados na obra e tiveram de ser substituídos e os novos. É que se o custo fosse o mesmo não se percebe qual a razão para não terem sido colocados logo de início, evitando-se estes "custos acrescidos" para a generosa empresa, qual Santa Casa da Misericórdia, e para nós.

De igual modo, não me apercebi que a Mitsubishi fosse indemnizar, nem em que montante, a RAEM pelos prejuízos decorrentes da paragem do serviço.

Dúvidas que ficaram por esclarecer e que deviam ter sido oportunamente esclarecidas, até para se perceber de quem foi a responsabilidade pela escolha e colocação dos cabos de tão má qualidade que obrigaram à suspensão do serviço durante meses.

Também sucede que, na mesma ocasião, foi o sempre disponível secretário quem deu a conhecer quais os valores previstos para a  construção dos novos trajectos: "(...) Linha da Taipa tínhamos uma previsão de 11 mil milhões de patacas. A Linha da Barra tem uma estimativa de 4,5 mil milhões de patacas. Já a Linha de Hengqin é de 5 mil milhões de patacas e a de Seac Pai Van 3 mil milhões de patacas. E já gastámos cerca de 10,7 mil milhões de patacas com a Linha da Taipa."

Hoje sou surpreendido com a notícia de que a Mitsubishi recebeu uma proposta de contrato do Gabinete para o Desnvolvimento de Infra-estruturas (GDI) para lhe serem atribuídas as extensões do metro ligeiro na Taipa, Barra, Hengqin e Seac Pai Van sem que, mero detalhe, fosse divulgado o valor total de um contrato que contemplará "todo o sistema, incluindo sinalética, sistemas de comunicação, instalações de fornecimento de energia, construção de trilhos, portas de plataforma e máquinas de tarifa." Para além disso, refere a notícia, "a Mitsubishi também recebeu um contrato de manutenção de revisão do material circulante por cinco anos a partir do início das operações e continuará a apoiar as operações estáveis do LRT de Macau". 

Eu não percebo nada de obras. Também não sou engenheiro ou empreiteiro, mas ainda vejo televisão, ouço rádio e leio os jornais. E conhecendo o passado e a quantidade de "casos", vamos chamar-lhe assim para não incomodar ninguém, ocorridos na tutela das obras públicas nas últimas décadas, das negociatas dos terrenos aos atrasos do metro ligeiro, aos dirigentes detidos e aos que estão a monte, sem esquecer as obras com papel dentro das paredes, as que caem obrigando ao realojamento dos moradores, e tudo o mais que é conhecido, fico confuso e tenho muitas dúvidas sobre tudo isto. Em especial sobre estes contratos que ninguém conhece e cujos detalhes e valor não são revelados, o que não deixa de ser estranho quando se anulou anteriormente um concurso e se ouvem os constantes discursos que vêm do outro lado quanto à necessidade de se respeitar a disciplina do Partido.

E fico naturalmente a pensar, embora possa estar a ver mal, e se for esse o caso desde já me penitencio, se a tal substituição "gratuita" dos cabos não vai ser agora compensada com uma proposta de contrato, cujo valor se desconhece,  que cubra tão generosa "oferta". 

É que da maneira que estas coisas vão surgindo aos olhos de todos, sem qualquer organização, sistematização e transparência, com explicações que sejam dadas de forma clara e sem sobranceria, e que permitam a qualquer cidadão aperceber-se da razão subjacente às decisões, dos contornos dos negócios e das adjudicações que vão sendo feitas, partindo-se do princípio de que somos todos ou engenheiros ou parvos, o mínimo que se poderá dizer é que a opacidade não ajuda ao esclarecimento de tanta dúvida.

Bem pelo contrário. A opacidade só serve para aumentar as suspeitas da opinião pública sobre o modo como tudo isto, face aos antecedentes conhecidos, vai sendo feito. E isso é muito mau. Com ou sem a Covid-19.

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hino

por Sérgio de Almeida Correia, em 13.04.22

partito-amore.jpg

Houve tempo em que acompanhava em directo as intervenções do Chefe do Executivo (CE) e os debates na Assembleia Legislativa (AL). Depois, com o correr dos anos e o método das perguntas formuladas com antecedência, cujas respostas vinham preparadas de casa e eram monocordicamente lidas no plenário, começou a bastar-me ler o que a imprensa publicava e os resumos na rádio e na televisão para ficar com o filme completo.

Porém, esta manhã apercebi-me de que devia ter tirado o dia de ontem para escutar a intervenção de Ho Iat Seng na AL e, em especial, as suas respostas às preocupações manifestadas por alguns deputados.

Não deixa de ser notável que ao fim de mais de dois anos de pandemia, com a economia de Macau a bater no fundo, com milhares de lojas e estabelecimentos comerciais fechados por toda a cidade, com muitos técnicos qualificados a abandonarem a RAEM, sem eventos desportivos, profissionais e culturais internacionais, sem excursões nem visitantes dignos desse nome, com os casinos às moscas e a apresentarem resultados sofríveis, o CE mantenha a boa disposição, um apurado sentido de humor e continue a surpreender-nos pela sua iniciativa, despacho, incentivos e optimismo que a todos transmite.

E isso é de tal forma visível que será caso para dizermos, todos e em uníssono, que até Hong Kong, após a atribulada e interminável experiência de governação de Carrie Lam, sonha em ter um Chefe do Executivo com a visão e a confiança do nosso. Não creio que consigam. 

É verdade que o CE de Macau não pode garantir, nem sabe, como confessou, se daqui a cinco anos vamos ter prosperidade. Ninguém estava à espera que dissesse o contrário. Se aos dois anos de "tolerância zero" que levamos juntarmos os mais que aí vêm de "zero dinâmico", teremos aí à volta de sete anos; prazo curtíssimo para se garantir o que quer que seja. Muito menos uma retoma económica. 

E então se o país for milenar, e não se souber quantas variantes mais surgirão da Ómicron, nem durante quantas décadas permaneceremos fechados ao mundo, sem tradutores habilitados de Covid-19 em número suficiente, e gozando as férias sempre sonhadas na zona balnear do Canal dos Patos, parece-me que o CE esteve bem. Ele só poderá, na melhor das hipóteses, cumprir dois mandatos. Sabe do que fala. Ali, em Hong Kong, para Carrie Lam, foi um mandato e foi um pau. Compreensível, sem drama, quando se recebe o salário em notas e o espaço em casa se torna curto para guardar os maços do pé-de-meia.

Também gostei de ouvir o CE recordar 2008, quando "as concessionárias nem queriam os terrenos", e "não estavam interessadas em obter os terrenos porque as perspectivas não eram boas." A comparação foi excelente porque, como disse, "agora as concessionárias continuam a ter confiança". E a confiança é tanta, acrescente-se, que algumas acabaram por recorrer ao Tribunal de Última Instância para se livrarem de vez dos terrenos que obtiveram, havendo até empresários que se retiraram do mercado e hoje, para desgosto de alguns que também se esforçaram e ainda estão cá fora, gozam umas merecidas férias no "Coloane Hilton".

Não foi tudo. A taxa de desemprego de 4,3% entre os residentes preocupa toda a gente. Ao CE também. Dizer aos desempregados que tomem a iniciativa, que adquiram novas competências, e pedir à DSAL que simplifique os procedimentos de divulgação dos postos de trabalho é uma decisão acertada. Ex-trabalhador de empresa de promoção de jogo ou ex-comissionista do ramo da criptomoeda deverá tirar um curso de "bilingual domestic helper" junto da DSAL para preencher as vagas de trabalhadoras não-residentes e aprender a levar o cão à rua ou lavar o carro do patrão depois do entardecer para não se estragar a pintura.  

Em matéria de turismo ainda chegou uma sugestão oportuna do CE. Perante a evidência de que "não podemos ser um centro de turismo e lazer só para o interior da China" — espero que no Gabinete de Ligação e no Macau Post Daily ninguém o tenha ouvido —, o CE considerou ser agora crucial explorar novos mercados e dar continuidade ao rumo anterior no Japão, na Tailândia e Índia.

Com as fronteiras de Macau praticamente encerradas há dois anos, com os estrangeiros impedidos de entrar e com centenas de hotéis vagos destinados a quarentenas de residentes e estrangeiros, parece-me elementar que se envie o pessoal da DST a esses mercados, convidando-os a visitarem Macau num pacote que inclua uma quarentena de 21 dias no Treasure Hotel, ou noutro de qualidade similar, antes de começarem a tirar fotografias nas escadarias de S. Paulo. Um pacote destes seria sucesso garantido. E talvez viesse a ser necessário, não digo para já, aumentar as quarentenas para se facilitar a ambientação a um destino de lazer e turismo que de dia para dia afirma a sua classe mundial.

Lembrei-me, aliás, que se podia pedir ajuda a um velho general, vizinho de um banqueiro que contratava sumidades como ele para fazerem publicidade a um banco falido que burlava os depositantes, e fazer dele embaixador do turismo da RAEM.

É que o homem, caso não saibam, não só tratou de instituir a Fundação Jorge Álvares, em circunstâncias que a todos nos honraram nos jornais d'aquém e d'álém-mar, ainda conseguiu ser elevado a doutor honoris causa (que significa para os leigos "doutor por causa da honra") por uma universidade local onde ninguém o conhecia, provocando, qual filho de Deus, que Camões ressuscitasse. Um milagre que só não foi maior por não ter coincidido com o Domingo de Páscoa, o que lamentavelmente impediu o chanceler da dita de lhe enviar um ovinho de chocolate com brinde e umas amêndoas em memória da gulodice dos velhos tempos.   

O zénite da intervenção do CE só aconteceu mesmo, todavia, quando resolveu dar uma descasca nos mandriões dos deputados.

Então não é que o deputado Lei Chan U resolveu falar-lhe em "medidas para incentivar a procriação"? Pensava que o CE estava distraído. Logo este o topou e lhe perguntou qual a razão para o deputado não ter mais filhos. Toma! Já levaste. Pois claro, se só tem um, que fazia ele no hemiciclo, àquela hora, em vez de estar a ...., quer dizer, a procriar?

É verdade que "essa vontade de as pessoas procriarem tem vindo a baixar", reconheceu o CE, mas a expectativa é que "os casais tenham mais vontade". Como? Com os deputados a darem o exemplo. Muito bem. Dali, desde há muito, só nos chegam bons exemplos. Pena alguns exemplares nem sempre saírem perfeitos. Nada de grave, pois que, como escreveu a grande Natália, o importante é que "temos na procriação / prova de que houve truca-truca". O que conta.

Apesar de tudo, talvez seja este, penitencio-me, o único ponto em que não estou totalmente de acordo com o CE. Para que essa vontade de procriação cresça, ganhasse volume, e não apenas em palavras, ainda seria necessária uma pequena ajuda do Governo. Os tais estímulos à procriação que o deputado queria e com os quais concordo.

E quanto a este ponto, dir-vos-ei que como casinos, iluminações LED e néones já temos com fartura, a minha sugestão é que se invista em bares de alterne. Isso. Tanto para cavalheiros como exclusivos para senhoras. Nada de discriminações, mas onde seja proibido interagir com a mão-de-obra especializada. Para estimular a libido. Que é o que estimula a procriação. Nada de bailarico e falatório. Coisa séria. A sociedade é conservadora e convém respeitar as diferentes sensibilidades na hora do truca-truca.

Com isso, e mais uns lubrificantes finos, como acontece com as máscaras de protecção, estou seguro de que além de diversificarmos a economia se aumentava, com vontade genuína, a procriação. 

E não precisava de ser nem assistida nem com assistência. Bastavam mais uns vouchers. Ou umas "senhas para procriação" para uso exclusivo em floristas, perfumarias, casas de atoalhados, colchões, barbearias e cabeleireiros, sais de banho, automóveis desportivos, alta costura, hotéis de luxo e restaurantes discretos.

Tomem nota.

Um dia que ficará nos anais da AL. Um hino à boa governação, à procriação, aos talentos. Ao futuro.

Brindemos pois: Feliz Páscoa.

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