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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(créditos: El Pais, Miguel Candela/EFE)
Dois anos depois do aparecimento em Wuhan do vírus da Covid-19, e de uma apertada política de tolerância zero, Hong Kong enfrenta a sua pior vaga.
Os casos são aos milhares, diariamente, já desencadearam o auxílio do interior do país, motivaram o adiamento do calendário para escolha do próximo Chefe do Executivo, e têm gerado múltiplos apelos à vacinação por parte das autoridades locais e do próprio Governo central, incluindo do Presidente Xi Jinping, que veio lembrar ser a tarefa primordial de Carrie Lam o controlo da situação.
Curiosamente, esta vaga acontece num momento em que as fronteiras continuam fechadas, não há ligações por barco a Macau há dois anos, os movimentos pró-democracia de Hong Kong foram entretanto desmantelados, os seus líderes processados, silenciados, presos ou "exportados" para um qualquer local de exílio, o sistema eleitoral foi mudado e o Legislative Council só tem patriotas. Aparentemente estariam criadas todas as condições para que o combate à pandemia se tivesse processado de uma forma simples, segura e eficaz.
Porém, aquilo que se verifica é que esse combate está a revelar-se um fracasso. É verdade que um bandido à solta, um perigoso estudante do movimento pró-democracia ou um assaltante de ourivesarias não é o mesmo que um vírus, em qualquer uma das suas variantes, e o que serve para apanhar os primeiros não se aplica ao último. Mudar o sistema eleitoral também não serviu para ajudar a combater o vírus.
Não obstante, a semana que findou mostrou que o encarceramento social e cívico, o cerceamento de direitos e liberdades e uma política de tolerância zero, ou aparentada, que nem sequer poupou as desgraçadas das trabalhadoras filipinas, sempre com o aval do Governo central, não impediu o reaparecimento do vírus e o espectáculo deprimente dos últimos dias. As políticas de combate à pandemia, e controlo desta, impostas ao longo destes anos provocaram um rombo fortíssimo na economia e no tecido social, gerando inclusivamente problemas de natureza psicológica em muitos residentes.
Ver uma cidade como Hong Kong, rica e poderosa, uma das mais importantes praças financeiras da Ásia, em tempos uma referência mundial, actualmente governada exclusivamente por patriotas, ser chamada à atenção pelo Presidente Xi face às imagens de caos e incapacidade dos seus serviços de saúde, mostrando pacientes na rua em dias frios de Inverno, como se de uma metrópole do terceiro-mundo se tratasse, é uma tristeza que há alguns anos seria inimaginável. Mas é um bom sinal do desgoverno e do desacerto das políticas. Não é por se apertar a malha que se melhora a governação, ou os impreparados se tornam capazes.
Com a autonomia e o governo pelas suas gentes há muito hipotecado pela suas elites, seria bom que também em Macau, onde só agora se acordou para a vacinação, e o sinos tocaram a rebate, se ponha os olhos no que se está a passar em Hong Kong.
Se aqui não se for capaz de ver o filme, continuando-se à procura de "turistas" para encherem os hotéis de Macau e a distribuir medalhas a eito aos amigos, há quem se arrisque a ser declarado incapaz para todo o serviço.
Os custos estão a ser demasiado elevados e persistentes sem qualquer garantia de recuperação a curto ou médio prazo. E uma coisa é certa: na hora de apreciação da governança o critério também será de tolerância zero. E não apenas por parte dos residentes de Macau.
Dele se pode dizer que é um homem em movimento. Em movimento perpétuo, uma espécie de corpo celeste emitindo luz própria e sempre a correr daqui para lá e acolá tantos são os projectos. Hoje um, amanhã outro. E como se não lhe bastassem todos os prémios e menções que já recebeu e que em muito têm prestigiado a fotografia universal que fala em português, lembrou-se de criar, já que de um criador se trata, o Ochre Space. Ou melhor, digo eu, a Galeria Ochre.
Devido à pandemia ainda não franqueou as suas portas ao público, mas em breve fá-lo-á porque há locais onde não há mal que sempre dure.
A luz de Lisboa ficará certamente enriquecida com mais este acolhedor espaço dedicado à fotografia, onde será possível encontrar a dita em dimensões generosas, as do anfitrião e dos amigos que ele convidar, muitos livros, e todas as Zine que o João Miguel já produziu.
Eu espero lá poder passar um dia, e também visitar a família e os amigos, assim que me seja possível sair desta suave colónia onde resido e ultimamente cumpro pena com uma dose tripla de vacinas, sem ter necessidade de no regresso cumprir uns fantásticos vinte e um dias de quarentena no hotel para onde me enviarem – se houver disponibilidade de quartos, claro, pois que de outro modo ficarei "pendurado" no exterior, à falta de melhores ideias –, usufruindo de uma comida maravilhosa, os quais serão depois acrescidos de mais oito dias de castigo em casa por me ter lembrado de saltar a cerca.
Tal como muitos outros, já havia chamado a atenção para a nefasta acção de alguns desqualificados que os partidos políticos escolhem para tratarem de assuntos públicos de importância extrema.
Como não podia deixar de ser, o Tribunal Constitucional veio esclarecer, para quem ainda precisasse de ser esclarecido, que "qualquer «deliberação» − ou, melhor dizendo, acordo informal − que tenha sido tomada pelos partidos políticos no sentido de se dispensar a junção da fotocópia do documento de identificação ao boletim de voto é grosseiramente ilegal – ultra vires –, não produzindo os efeitos jurídicos conformes ao respetivo conteúdo".
A consequência foi a declaração de nulidade dos votos, com a consequente obrigação de repetição das eleições no Círculo da Europa, e todos os incómodos, custos e desprestígio para as instituições que resulta de ilegalidade tão grosseira.
Quem provocou toda esta inqualificável asneirada vai continuar a andar por aí, em campanha, a frequentar as sedes dos respectivos partidos e a sentar-se em S. Bento ou num outro lugar qualquer pago por todos nós, onde possa ser agraciado pelos contínuos maus serviços que presta à democracia, aos partidos e ao país, sem que ninguém seja efectivamente responsabilizado e punido.
Depois, ainda há quem, sendo também responsável por muito do pessoal político sem qualificações que se senta nas instituições do Estado, venha apelar ao esforço e sacrifício dos emigrantes.
É este, e será sempre, o nosso drama enquanto não virarmos o país do avesso e os partidos políticos não se livrarem dos emplastros que os encharcam e poluem. Gente que nem para contar votos serve.
Defenestrá-los de todas concelhias e secções seria uma das soluções. Só que estou convencido que ainda assim seria pouco, pois bastariam uns minutos para sacudirem o pó da roupa, comporem-se e voltarem a apresentar-se para todo o serviço. Como se não fosse nada com eles. Vergonha é coisa que nunca possuíram.
O J. tinha-me feito a sugestão há tempos. Pensei no assunto e entendi ser chegado o momento. Agradeço-lhe a boleia.
O resultado, com todos os defeitos de uma escrita apressada para não perder actualidade, ficou aqui, na edição online do jornal Público. Tem por título Potenciar a fraude e a desilusão. E diz respeito a todos nós, aos de dentro e aos de fora. Se é que ainda queremos ter voz.
Vá lá que no final ainda apareceu alguém com bom senso suficiente para mandar os piscos recolherem a penates. Antes de fazerem mais estragos ao regime.
Não há partida sem regresso. Algum dia teria de me reencontrar com a minha pele. Mais dura, mais seca, mais gretada em cada dia que passa. Nem por isso menos tolerante e interventiva. Não há mal que sempre dure, seguramente, ainda que se prolongue pela eternidade, mas a juventude também não é eterna. E o que ficar por escrever e dizer nunca será registado. Voltemos pois.