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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Sabia-o doente há algum tempo e foi com tristeza que esta manhã soube do passamento de Vítor Ng (Ng Wing Lok, 吳榮恪).
Foi-me apresentado pelo Rui Afonso no tempo em que ambos eram deputados na Assembleia Legislativa, em meados dos anos 80 do século passado, pouco depois de eu demandar Macau pela primeira vez.
Industrial, empresário, político, no ouvido ficar-me-ão as conversas por causa das receitas do jogo e as posições vigorosas, por vezes controversas e com as quais nem sempre concordei, que tomou em defesa daqueles que entendia serem os interesses de Macau.
Depois de 1999, quando eu fazia uma investigação sobre a classe política local, e estando ele na Fundação Macau, prontificou-se a receber-me e a abrir-me portas, dando-me o amparo necessário para melhor perceber um lado pouco conhecido e obscuro para a maioria dos ocidentais da elite chinesa.
Melómano confesso, e sabendo-me também apreciador do som das grandes orquestras, um dia, após um belíssimo jantar em sua casa, levou-me a conhecer a sala que possuía magnificamente equipada e onde se deliciava com a audição de "la grande musique". Foi uma 1812 com uns canhões inesquecíveis.
Ultimamente, estando já muito fragilizado, encontrava-o amiúde nos concertos do Centro Cultural, procurando o meu braço para poder descer as escadas até ao seu lugar sem correr o risco de se estatelar.
Que o Vítor descanse em paz. E que no Além não lhe faltem os músicos e as partituras.
Passada a fase em que os não-residentes titulares dos chamados "blue card" eram sistematicamente colocados à margem, como se tivessem lepra e não fossem merecedores de quaisquer direitos, parece que aos poucos começa a voltar a lucidez aos decisores políticos.
Se no ano passado, quando começou a disseminação do novo Coronavírus, aqueles trabalhadores que tanto contribuem para o nosso bem-estar e progresso nem às simples máscaras de protecção tinham direito, aliás na linha das gravosas imposições que lhes haviam sido feitas em matéria de cuidados de saúde (algumas ainda em vigor), agora foi com satisfação que ouvi o Dr. Alvis Lo, do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, anunciar que as vacinas contra o COVID-19 serão acessíveis gratuitamente a residentes, não-residentes e aos estudantes vindos do exterior.
Se o Presidente Xi se dirige ao de Davos apelando à unidade internacional no combate ao novo Coronavírus e às alterações climáticas, nada melhor do que começar por mostrar essa unidade dentro de casa, tratando todos por igual e a todos conferindo os mesmos direitos e as mesmas obrigações.
Quem sabe se estes últimos desenvolvimentos não servirão para ensinar alguma coisa àquela gente ignorante que na Assembleia Legislativa e à custa dos não-residentes tanto mal tem causado nos últimos anos à RAEM, e contribuído para denegrir a imagem internacional da China, à força de se quererem mostrar patrióticos.
Poderá nunca haver democracia, mas ao menos que haja bom senso e justiça na governança. Sempre será um princípio.