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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O New York Times relatava esta manhã que "China warned against Lunar New Year travel in February after finding cases in Dalian, a northern port city, and Beijing, the capital. After months of near-zero case numbers that have allowed life to largely return to normal, the country of 1.4 billion people has recorded 42 locally transmitted cases in the past week, many of them were of unknown origin. In line with the government response to previous outbreaks this year, officials have been testing hundreds of thousands of people in Beijing and millions in Dalian, and residents of Dalian have been advised not to leave the city. China plans to vaccinate 50 million people."
Uma rápida passagem pelos sites oficiais chineses confirma uma progressão do vírus no interior do país.
Posto isto, sabendo-se que os estrangeiros continuam à porta, importa chamar a atenção das autoridades de Macau para o seguinte:
1) O aparecimento de focos locais de transmissão de Covid-19 de origem desconhecida confirma que a situação epidémica na China ainda não está controlada;
2) O facto dos focos serem de origem local desconhecida, e não importados, acentua a falta de justificação para não se permitir a entrada de estrangeiros não-residentes sujeitos a quarentena, demontrando-se que o problema é interno e não importado por via dos estrangeiros;
3) A falta de não-residentes em Macau está a causar inúmeros transtornos à operação de muitas empresas locais, agravando a crise;
4) A posição ontem manifestada pelos Serviços de Saúde de Macau, no sentido de que mesmo quem apresente um teste negativo e tenha sido vacinado ver-se-á obrigado a fazer uma quarentena de 21 dias, cheira-me a excesso de zelo dos mangas-de-alpaca locais.
Finalmente, perante o que se vai sabendo, gostaria de perguntar o seguinte:
– Se jornalistas estrangeiros residentes em Macau podem viajar na China sem fazerem quarentena, nem à ida nem no regresso, a convite das autoridades locais e para efeitos de pura propaganda, apenas com dois* testes negativos, por que motivo é impedida a entrada de estrangeiros em Macau, ainda que também com teste negativo e realização de quarentena, se igual princípio não é seguido pelas autoridades do Governo Central e da província de Guangdong?
– Qual a justificação para a proibição se não existem razões sanitárias válidas para esse impedimento?
– É aceitável que razões sanitárias possam ser afastadas por motivos de propaganda política, ainda que estes sejam tratados como oportunidade de intercâmbio cultural, transmissão de informação adequada ou algo similar?
* - Editado às 18:00 para correcção, uma vez que foram exigidos 2 (dois) testes negativos, e não um, o que não altera os termos da questão, isto é, que nalgumas circunstâncias bastam testes negativos, noutras é preciso quarentena, e em todas as demais situações nem com testes nem com quarentena.
Existe uma lei de prevenção e controle do ruído ambiental na RAEM. Existe um serviço público denominado "de protecção ambiental".
Este teria, entre outras funções, a obrigação de fiscalização do cumprimento dos limites máximos à produção de ruído. Mas em matéria de ambiente, e não apenas no que ao ruído ambiental diz respeito, é como se não existisse. O camarada que lá está continua a fazer figura de corpo presente. É apenas mais um instrumento ao serviço da máquina de propaganda do poder político. Os atropelos à lei persistem.
Há dias, os serviços do Ministério Público mudaram-se para novas instalações. Deixaram as instalações "provisórias" onde permaneceram a alimentar o senhorio durante mais de duas décadas.
Desde então, aqui no meu escritório, os níveis de ruído tornaram-se insuportáveis para quem trabalha. Os berbequins e os martelos começam logo de manhã e prolongam-se por todo o dia. O pó que os operários produzem a entrar e a sair é de tal ordem que o Condomínio se sentiu na obrigação, sem que eu o pedisse, de me mandar lavar o carro que está na garagem. Conseguir falar ao telefone, como fiz para a DSPA, ou ler aos outorgantes um acto notarial é um exercício permanente de berraria.
Continuo sem compreender por que razão não se estabelecem horários diferentes para a execução de obras em edifícios de escritórios, locais onde seria possível fazerem-se depois das 18 horas, bem como aos sábados, aos domingos e em dias feriados sem o perigo de se perturbar o trabalho dos residentes e de visitantes, ou o descanso de quaisquer moradores.
Disse-o antes. Voltarei a insistir. Alguém tem de continuar a fazê-lo. Para não nos habituarmos a viver como ratos fora dos intervalos em que se ouve o hino.
(créditos: Rodrigo Antunes/Reuters)
Quando se está longe do rectângulo e são muitas as preocupações, creio que para quem está fora haverá a tendência para desvalorizar as lutas de pintos e carapaus em que o país regularmente se envolve.
Os motivos para que tal suceda são muitos. Os actores que temos ainda não têm a classe de alguns dos agentes dos livros de Le Carré, Green ou Maugham. As histórias são muitas vezes requentadas. A informação que chega é normalmente má, pouco esclarecedora; não raro tendenciosa.
Acontece, todavia, que, por vezes, graças à televisão e à miríade de novas tecnologias ao alcance de qualquer um, se estabelece uma ligação directa entre tais personagens e os cidadãos em geral, qualquer que seja o ponto do globo onde se encontrem.
É por isso que um tipo poderá estar num lugar nos confins da Antártida a fazer o seu trabalho, em sossego, e de repente surge um curto-circuito e vê os dias perturbados pelas armas que desapareceram e foram recuperadas sob o olhar seráfico das lunetas de um qualquer ministro da Defesa, que não sabia, não sabe e nunca soube de nada, ou pela voz tonitruante do senhor das Infra-estruturas e da Habitação.
Quando se pensa que as coisas poderão estar a acalmar, logo nos chegam boas novas dos pastéis de Belém, das traquinices do professor (a)Ventura, das lições de inglês do treinador do Benfica, das acolhedoras visitas do líder do CDS a empresários e chefes de cozinha em greve de fome, ou dos assentamentos de vigas em que de tempos a tempos se envolve a malta da Administração Interna. E, depois, como se não pudesse passar sem marcar o ponto, lá aparecem o Costa do entrudo e o gigantone de Boliqueime.
O traço comum a todas estas figuras é o modo como se fazem ouvir. À medida que perdem autoridade fixam o olhar e engrossam a voz. Segurem-se que vem aí o Carmo e a Trindade.
Mas ao lado destes há outros, que não se sabe bem de que filme vieram, nem para que peça seguirão. Estes vêm normalmente dos assentos puídos das estruturas da administração pública, tendo ultimamente tendência para passarem longas horas a debitar conselhos diante de microfones e câmaras de televisão, que podem ir da melhor forma de ir à horta da vizinha apanhar umas couves até às mil e uma maneiras de se empacotar o Covid-19.
E quando todos esperavam que o dr. Macedo, da CGD, ou o dr. Mexia, ex-EDP, do alto da suas convicções patrióticas, se apresentassem ao serviço na TAP, para mostrarem aos sindicatos e aos portugueses como se podem fazer milhões com a prata da casa, sem se empurrarem os prejuízos para debaixo do tapete, nem se sobrecarregar o estado social com assalariados pequeno-burgueses, crentes e reformados depenados, assim aliviando as preocupações de Pedro Nuno Santos, eis que chega a proposta de um candidato a rei mago de se antecipar a celebração do Dia de Natal para a véspera.
Creio que a proposta é fascinante, maravilhosa mesmo, e capaz de gerar um movimento transversal à sociedade portuguesa, quem sabe se com repercussões internacionais, no sentido de se levar essa ideia mais longe, explorando todas as suas vertentes, como forma de antecipação do fim da pandemia.
Se foi possível adiar o Europeu de futebol e mudar os Jogos Olímpicos, é óbvio que faz todo o sentido mudar o Natal, e por essa via será possível mudar o mundo, dar a volta às previsões da OMS e ignorar todas as reticências que têm sido colocadas sobre o momento em que se regressará à normalidade.
Pessoalmente, não estou convencido de que haja qualquer vantagem em se regressar ao tempo anterior à pandemia porque isso nos colocará à mercê de nova pandemia. Um dia são as galinhas, no outro são os porcos, a seguir vêm os morcegos e os pangolins, e não se sai disto.
Daí que o ideal seja acolher a proposta daquele senhor, sugerindo eu que se tenha a visão suficiente de levar além da imaginação essa proposta de antecipação do Natal para 24 de Dezembro.
É que sendo neste momento poucas as hipóteses de se dar cabo do vírus, mesmo com vacinas, antes de meados de 2021, talvez seja possível queimar algumas etapas, antecipando desde já o Carnaval para o Dia de Ano Novo, celebrando a Páscoa na terça-feira de Carnaval e a Missa do Galo de 2021 em 24 de Abril, que seria a véspera do Natal “em liberdade”, que poderia voltar a ser celebrado num dia 25, com o que ganharíamos oito meses de uma assentada.
Tudo isto teria também correspondência nos calendários eleitorais e políticos, pois os mandatos do Presidente da República e do Primeiro-Ministro também passariam muito mais depressa, com os consequentes ganhos em termos orçamentais e a redução do período entre eleições. Poupava-se nos mandatos, nos discursos, nas comissões de inquérito, nas greves e até nas prescrições de uns quantos processos judiciais.
O mesmo se passaria com os mandatos dos líderes partidários, antecipando-se congressos e despachando-se desde já o dr. Rio, poupando-o a maiores sofrimentos, bem como ao Chicão a vexames culinários, e ao camarada Jerónimo à perda de mais um título para os lados da Luz. Já o Bloco poderia evaporar-se ainda mais depressa, dando sentido aos porfiados esforços que a sua direcção tem feito nesse sentido.
Enfim, não quero ser demasiado optimista. Não digo que fossem só vantagens. Seria sempre muito difícil separar o par Pinto da Costa/Ana Gomes, por exemplo, como fazer o Sporting chegar mais depressa ao título com o VAR, ou ver a tal Cristina eliminar o cheiro a fritos dos canais por onde passa. Mas restaria sempre essa esperança do CR7 jogar mais duas ou três épocas.
Fundamental era mesmo que não se alambazassem com as compotas. Lá porque estão ao fundo das escadas e andam há anos a dar cabo do mel e das bolachas, não quer dizer que possam fazer tudo por antecipação. Ninguém gostaria de os ver rebolar porta fora, com o rebanho do PAN, antes da chegada das vacinas e de fazerem a digestão das broas e do bolo-rei.
(Veloso Salgado, 1864-1945, óleo sobre tela, Museu Militar, Sala Restauração)
O PCP realizou o seu XXI Congresso. Como todos os congressos anteriores, foi um êxito retumbante. Eu atrever-me-ia mesmo a dizer que não há congresso, qualquer que seja o partido político português, que não seja um êxito. Mas os do PCP normalmente ainda são mais extraordinários.
Muitas foram já as análises efectuadas. Da preparação ao evento, sem esquecer as intervenções de dirigentes e militantes, numa reafirmação da sua cada vez mais desfocada visão do mundo.
Aqui quero apenas salientar um aspecto que continua a acentuar-se, mas que nem por isso leva o PCP a procurar encontrar as razões e, eventualmente, a mudar. Trata-se da contínua quebra do número dos seus militantes, no que são acompanhados por outros partidos nacionais que recusam ou não conseguem renovar-se tal a forma como estão agrilhoados à sua própria mediocridade.
Na análise que ontem publicou, o Público salienta a descida do número de militantes nos últimos oito anos, isto é, de 60 484, em 2012, para 54 280, em 2016, até aos 49 960 de 2020. Ou seja, uma queda de 17,4%.
Se recuarmos um pouco mais verificamos que em 1983 o PCP tinha 200 753 militantes; em 1996 eram 140 000; e em 2006 esse número atingia 80 000. Entre 2006 e 2012 o PCP perdeu quase 20 mil militantes.
Nas Teses apresentadas ao XXI Congresso continua-se a sublinhar que "[o] Partido, para agir e desempenhar o seu papel de vanguarda na concretização dos seus objectivos, precisa de uma organização forte, estruturada e ligada às massas", esclarecendo-se que o número actual de militantes resulta de "uma redução ligada ao facto do número de recrutamentos não ter compensado o número de camaradas que deixaram de contar como membros do Partido", o que parece ser uma evidência lapalissiana, mas acrescenta-se que tal é devido "principalmente em consequência de falecimentos".
Durante anos procurei averiguar as razões para essa quebra, como fiz em relação a outros partidos, não me ficando pelo "principalmente". Até hoje o PCP não esclareceu, nem quer esclarecer, quantos dos que deixaram de constar como militantes saíram das suas listas por terem falecido, por descontentamento com a linha ideológica, por não concordarem com as práticas internas do partido ou por qualquer outra razão que os levasse a abandonar a militância.
Dizer apenas que a maior parte dos que saem representam "principalmente" falecimentos é o mesmo que não dizer nada. E o facto de 49% dos militantes do PCP terem mais de 64 anos, e apenas 11,4% terem menos de 40 anos, também não ajuda muito, porque não só não consta que nos outros partidos "morram" tantos militantes como no PCP, como se sabe que nos outros há quem não fique à espera da hora da morte para ser abatido nos cadernos de militantes.
Escrevia o Pedro Correia que depois da derrocada eleitoral nos Açores o PCP irá continuar a aprender à sua própria custa com as eleições que hão-de vir.
Não comungo desse optimismo. Aprender à sua própria custa ainda seria uma forma de aprender. Não me parece que possa vir a ser esse o caso.
Porém, olhando para a evolução dos números dos seus militantes ao longo das últimas décadas, para as teses do último e de todos os outros congressos que o antecederam, ouvindo os discursos e vendo a forma como vai diminuindo a influência política e social do partido, dir-se-ia que não querem aprender nada. Recusam-se a aprender, como também rejeitam mudar as lentes que usam, por mais riscadas e picadas que estejam, tentando convencer os outros de que aquelas é que são boas porque não partem de cada vez que caem ao chão. Ouvir alguns dos seus dirigentes hoje ou há quarenta anos é exactamente a mesma coisa.
O mundo mudou. O PCP e os seus dirigentes ainda não se aperceberam disso. E dos militantes que se aperceberam o PCP diz que só se libertam na hora da morte.
Sem mudar de lentes e a manter-se a constância de "falecimentos" dos seus militantes, com mais alguns congressos, o PCP arrisca transformar-se definitivamente num fantasma que andará pelo meio de quatro paredes à procura da sua sombra.
Enquanto lá fora a luta continuará. Sem o PCP. E com andrés e venturinhas descendo a Avenida da Liberdade.