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outono

por Sérgio de Almeida Correia, em 08.10.20

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O Outono regressou a Macau sem que pareça ser esta a estação da segunda Primavera que todos os anos se repetia e de que Camus falava. Aqui, as folhas não se tornam flores.

Desta vez também não houve Semana Dourada nem para os residentes, nem para os turistas, nem para os cofres da RAEM.

As expectativas criadas pelo Chefe do Executivo e membros do Governo relativamente ao reinício da emissão de vistos na RPC, bem como as previsões (absolutamente hilariantes) que foram anunciadas sobre a ocupação de hotéis para a Semana Dourada, revelaram-se de tal modo afastadas da realidade que se diria não ter havido qualquer base minimamente rigorosa de informação para se terem produzido as declarações que se fizeram durante os meses de Agosto e de Setembro.

O número de visitantes, ainda que vindo exclusivamente do interior da China, e a receita esperada ficaram extraordinariamente aquém daquilo que se projectava. Pouco mais de 120 mil turistas é um número ridículo. Uma queda superior a 86% por comparação com os números do ano anterior, numa altura em que aqui ao lado as estações de comboios estavam cheias e milhões se deslocavam de um lado para outro. Alguém já devia ter vindo explicar o que correu mal, e porque correu tão mal e tão distante do que foi equacionado e transmitido para a opinião pública ao longo de meses e semanas.

Percebeu-se, e há muito – pelo menos desde 2017, não tendo sido necessário esperar pelos acontecimentos de Hong Kong de 2019 –, que a autonomia da RAEM estava a ser cada vez mais cerceada em razão dos múltiplos erros cometidos na governação de Macau. Quer pelo seu próprio executivo, quer pelas decisões tomadas, orientadas ou estimuladas por Pequim, quer, ainda, pelo próprio rumo tomado pela política interna chinesa após as alterações constitucionais promovidas pelo Presidente Xi. Até aqui não houve nada de novo.

O que importaria agora perceber é por que motivo – depois de um encerramento abrupto das ligações ao exterior, cujo critério em relação ao impedimento de entrada dos trabalhadores não-residentes e aos estrangeiros ainda está por explicar a partir do momento em que foram criadas as condições para a realização de quarentenas rigorosas a todos os que chegavam, e sabendo-se que a situação de muitas empresas, e não apenas os diversos concessionários, e escritórios de profissionais liberais, grandes e pequenos, têm vindo a fazer um esforço imenso para manterem postos de trabalho, suportando estoicamente o peso de um prolongamento de medidas que perde justificação em cada dia que passa pela situação de total dependência em que se colocou a RAEM –, continua a não haver uma perspectiva mínima de curto e médio prazo que permita a revitalização da economia local sem colocar em risco a saúde pública e os resultados já alcançados.

Depois, as decisões tomadas em relação ao Grande Prémio de Macau, o maior cartaz turístico e único com dimensão mundial, reflectem um confrangedor amadorismo e falta de visão e rumo numa altura de crise. Ainda há um mês um dos principais responsáveis pela organização dizia, sem se rir, que havia imensos pilotos estrangeiros interessados em correr em Macau fazendo quarentena. Como se esta hipótese fosse minimamente razoável e viável para equipas e pilotos de topo.

Num momento em que todos os campeonatos mundiais de automobilismo e motociclismo estão a decorrer em todo o lado, muito embora com apertadas medidas de segurança, não havia nenhuma justificação para se cancelar a realização das provas da Taça do Mundo de F3 e da Taça do Mundo de GT, ou as corridas do WTCR.

Teria sido preferível realizar as provas sem público, garantindo transmissões televisivas e assegurando a promoção de Macau como um destino seguro e livre de COVID-19, se fosse o caso, e utilizando a experiência adquirida para testar e concentrar equipas e pilotos num espaço único, de onde sairiam apenas para o circuito, do que cancelar as provas e apresentar um programa de corridas sem qualquer interesse, apenas com pilotos vindos da RPC e locais, com muitos carros velhos e pouco competitivos, e substituindo a  venerada prova de Fórmula 3 por uma corrida de Fórmula 4 chinesa, cujo relevo no panorama automobilístico internacional é praticamente nulo.

Mas mais estranho, ainda, é que sem corridas internacionais e tendo perdido, tanto quanto se sabe, o principal patrocinador, o orçamento previsto para o Grande Prémio se mantenha e os preços dos bilhetes para o público sejam os mesmos como se fosse tudo decorrer dentro da normalidade, com um cartaz de categoria e como se viessem cá todas as estrelas da F3, do GT ou dos carros de turismo.

Há muita coisa por explicar, há muitas respostas que precisam de ser dadas. Vamos ver quanto tempo será preciso esperar até que tal aconteça.

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