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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Esteve bem, muito bem, o Chefe do Executivo na resposta que deu na Assembleia Legislativa ao deputado Mak Soi Kun.
É verdade que Ho Iat Seng disse o óbvio, mas isso, neste momento, não será de menos tendo em atenção o passado recente. Fez bem em dizer, sem rodeios e direito ao assunto, ao que vem.
Primeiro vieram os peões de brega, que aliás andam por aí há já alguns anos em seminários, conferências e quejandos, queixando-se da carga fiscal. Ficámos cheios de pena.
Como não desse o resultado esperado, veio então o senhor deputado, qual bandarilheiro de Semana Santa, que ainda há um mês dizia que “as empresas do sector do jogo, (...), ganham muito dinheiro todos os anos, mas precisam que alguém lhes fale para assumirem as suas responsabilidades sociais durante a ocorrência de grandes incidentes", e sem que se percebesse se de um acto de contrição se tratava ou se de uma falha de memória, fazer umas chicuelinas e gaoneras perante a afición casineira e a da própria AL.
Caiu mal. Muito mal.
Há muito que disse, e também o escrevi, e não foi hoje nem ontem, sobre o que pensava relativamente à responsabilidade social das concessionárias e o que importava vir a fazer no futuro em matéria de jogo.
Estou por isso inteiramente de acordo com o Chefe do Executivo quanto às preocupações que manifestou a esse nível, bem como no que concerne à manutenção do nível de tributação sobre os lucros decorrentes do exercício da sua actividade de exploração do jogo.
Se olharmos ao valor dos investimentos realizados, aos prazos de retorno e aos lucros gerados nos últimos quinze anos — não vale a pena perder tempo com o que está mais para trás —, isso basta para se perceber que aquilo que as operadoras do jogo receberam foi incomparavelmente superior ao que investiram. E se alguém tivesse falado num aumento da sua tributação daí também não viria escândalo.
Não serei eu a propô-lo, mas não deixarei de dizer que quem ganhou o que ganhou à custa do jogo, antes e depois da liberalização, deveria demarcar-se dos pedintes que em seu nome falam, seja para reduzirem a taxa do imposto especial ou solicitar "apoios" assim que estala a borrasca.
A RAEM não tem feito outra coisa, há um ror de décadas, que não seja apoiar a indústria do jogo. E todos os que vivem à volta dessa manjedoura, fechando os olhos ao que ia acontecendo à cidade e aos seus residentes. E até acomodando a lei "à prática" para distribuir mais uns sacos de rebuçados a quem não se qualificou para os receber.
Está na altura da indústria do jogo, salvo raras, honrosas e pontuais excepções, assumir as suas responsabilidades, perder a sobranceria, e dar a Macau o equivalente ao que tem sacado com pouco ou nenhum esforço.
Manter postos de trabalho numa altura de crise não é nenhum favor que as concessionárias estejam a fazer à RAEM ou à sua população quando o seu mercado está há décadas garantido.
E já que continua a haver quem não tenha vergonha para ver o óbvio antes de estender a mão para ir ao pote, foi bom que o Chefe do Executivo dissesse ao que vem, caso não tivessem ainda percebido.
O tempo dos corsários e do saque acabou. A responsabilidade social de quem mais beneficiou com o laxismo, a corrupção e a incapacidade para governar não pode continuar a vir de empurrão.
E quem não gostou do que ouviu, a começar pelos ganaderos locais, poderá sempre ir abrir casinos no Alasca. Ou na Líbia.
Certamente que não faltarão por lá os ursos e os camelos, nem os esquimós e os beduínos com que se habituaram a lidar para lhes encherem os elevadores, as escadas rolantes e os cofres, deixando as gorjetas para se pagarem campanhas eleitorais fora de portas.