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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
A decisão já tinha sido anunciada em Inglaterra. No fim-de-semana passado repetiu-se em Portugal. Dizem os responsáveis das ligas e da Federação Portuguesa de Futebol que estão proibidos os cumprimentos, o tradicional aperto de mão entre as equipas e os árbitros, antes do início dos jogos. Deixaria de ter lugar por razões que visam evitar a propagação do Covid-19, o novo coronavírus.
Confesso que não percebo de todo essa decisão.
Se um dos intervenientes no jogo estiver infectado não será por essa medida que se salvará alguma coisa.
Futebol não é ténis, em que cada um está na sua metade do campo, com os jogadores normalmente afastados umas dezenas de metros uns dos outros e com o árbitro longe deles e sentado numa cadeira mais alta.
Durante os jogos de futebol são inúmeras as vezes que os jogadores tocam nos árbitros. Há choques casuais, muitas vezes com os próprios árbitros e fiscais. Há quedas que não se podem evitar junto às linhas laterais. E também acontece que os jogadores estão permanentemente em contacto corporal. O futebol é um desporto de contacto.
Depois, estão todos juntos na pequena área nas marcações de livres e cantos, quando protestam, falando na cara do árbitro e dos colegas, e há dezenas de faltas por jogo.
Os jogadores e os árbitros também transpiram, passam as mãos pelas roupas suadas, deles e dos adversários. Quando correm podem largar milhares de gotículas, não usam máscara, podem tossir, alguns cospem, outros assoam-se com os dedos, caem, e logo vêm os colegas e adversários dar-lhes uma mão, ou as duas, para os ajudarem a levantarem-se. A seguir ajeitam a melena, a camisola e os calções, e abraçam-se efusivamente de cada vez que há um golo...
Talvez pudessem obrigá-los a todos a usarem luvas ou a passarem as mãos por um produto desinfectante imediatamente antes de entrarem em campo. Para se poderem cumprimentar.
Eu farto-me de lavar as mãos. E ultimamente de me desinfectar.
Na nossa vida social já somos muitas vezes obrigados a comportar-nos como bichos. Nunca pensei que se fosse ainda mais longe.
Eles é que devem estar correctos.