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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O futebol português é cada vez menos notícia pelas boas razões. E até passaria despercebido, de tão mau que é a nível interno, não fossem os seus actores, os que actuam dentro mas também os que andam pelos balneários e pelas televisões, apostarem em dar nas vistas.
Compreende-se que alguns tendo o tamanho da Betesga acreditem possuir um ego maior do que o Rossio, mas ainda assim há limites que não deviam ser ultrapassados.
O treinador do F.C. Porto até podia ter toda a razão contra a arbitragem do jogo com o Marítimo, o que eu duvido porque já se tornou habitual só se queixar dela e do anti-jogo quando perde pontos; só que as suas declarações deviam levar a uma tomada de posição da Liga de Clubes e dos adeptos.
A linguagem de carroceiro e o estilo azeiteiro do fulano não constituem nada de novo. Os presidentes de alguns clubes, incluindo do meu, por vezes também se esforçam bastante. Mas o à-vontade com que o treinador do FCP o faz regularmente envergonha muita gente honrada e educada adepta do clube do Norte.
Sei que não é caso único, e em Macau também temos quem, sendo mais velho e com muito mais responsabilidades sociais e profissionais, teime em se colocar no mesmo patamar de cada vez que lhe colocam um microfone à frente.
Desconheço se será um novo padrão. Sinal de mau gosto é com toda a certeza. E será sempre um mau exemplo para um desporto que tem milhões de apaixonados, muitos deles crianças, em todo o mundo. Bem podem falar de fair play, de respeito, do futebol como escola de virtudes. O que ultimamente se vê é apenas disto.
A forma como depois alguns alunos e os seus pais falam com os professores e se comportam nas escolas, ou a linguagem que se ouve dentro dos autocarros entre os miúdos que vão ou vêm das aulas, é apenas um reflexo do que disse o treinador do FCP alto e bom som. A frase mereceu acolhimento na primeira página do mais lido jornal desportivo português.
Por esta e outras é que o futebol se assume cada vez mais como um desporto destinado a gente ordinária, trapaceiros e arruaceiros. E isto é triste.
Depois de ver, ouvir e ler o que foi dito sobre os protestos em Hong Kong pelo primeiro-ministro de Singapura, espero que o Governo de Pequim na próxima conferência de imprensa do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, à semelhança do que faz com todos os que se pronunciam sobre a situação de Hong Kong, nomeadamente com alguns congressistas dos EUA e com Chris Patten, que teve inclusivamente responsabilidades governativas na ex-colónia britânica, avise Lee Hsien Loong de que não deve interferir nos assuntos internos da RPC.
Se nada disser, o Governo Central perde objectivamente qualquer autoridade moral para dizer alguma coisa sobre os que criticam a acção de Carrie Lam.
Porque não se pode ter sobre o mesmo assunto uma posição para as segundas, quartas e sextas, quando os críticos se pronunciam, e outra diferente às terças e quintas, quando os aliados falam.
Um tal Prof. Gu Xinhua, com um "Ph.D." em "financial economics" da Universidade de Toronto, e que actualmente lecciona na Universidade de Macau (UM), esteve ontem num evento denominado Annual Conference of Macao Studies 2019 (sim, Macao com "o"). Entre outras coisas, certamente muito interessantes, também entendeu dever pronunciar-se sobre o judiciary system de Macau e sobre os legal system e judicial system de Hong Kong.
O Prof. Gu Xinhua não explicou os conceitos que utilizou para todos perceberem a que realidades se estava a referir, mas o que disse foi suficiente para o Macau Daily Times lhe dar a atenção devida, o que eu agradeço, não fossem as suas afirmações passarem despercebidas. E o que disse foi digno de uma grande sumidade, de um verdadeiro patriota.
Um professor de uma universidade, instituição de ensino superior pública, que respeita o princípio "um país, dois sistemas", e que numa conferência produz afirmações do tipo "Macau's judiciary system is not controlled by white people. This is our advantage", "Hong Kong legal system is in the hands of white people and foreigners" e "the mess of Hong Kong is due to Hong Kong's judicial system being too lenient [on those opposed to the government or police]" só pode ter vindo directamente da campanha do Grande Salto em Frente (Great Leap Forward, 大跃进) ou da Revolução Cultural. Um sucesso, portanto.
Fico encantado, como cidadão de Macau, por saber que a UM continua a acertar no recrutamento do pessoal da linha da frente. Foi pena que Chui Sai On não o tivesse já nomeado deputado. Ao lado das outras sumidades e talentos, longe do "white people" e dos "foreigners", é que ele estaria bem.
A Universidade de Toronto foi um acidente de percurso na vida do Prof. Gu Xinhua.
Se não for nomeado deputado pelo futuro Chefe do Executivo, a RAEM e todos nós devíamos ajudar o Prof. Gu Xinhua a reparar aquele acidente de percurso, mandando o seu currículo para as instituições do outro lado das Portas do Cerco. Não digo para a Universidade de Jinan, que tem lá muitos estrangeiros, mas para uma como a UM, onde o "white people" e os "foreigners" não se atrevam a aparecer.
Bem sei que a UM, apesar de ainda por lá vaguearem meia-dúzia de portugueses (white people de estimação), e alguns desde antes de 1999, entretanto reconvertidos ao maoismo, é uma das novas vanguardas do capitalismo patriótico na luta contra o imperialismo estrangeiro, mas quem sabe se uma universidade da Mongólia Interior não terá uma cátedra à altura do seu patriotismo?
Os anos passam e o Festival Internacional de Música de Macau regressa sempre na mesma altura. E isto é bom.
Na sala ouve-se a voz de alguém que convida em português a responder aos inquéritos que são distribuídos pelas assistentes. Para as pessoas se habilitarem a “valiosos prémios”.
Porém, suspeito que os subalternos só queiram falantes de língua chinesa a habilitarem-se aos prémios. Porque os inquéritos são distribuídos exclusivamente nessa língua. E só a opinião de quem responde aos inquéritos em chinês deve ser importante.
Em Jixi ou Xining também só distribuem à população inquéritos em chinês. Compreende-se. Um país é mais importante do que dois sistemas, como já nos ensinaram.
Fico é na dúvida se o FIMM será um evento internacional. Pergunto para mim se é verdade que existem duas línguas oficiais na RAEM. E, também, se num evento internacional com algum público que só fala inglês não seria conveniente que os inquéritos, além de incluírem as duas línguas oficiais, não deviam ser também em inglês? Tal como os programas dos espectáculos são trilingues.
As pessoas erram muitas vezes sem terem consciência de que erraram, só se apercebendo disso mais tarde. Os que têm a graça de um dia descortinar o erro. De o admitir e de o corrigir. Normalmente quando o mal está feito.
Deve ser esse o caso. Mas repetindo-se a asneira com uma impressionante regularidade não creio que seja incompetência.
Há quem me diga ser essa mais uma manifestação de patriotismo iluminado. Fará parte de uma estratégia.
Eu penso que é apenas, mais uma vez, um problema agrícola. Isto é, de cultura. De cultura intensiva da estupidez. Por isso se semeia e reproduz anualmente com tanta facilidade nos eventos musicais com a chancela do ICM. A terra é fértil.
No final lá virá o louvor. Toca a todos.
Devagar, a gente regressa aos poucos à rotina. A normalidade nunca é igual quando interiormente nos preparamos para a mudança.
O tempo não perdoa. E mói a dor da distância.