Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um homem com a história de vida de Jorge Fonseca merece todo o respeito do mundo. Um homem com a coragem, a perseverança e o talento de Jorge Fonseca é um campeão. Um campeão para o ser não precisa de medalhas. Jorge Fonseca não precisava de nenhuma medalha para ser um campeão. Mas depois de tudo por que passou, e de tudo o que fez, se ainda consegue ser campeão do mundo de judo no Japão, batendo um outro campeão na final, e arrecadando uma medalha de ouro, isso é a conquista do universo. E um homem que consegue conquistar o universo de uma forma tão simples e humilde como ele o fez, que é como quem diz, conquistar a admiração de todos nós, dentro e fora de portas, é um homem que nos emociona, e que tornando-nos ainda mais pequeninos do que já somos nos faz sentir enormes. Quem tem este condão pode ser tu-cá-tu-lá com todos nós. E como isto não se explica, o Jorge Fonseca tem todo o direito de ser recebido como quer, com toda a gente a dançar, até mesmo pelos pés-de-chumbo. E qualquer que seja o resultado que venha a obter nos Jogos Olímpicos de Tóquio, ele entrou para a galeria exclusiva dos meus heróis. Porque os meus heróis têm nome. Este chama-se Jorge Fonseca e a única coisa que posso dizer-lhe é, na minha língua, que é também a dele, obrigado. Ficar-lhe-ei a dever a vida toda, tal como a muitos outros, mas não me importo, e peço-lhe desculpa pela franqueza. Tão simples quanto isto.
Lá fora chove intensamente. Cai o céu em mais uma noite de tempestade tropical. Relampeja e troveja quando, a propósito do admirável documentário de Bruce Weber, recordo o fabuloso Chet Baker e ouço Almost Blue.
Há sempre uma encruzilhada na vida de um homem normal. Talvez várias na vida de um homem que escape à mediania. Uma ou várias implicam escolher. Pode ser a decisão de dar ou não dar um beijo, o destino de uma paixão, a escolha de um amor (sim, o amor também é uma escolha). Para alguns a descoberta de uma vocação, por vezes a opção entre uma vida livre a sofrer ou uma do tipo vegetativa, rica e sem dramas. Com princípio, meio e fim, ignorando a dor, própria ou alheia.
Tirando aquela parte em que o entrevistador pergunta a Chet Baker qual terá sido o momento mais feliz da sua vida, cuja compreensão — digo eu, que não sou tão exagerado como ele ou Faulkner — só está ao alcance de um alfista(*), recordo aquele momento em que Baker, olhando para si próprio, diz o que aconselharia a um filho. Era mais ou menos isto: descobre o que queres ser, vai por ti, e depois procura ser um génio no que escolheste.
O problema é que nem todos têm o mesmo grau de loucura nas escolhas que fazem para atingirem a genialidade. E depois é preciso levar o resto da vida a conviver com isso. Uma chatice.
A diferença entre um homem e um génio está na sua dose de loucura.
E ser capaz de colocá-la ao serviço dos outros dando prazer a si próprio. Seja na literatura, na pintura, na música, na medicina, num artigo de jornal ou numa sala de audiências, sem nunca se esquecer que a genialidade só pode ser reconhecida se no meio de toda a loucura o génio ainda for capaz de realizar que vive em sociedade. E por causa dela.
Os outros tornam os génios menos infelizes quando reconhecem a sua loucura. Sem dizê-lo. E ao tirarem partido dela, em cada instante, ainda quando não o reconhecem, ajudam a prolongá-la. A realização do génio passa por trazê-lo até à nossa dimensão. Até à ignorância. É nisso que está a genialidade. E só os que humildemente o aceitam conseguem atingir esse estatuto. Almost Blue.
(a foto tem direitos de autor)
(*) Contra tudo o que se poderia imaginar, Baker diz ter sido o momento em que guiou pela primeira vez o seu Alfa Romeo. Eu não vou tão longe, embora não possa deixar de sorrir.
(via Delito de Opinião)
O comentador oficial da Associação dos Advogados de Macau (AAM), isto é, desde 1995, com excepção do longo interregno entre 2000 e 2002, queixou-se de que os órgãos de comunicação social de Macau ouvem sempre os mesmos comentadores. Também me parece.
Quando o li até pensei que era o Guilherme Valente a queixar-se. Depois lembrei-me que já cá não mora. Nem ele nem o Camões.
É, em todo o caso, um problema sério e com raízes.
No tempo do governador Almeida e Costa já era assim. O Dr. Assumpção também se queixava do mesmo. Depois melhorou quando se andaram a fazer aquelas negociatas no tempo do Melancia. Como os comentadores andavam ocupados a enriquecer com as concessões e as obras não tinham tempo para comentar. E com o general Rocha Vieira as coisas também não andaram bem. Não havia comentadores. Só rumores. E quando alguém queria comentar pensavam logo em comprar o jornal. Ou o comentador. Alguns até vinham em excursão de Lisboa. E pronto, estava o comentário feito. Primeiro era à saída do Terminal do Porto Exterior, depois à chegada à sala VIP do Aeroporto.
Mas no essencial estou plenamente de acordo com as críticas. O queixoso tem toda a razão. Aliás, penso que devia queixar-se mais vezes. Não sei se já terá pensado fazê-lo ao Senhor Procurador. Ou ao Comissário Contra a Corrupção.
Oxalá que o Dr. Rui Cunha (devia convidá-lo para as tardes da Fundação) e a Dra. Manuela António tenham tempo para ouvirem as suas queixas. O Dr. Frederico Rato não deve ter muito tempo para isso porque também anda ocupado a comentar. É como o meu amigo Miguel Senna Fernandes. A Dra. Amélia tem de contratar os artistas para o arraial e ultimamente só fala de portugalidades. E o Dr. Leonel Alves tem de dar uma mão ao Duarte nas coisas do Benfica. Gente ocupada.
De qualquer modo, não se compreende que não lhe dêem ouvidos. A malta da imprensa sempre foi torcida. Rocha Diniz que o diga. Uma chatice.
É que, além do mais, só no escritório desse comentador da AAM, que às vezes também comenta para a Sociedade Nam Van, para os casinos, para a TDM, e mais uns quantos que assim de repente me lembro, há umas três dezenas de advogados, advogados-estagiários e juristas sempre disponíveis para comentarem todas as questões de actualidade jurídica e jurídico-política da RAEM.
E na AAM, que não é um sindicato nem um partido político, há mais três (e havia ainda mais um magistrado jubilado ao serviço do CSA que saiu e deve estar agora mais disponível para comentar).
O facto do Prof. Arnaldo Gonçalves não estar cá, do nosso Embaixador Carlos Frota acumular na TDM e no JTM, do Dr. Rangel se fartar de comentar no JTM e do nosso Albano estar no JTM e no Macau Daily Times não explicam tudo. São sempre os mesmos. E as opiniões não variam muito.
Ao Dr. Jorge Menezes sei eu que ninguém paga. Nem os gajos do Expresso nem os da RTP. Está mal. Vá-se lá saber porquê. Ele não cobra mas deviam pagar-lhe. Podia ser que assim deixasse de comentar.
E o Dr. Paulo Cardinal da única vez que comentou fizeram-lhe a folha na Assembleia Legislativa. O Dr. Taipa não comentava mas também lhe fizeram a folha antes que se lembrasse de começar a comentar. Era só o que nos faltava. O Taipa a comentar? O gajo dava-nos cabo da loja.
Eu faço o que posso, apesar de não poder ir a todas.
Espero, pois, que para o ano também seja dada uma oportunidade ao Dr. Paulino Comandante de presidir às comemorações do Dia do Advogado. E que seja ele a dar a entrevista anual à TDM por ocasião desse evento. Consta que o jornalista Gilberto Lopes está cansado de ouvir sempre o mesmo discurso (com nuances, é certo, em função do estado do tempo) e gostava de poder variar. Isto é, de fazer nesse dia uma entrevista em patuá jurídico.
Para não serem sempre os do costume. Quer dizer, o comentador do costume. O queixoso.
Esta fotografia foi tirada na Av. Sir Anders Ljungstedt, esta tarde, por volta das 14:45. Do lado oposto ao BNU, próximo, entre outros, do MGM, do L'Arc, do Star World, da esquadra da PSP, da Direcção dos Serviços de Turismo e da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental. O cenário é o habitual e reproduz-se noutros edifícios e locais do NAPE.
Centro Mundial de Turismo e Lazer? Cidade cosmopolita e virada para o turismo? Cidade limpa e agradável para se viver, circular e receber turistas? Ou capital do esterco e pardieiro para "excursionistas", agiotas e outros da mesma estirpe? Será que o IAM tem fiscais? O Dr. Alexis Tam costuma sair à rua? Isto é aceitável?
Se em vez de perderem tempo a identificar transeuntes no Largo do Senado, por causa de manifestações inexistentes, fizessem aquilo para que lhes pagam, talvez esta cidade fosse um pouco melhor, menos porca e com cidadãos mais civilizados.
(créditos: JTM)
Duas notícias, ambas relacionadas com o sector do turismo e publicadas ao lado uma da outra, na edição matinal do HojeMacau (22/08/2019), chamaram a minha atenção.
A primeira dessas notícias, com o título “Despesas – Turistas gastam menos 20,7% per capita”, dava conta de que os gastos médios por visitante durante o 2.º trimestre de 2019 tinham caído 20,7%, ou seja, menos 1583 patacas por visitante comparando-se com o mesmo período do ano passado. Acrescentava-se, curiosamente, que as despesas dos visitantes de Singapura, Coreia, EUA e Reino Unido cresceram em termos anuais.
Já a segunda notícia, com o título “Entradas – Número de visitantes cresce mais de 20 por cento até Julho”, informava que mais de 23 milhões de pessoas visitaram a RAEM nos primeiros sete meses do ano, correspondendo esse número a um aumento de mais de 20% face a igual período do ano transacto. Sendo feita a distinção entre “excursionistas” e “turistas”, admitindo eu que os segundos viajem sozinhos, verifica-se que aqueles aumentaram 33,6%. Todavia, este aumento teve como contrapartida que estivessem menos tempo em Macau. O grosso do fluxo veio da RPC, quase 17 milhões, representando este número um acréscimo de 21,7%.
Compulsados estes dados, afigura-se evidente concluir que o aumento do número de turistas que se verificou foi triplamente negativo. Não só gastaram menos, como permaneceram menos tempo, ainda contribuindo para a degradação das condições de circulação e de vida dos residentes e um aumento da poluição gerada, visto que os “excursionistas” deslocam-se de autocarro.
Os números divulgados mostram bem o baixo nível do turismo que chega a Macau. É cada vez pior.
Eu preferia ter menos turistas, mas mais qualificados, gastando mais e permanecendo mais tempo.
As multidões de “excursionistas” que enxameiam as nossas ruas e largos, falando alto e dando encontrões em quem passa, podem servir para fazer as delícias das estatísticas da DST, da Dra. Helena de Senna Fernandes e do Secretário Alexis Tam. Mas tirando algumas caixas de bolos e cosméticos que comprem, só servem para nos darem cabo do sossego e da cidade.
Já era tempo de olharem para os números dos “excursionistas” que vêm do interior da China e perceberem que a continuarmos com um turismo tão desqualificado não iremos a lado nenhum, e acabar-se-á por dar cabo do pouco que ainda resta de agradável na RAEM.
Desconheço qual seja o critério de José Pacheco Pereira (Visão, 14/09/2019, p.35) para classificar Hong Kong como uma democracia.
Se uma terra onde o Chefe do Executivo, que tem de merecer aprovação de Pequim, e o órgão legislativo não são escolhidos por sufrágio directo e universal pode ser considerada uma democracia, então as teses do cronista estão muito próximas das do PCC e da Dra. Sónia Chan, que ainda há dias na Assembleia Legislativa também considerou Macau uma democracia.
Hong Kong, como Macau, não é, nunca foi, uma democracia. Por mais cambalhotas que se dê. E é exactamente por Hong Kong não ser uma democracia, e ter sido prometido à sua população, nos artigos 45.º e 68.º da Lei Básica, a democracia e o sufrágio universal, que ali se luta. Não é pela manutenção do status quo deixado pelos ingleses que se trava o combate. Fosse isto e a senhora Carrie Lam e as forças pró-Pequim estariam felizes e contentes.
Um cronista não se pode deixar iludir pelas bandeiras que vê nas reportagens televisivas.
(foto daqui)
Esteve antes em Lisboa, e já aí está há alguns dias, mas como não sou muito dado a inaugurações e vernissages só no fim-de-semana, sem holofotes nem confusão, lá fui.
E confesso que fiquei francamente agradado com o que vi, não tendo por isso qualquer relutância em aconselhar uma visita. Refiro-me à exposição de fotografia comissariada por Rogério Beltrão Coelho que tem por título "Macau: 100 anos de fotografia". Está patente na Casa Garden e vale bem o tempo exigido.
Arrumada em dois pisos, com pormenores deliciosos nalgumas imagens que por lá se vêem, e para quem, dos mais novos, não conheceu a belíssima Praia Grande – antes de darem cabo dela da mesma forma que destruíram o património histórico edificado, e continuam a dar, para aprovarem e erguerem os monos que hoje temos, feios e degradados, os quais não serviram para outra coisa que não fosse o enriquecimento de alguns dos nossos tribunos e de mais meia dúzia de cavalheiros –, é uma oportunidade de revisitar o passado.
Da recordação dos muros que circundavam a baía ao Largo do Senado, ao Clube Militar, à muralha do Quartel de S. Francisco, à Penha, ao velho Palácio, ainda sem estar enclausurado, à construção da sede do BNU ou à frágil beleza das meninas da Rua da Felicidade, tudo completado com mapas antigos e filmes da época, está lá uma significativa parte da história do último século de Macau.
O catálogo que me foi dado apreciar reflecte o cuidado colocado na mostra e constitui motivo mais do que suficiente para serem dados os parabéns a quem patrocinou, organizou e comissariou.
Uma pequena crónica de Dinis de Abreu chamou a minha atenção. O título é “O descalabro da Global Media” (JTM, 31/07/2019).
Para quem não sabe, convém dizer que a Global Media se anuncia como “um dos maiores grupos de Media em Portugal, marcando presença nos se[c]tores da Imprensa, Rádio e Internet”, contando no seu universo com “marcas de referência como a TSF, marcas centenárias como o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias”, entre outras de menor projecção e história. É também accionista da LUSA, “maior agência de notícias de língua portuguesa”, onde detém uma participação de 23,36%, de que é accionista maioritário o Estado português.
E que nos relata o experiente e reputado cronista? Em resumo, que o património do DN foi entregue à “gula imobiliária, perante a indiferença do Município [Lisboa] e do Governo”, que a sede do JN seguiu a “mesma lógica de vender os anéis para salvar os dedos”, que o Grupo tem vindo a ser paulatinamente destruído, entrou em colapso e tem o futuro comprometido.
Admito que haja quem tenha ficado espantado com o que aconteceu. Eu não.
Vejamos resumidamente os factos.
Em Novembro de 2016 foi anunciada a entrada da KNJ (Investment) Limited, liderada pelo empresário Kevin King Lun Ho, na Global Media, através de um investimento de 17,5 milhões de euros. A KNJ fora constituída em 2012 tinha como objecto social o “investimento imobiliário”, acrescentando depois o investimento “médico e saúde”, bem como “a restauração”, esta vista como “comes e bebes”, e não recuperação de antiguidades e velharias ou restauração de imóveis.
Quando li a notícia confesso que não percebi o que iria uma empresa com tal objecto fazer para um grupo de comunicação social. O programa anunciado parecia-me coisa a atirar para o megalómano, mas o apelido Ho, o facto do empresário ser sobrinho do primeiro Chefe do Executivo e director do Banco Tai Fung ainda deixava a hipótese de haver mais do que castelos no ar.
Já antes de isso, em Outubro de 2016, o próprio Kevin Ho dissera que “o conteúdo dos media do grupo não sofrerá alterações e não haverá despedimentos”, o que bem se compreendia porque em 2014 uma reestruturação da Global Media levara ao despedimento colectivo de 134 pessoas. A Global Media preparava-se para voltar aos “seus tempos de glória”, tendo para isso um plano a dez anos. Ora bem.
Oito meses depois da assinatura do memorando, o Clube Português de Imprensa escrevia que o dinheiro de Macau estava “em falta na Global Media”. Assim, sem mais, de chofre.
Um ano volvido sobre a primeira data, em Novembro de 2017, o então vice-presidente da Global Media, anunciava que Macau iria dirigir a rede externa do grupo, cuja ambição era conquistar quotas de mercado nas áreas digitais e no espaço económico que representa a língua portuguesa”. Havia “a ambição de crescer”, e como “Portugal não conseguiu encontrar relações de parceria com o mundo lusófono eficazes e consistentes”, havendo necessidade de “proteger o jornalismo, encontrando formas de o pagar”. Como se isto fosse pouco, Kevin Ho ainda iria “ajudar a LUSA a desenvolver-se”. Um verdadeiro mecenas.
Pelo caminho, os 17,5 milhões de euros prometidos eram afinal 15 milhões, verba nada desprezível, mas situação normal entre quem se habituou a lidar com milhões como quem lida com tremoços e por isso nunca sabe quanto dinheiro tem disponível para “investir”.
Com uma regularidade impressionante, em Novembro de 2018, não sabendo eu se a escolha do mês tem algo a ver com as cheias que por essa altura do ano ciclicamente ocorrem nalguns locais, Paulo Rego deixou de ser vice-presidente do Grupo, passou a administrador não-executivo. Eu fiquei ainda mais desconfiado e pensei para com os meus botões: a água está a chegar à casa das máquinas.
Ainda em 2018, os trabalhadores começaram a ver atrasos nos pagamentos a que tinham direito, e 2019 viria confirmar, tristemente, as desconfianças que tinha quando, depois de ter lido que não iria haver despedimentos, me apercebi de que Ho se preparava para despachar uns meros duzentos trabalhadores, e começava a pairar o espectro da insolvência, pois não havia dinheiro para pagar aos fornecedores. Apesar disso, ainda há duas semanas, Kevin Ho admitia reforçar o investimento na Global Media. Visão de futuro, claro.
Neste momento está tudo muito mais transparente. Não há ninguém que em Portugal não esteja satisfeito. Até o Presidente português se reúne com o Sindicato dos Jornalistas, para comer umas chouriças e beber um copo de tinto, digo eu.
Dinis de Abreu está preocupado com o facto de Proença de Carvalho ficar “com o nome manchado e ligado ao naufrágio”. Pois eu não estou.
Tirando Stanley Ho, a CESL-ASIA e um ou outro dos antigos, fico preocupado, isso sim, com a imagem que alguns empresários locais ultimamente dão de cada vez que se metem em cavalarias. Andam de braço dado com aqueles autarcas que por lá temos, muito holofote, muito croquete, muita viagem, e no fim nada. Há tempos era um investimento gigantesco em Tróia. Depois veio a Global Media. Amanhã dizem que será um hotel no Porto. Anunciam sempre imensos milhões, projectos fantásticos, a longo prazo; depois é ver os balões esvaziarem-se rapidamente, os foguetes encherem-se de humidade e os milhões evaporarem-se. Serão mal aconselhados?
Seria interessante saber o que o Presidente Xi e os conservadores dirigentes do Partido Comunista Chinês pensam destes “investimentos”. Ou melhor, deste tipo de empresário.
E que nos dissessem se a imagem que um empresário delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional, sobrinho de Edmundo Ho, deixou em Portugal em tão pouco tempo – “um descalabro”, escreveu Dinis de Abreu – se coaduna com os projectos de cooperação com os PALOP, com a estratégia do Fórum Macau ou com o objectivo “uma faixa, uma rota”.
Uma coisa é dizer a um jornal local, à laia de humor negro, que em Macau “não há especulação imobiliária”. Ou que não é necessária uma lei sindical. Ninguém o leva a sério. Outra é ser patriota, ter um nome sonante, e deixar em Portugal aquela pegada.
No fim, a gente revê o filme e só pergunta, entre nós, aqui, que contribuição deu Kevin Ho, através da Global Media, para a credibilidade e prestígio dos empresários de Macau? E aos investimentos chineses na Europa? Que confiança se transmitiu?