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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
"Qualquer que seja a opinião ou a fé professada pelos homens, aquilo que os distingue é sobretudo a presença ou a ausência, no seu pensamento e na sua pessoa, deste além, o seu sentimento de habitarem um mundo acabado e que se esgota a si próprio ou antes incompleto e aberto sobre um outro lado. A viagem talvez seja sempre um caminho para esses longes que esplendem vermelhos e violetas no céu da tarde, para lá da linha do mar e dos montes, nas regiões sobre as quais aparece o Sol que sobre nós se põe. O viandante avança ao entardecer, cada passo o mergulha no crepúsculo e o conduz para lá da lista de fogo que se apaga. Quem vai de viagem, escreve Jean Paul, é como o doente, está suspenso entre dois mundos. O caminho é longo, ainda que nos desloquemos apenas da cozinha para a sala que dá para ocidente e nos vidros da qual o horizonte se incendeia, porque a casa é um reino vasto e desconhecido e uma vida não basta para a odisseia entre os aposentos da infância, o quarto de dormir, o corredor onde os flhos correm uns atrás dos outros, a mesa de jantar na qual as rolhas das garrafas disparam salvas como a guarda de honra e o escritório com alguns livros e alguns papéis, que tentam dizer o sentido deste vaivém entre a cozinha e a sala de estar, entre Tróia e Ítaca." – Claudio Magris, Danúbio, p. 107