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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Hoje vi-lhe uma lágrima. Ao canto do olho. Nunca o tinha visto antes, por mais duros e difíceis que fossem os anos. Peguei num lenço e limpei-a.
Ela olhou para mim. Tentei perceber o que se passava; não consegui entender o que me dizia. Uma vez, duas, três. Desistiu. Dei-lhe um beijo, segurei-lhe a mão.
Depois, fiquei assim.
Tristeza é isto.
Há dias assim.
A sensação de caminhar sobre gelo fino é terrível. Uma espécie de roleta russa. Depois de se partir é preciso chegar à outra margem, mesmo que não se saiba muito bem como e ainda que a decisão de partida tenha sido involuntária nos termos em que aconteceu. Nervosa e precipitada.
A meio do percurso é impossível voltar. No meio do lago não há protecção. E quando uma pessoa assim se vê, o arrependimento de nada serve. Em especial se houver um sniper escondido numa das margens.
Resta apenas uma certeza: a de que não se desiste, a que de que é preciso resistir, seguir em frente, confiando que esse momento será a tua irrepetível hora de sorte. Uma lição de vida.
Silêncio. Estou a precisar de paz e de silêncio. E de mais distância.
Não se pode viver tão intensamente. A intensidade mata, tira discernimento e acrescenta agudeza ao discurso sem necessidade.
Concluídas as mudanças, nos próximos tempos vai haver mais silêncio por aqui. E nos jornais. Um retiro espiritual temporário traz sempre mais lucidez. Está na hora.
Mas não se preocupem porque vou continuar de olhos bem abertos e a pensar no que me aflige. No que nos aflige.