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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O chavismo vai de vento em popa. Após a morte de Hugo Chavez, o seu sucessor, com mais ou menos malabarismos e golpadas várias, tratou de se manter no poder, mais a sua clique de biltres, arruinando o pouco que ainda funcionava na Venezuela, espalhando a miséria e a morte e instaurando o caos.
Maduro bem pode vociferar contra o imperalismo e o capitalismo, e contar com o apoio dos Jerónimos que por esse mundo fora aplaudem o caos, a violência revolucionária e a "democracia" bolivariana, enquanto aquele vai prendendo os dirigentes da oposição com modos próprios dos jagunços da PIDE ou da angolana DISA e a horas em que a polícia portuguesa não pode entrar em casa dos arguidos.
Nada disso me faz confusão, habituado como estou a ver emigrantes de países pobres a labutarem em países socialistas durante doze, catorze e mais horas por dia, todos os dias da semana, incluindo nos dias de descanso, sem direito ao pagamento de horas extraordinárias e não havendo sindicatos que lhes valham, e sem que com isso os camaradas do PCP se cheguem à frente para protestarem contra as violações dos direitos humanos ou em defesa desses desgraçados.
O que me faz confusão, isso sim, é que um revolucionário bolivariano, pretensamente ao serviço do povo do seu país, fique zangado com o facto dos Estados Unidos da América, o Grande Satã, como lhes chamava o Ayatollah Komeini, precise de ter parte dos seus bens na meca do capitalismo e da sociedade do consumo.
Em vez de encenar e berrar como um chanfrado contra o outro pobre de espírito que determinou o congelamento dos seus bens, Maduro devia ter começado por esclarecer o povo venezuelano, ele e os outros bolivarianos, como Nestor Luis Reverol Torres, ministro do Interior, da Justiça e da Paz, Carlos Alfredo Perez Ampueda, director nacional da polícia bolivariana, Sérgio José Rivero Marcano, comandante geral da Guarda Nacional Bolivariana, e Jesús Rafael Suárez Chourio, comandante-geral do exército, se têm bens imóveis ou móveis naquele país, se têm contas bancárias pessoais em US dólares e, neste caso, para que as querem, visto que os bens que foram objecto de congelamento foram os seus bens pessoais, não os bens do país.
Isso é que eu gostaria de lhes ter ouvido. Porque se não têm bens nos EUA não se deviam importar com o congelamento, por um lado, mas também porque essa seria a primeira coisa que eu faria se fosse um revolucionário bolivariano sério e honesto. E fá-lo-ia com toda a frontalidade e transparência para que o povo da Venezuela não fosse pensar que eu, revolucionário exemplar, servidor da revolução, andava a safar-me com o dinheiro do petróleo, como se fosse um vulgar Noriega, um Pinochet, um desses generais comissionistas angolanos ou um bandoleiro do narcotráfico.