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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Pode ter passado despercebido a muita gente, mas a mim não passou. Em dois dias seguidos, o Hoje Macau publicou um anúncio judicial respeitante a um arresto que corre termos no Tribunal Judicial de Base.
Não há nada de especial na publicação de anúncios judiciais, visto que se trata de um procedimento normal em determinadas situações legalmente previstas no nosso sistema jurídico. O estranho é que a lista de bens arrestados surja toda em inglês ("hand wash sink", "wall mounted 2-tier shelf", "3-door work top refrigerator w/marble top", etc.) e no final venha com a assinatura do juiz.
Enquanto as autoridades nacionais, os responsáveis do IPOR e esse "coveiro" da grafia que há dias por cá passou, se afadigam a sublinhar o aumento do número de chineses a aprenderem português – como se isso fosse sinal da utilidade e pujança da língua no dia-a-dia da comunidade –, vamos assistindo à sua regressão acelerada nos tribunais e na administração pública de Macau.
Como já não bastavam os despachos judiciais em chinês destinados a falantes de português, agora também temos anúncios judiciais em inglês. Não há quem defenda a nossa língua. Estamos a assistir às exéquias do português em Macau.
Na velha fábula da raposa atribuída a Esopo, depois recriada por La Fontaine, as uvas estavam verdes. Na Macau de hoje o problema não está na verdura ou acidez das uvas, ou na prateleira em que se encontram. O problema está mesmo no seu preço. Um cacho de uvas brancas, com cerca de uma libra, por MOP $ 548,00 (uns 60 euros ao câmbio do dia), ou de uvas pretas por MOP $ 348,00, não é um valor aceitável em nenhuma parte do mundo, ainda que tivessem sido colhidas pelo Imperador do Japão.
A carestia de vida numa região tão pequena como a RAEM é hoje uma afronta aos seus cidadãos, um insulto a todos aqueles que vivem com 4 ou 5 mil patacas por mês. E diz bem da falta de empenho do poder político e da total ineficácia das suas políticas na resolução dos problemas quotidianos das pessoas.