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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Um erro, um deslize, uma falha qualquer pessoa pode ter. Ainda que esse deslize venha de um ex-primeiro-ministro, vencedor das últimas eleições legislativas e, na actualidade, seja (ainda) o líder do maior partido da oposição. Só um cretino não tem falhas.
E é verdade que com o mesmo ar de cátedra compungida com que anunciou suicídios de fonte segura, esse homem veio depois pedir desculpa. Como se para uma pessoa na posição dele e com aquele estatuto essa fosse a coisa mais natural deste mundo.
Mas depois do que aconteceu, depois de o próprio candidato a presidente da câmara pelo PSD e provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrogão Grande ter confessado ser o "autor do crime" e de nada ter acontecido, o que se pergunta é que confiança os portugueses podem ter em quem assim actua? Que confiança se pode ter, amanhã, num presidente de câmara que transmite a um candidato a primeiro-ministro e líder do seu partido, como sendo de fonte fidedigna, a boateira dos compinchas, contribuindo para um indecoroso espectáculo de aproveitamento político de uma tragédia? E que confiança pode merecer um candidato a primeiro-ministro que recebe uma informação, susceptível de colocar em causa a dignidade do próprio Estado e a confiança nos agentes políticos e nas autoridades administrativas, e sem a confirmar vai a correr para as televisões divulgar a mentira aos quatro ventos? É assim que o PSD pretende ganhar a confiança dos portugueses? É assim, com um ouvido na vizinha, um olho no burro e a boca no megafone que se preparam para ser de novo governo?
Feliz o primeiro-ministro que tem um Passos Coelho a liderar a oposição. Pobres o país e o povo que não podem confiar na oposição que é feita a quem está no poder para o escrutinarem.
O processo de licenciamento de restaurantes e afins continua a ser notável, em especial em rapidez e transparência, que em nada ficam a dever ao à-vontade com que os requerentes franqueiam os estabelecimentos ao público sem qualquer licença.
Mas mais notável é a desfaçatez com que a responsável pela Direcção dos Serviços de Turismo dá conta dos anos que aqueles funcionaram sem autorização. Pelo que ontem ouvi, por MOP 30.000, valor da coima, um tipo consegue abrir um restaurante e, com sorte, até recupera o investimento antes dos fiscais o encerrarem. Se a DST tivesse o mesmo zelo no encerramento dos estabelecimentos sem licença que coloca na procura dos apartamentos que estão no AirBnb e afins o negócio deixava de compensar.
O que vale é que na tutela do Dr. Alexis Tam tudo pode acontecer. Da Saúde ao Instituto Cultural, deste ao restaurantes, ao Festival de Cinema e ao Grande Prémio, não há nada que aconteça nessa tutela que não nos faça rir. Não tarda e teremos pandas a fazerem de guias turísticos e animadores culturais. Já faltou mais.
Creio que todos os portugueses já tinham reparado. Não é de hoje nem de ontem, mas desde que perderam a maioria na Assembleia da República e foram corridos do Governo, os líderes dos partidos da oposição – Passos Coelho e Assunção Cristas – passaram a utilizar um tipo de linguagem que não lhes era habitual, e que chegou a fazer a diferença, no caso do CDS-PP então com Paulo Portas ao leme, no tempo em que dirigiram os destinos do país. O recurso à violência verbal, tão típica de outros partidos, quando se referem a quem lhes sucedeu tornou-se a norma no discurso daqueles dirigentes.
Estou certo que não será por aí que farão melhor oposição, subirão nas sondagens ou demonstrarão a razão dos seus argumentos. Azedume, despeito, ressaibo raiando o insulto é o que hoje em dia, lamentavelmente, mais identifica o seu discurso político, e que até nisso se mostra indiferente aos apelos conciliatórios do Presidente da República, fazendo ouvidos moucos ao que este prega.
Só que, desta vez, um dos habituais visados não se ficou. Capoulas Santos respondeu à jovenzita do CDS-PP como mandam as regras e sem perder a compostura.
No caso de Passos Coelho compreendo a dificuldade em regressar ao seu anterior registo enquanto estiverem ao seu lado pessoas como aquelas que levou consigo para a direcção do partido. A começar por alguns de quem toda a gente se recorda em que termos se referiram ao Tribunal Constitucional e seus juízes. Já no caso de Assunção Cristas sugerir-lhe-ia que procurasse ser menos assídua na frequência de algumas feiras e tascas, enquanto ainda vai a tempo de não perder as boas maneiras. Armar "peixeiradas" não é coisa de meninas de bem, menos ainda se adequando a quem frequenta missas todos os Domingos.
Satisfeito por me sentir tão bem acompanhado. Uma vez mais, o Prof. Jorge Godinho a colocar os pontos nos iis. Felizes a universidade e a comunidade que podem ter um homem como ele a ensinar e a pensar estas questões com tanta clareza e oportunidade. Seria bom que o Governo da RAEM aproveitasse a deixa.
Com a contagem dos votos praticamente no fim, hoje torna-se evidente o desastre que foi a campanha do Brexit e a monumental incompetência política e falta de visão estratégica de quem conduziu o Reino Unido à actual situação. Não fosse o injusto sistema eleitoral vigente e o resultado obtido pelos conservadores teria sido muito pior.
As eleições de ontem serviram, tal como se esperava, para aumentarem a confusão, confirmando o erro e a irresponsabilidade de populistas oportunistas como Boris Johnson e Nigel Farage. Se bem nos recordamos, Theresa May convocou estas eleições para reforçar a sua maioria em Westminster e se apresentar com uma legitimidade reforçada perante Bruxelas. Os resultados indicam que a sua figura será mais a de um Egas Moniz de baraço ao pescoço.
Da abstenção não podem os Tories queixar-se porque houve nestas eleições uma maior afluência às urnas. Desde 2001 que a participação não era tão elevada, tendo atingido 68,38% (Em 2015 foram 66,1%, em 2010 a participação foi de 65,1%, em 2005 de 61,4% e em 2001 de 59,4%). Ou seja, os eleitores não foram indiferentes ao Brexit e tentaram corrigir esse desastre.
Por outro lado, apesar do sistema maioritário, Theresa May e os conservadores conseguiram a façanha de perder a maioria e arranjar um "hung parliament", ou seja, um parlamento onde vai ser necessário fazer acordos para se poder governar. Os críticos nacionais dos sistemas de representação proporcional podem agora agarrar-se à lição inglesa: à reconhecida injustiça soma-se agora a instabilidade.
À hora a que escrevo, numa altura em que faltam atribuir apenas 29 mandatos, já se sabe que os conservadores perderam votos e mandatos para os trabalhistas e os liberais. O Labour conquistou até agora 30 novos mandatos, os liberais mais 5, confirmando-se o resultado desastroso do Scotish National Party que também já perdeu 18 mandatos.
Percentualmente, os trabalhistas têm apenas menos 2% do que os conservadores, o que vem confirmar, por um lado, os resultados de sondagens que referiam o bom acolhimento das propostas mais radicais do programa eleitoral dos trabalhistas, designadamente quanto à nacionalização de alguns sectores e empresas cujas privatizações se revelaram desastrosos, e, por outro lado, a má imagem de Corbyn junto do eleitorado do partido. Corbyn não era o homem indicado, nem ofereceu aos eleitores a confiança suficiente para poder vir a executar o programa do seu partido.
O UKIP de Paul Nuttall e desse xenófobo vendedor de ilusões e banalidades, que ainda há dias esteve nas Conferências do Estoril a fazer figura de importante, foi arrasado e ficou sem o seu único deputado. Também por aqui os eleitores podem agradecer a convocação das eleições antecipadas.
A libra já começou a vir por aí abaixo. Os conservadores saem destas eleições em estado de choque. Depois de terem cavalgado a onda trumpista, populista, anti-refugiados, anti-islâmica e anti-europeia, enfiando tudo e todos num só saco, podem agora começar por arrumar as ideias, ir tratando das mazelas e limpar a casa.
Os Tories fizeram a cama em que queriam que os eleitores se deitassem. Estes recusaram. Os Tories e o UKIP tiveram o que mereciam. A democracia voltou a vencer.
Não sei quem assessora hoje Paulo Portas, mas o facto dele ultimamente andar muito ocupado com as betoneiras da Mota-Engil deve-lhe ter feito perder algumas leituras. Vir a Macau, a convite do establishment, posar para a fotografia com o Chefe do Executivo, e ao mesmo tempo tecer no seu discurso elogios à Uber e à AirBnb parece-me pouco conveniente para os anfitriões. Alguém lhe devia ter dito que essas empresas são perseguidas pelas autoridades chinesas de Macau, que de acordo com os poderes locais são ilegais, e que por aqui podem ser tudo menos um exemplo a seguir. Às vezes, o dinamismo dá nisto. Uma espécie de "Brexit".
Sem constrangimentos, a tempo do tempo que há-de vir, na edição matutina do HojeMacau. Uma pequena achega para se abrirem as cortinas antes de se lançarem os dados.
É evidente que não se trata da reafirmação de qualquer soberania dos EUA, nem de uma protecção dos interesses dos contribuintes e trabalhadores estado-unidenses. E como também já foi afirmado pelos principais líderes europeus, não há nada para voltar a discutir quando em causa está o futuro da Humanidade e o desertor é só "the biggest carbon polluter in history", o responsável pelo envio para a atmosfera da maior quantidade de emissões de dióxido de carbono. Ao colocar os EUA no mesmo saco em que estão a Nicarágua e a Síria, o Presidente Donald Trump não está a fazer dos EUA uma nação mais esclarecida, mais poderosa, nem de novo "grande". Quando dentro de quatro anos os trabalhadores do Midwest perceberem como foram enganados por um louco xenófobo e ignorante, os EUA terão regredido décadas e o país será reconhecido internacionalmente como um pobre povo governado por bárbaros. Em poucos meses, os EUA tornaram-se numa caricatura da grande nação sonhada pelos seus fundadores que teve a ambição de ser um exemplo para o mundo. Se alguma vez o foi, certamente que já não o é. O editorial de hoje do New York Times pode não reflectir o que toda a nação pensa sobre o assunto, mas é seguramente um repositório de preocupações e dá conta do estado de espírito de todos aqueles que não embarcaram no discurso primário de Trump.
Quem apostaria há dez anos, depois de todas as reticências iniciais, que a China estaria nesta altura do outro lado da linha, ao lado da Europa? Tão preocupada quanto os accionistas da poderosa Exxon?