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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
(Chang W. Lee/ The New York Times)
O editorial desta manhã do New York Times reclama que o Presidente Donald Trump apresente as suas declarações de impostos. Como aí se escreve, o conhecimento dessas declarações permitirá obter a percepção dos contornos dos seus negócios e finanças, dando ao povo a oportunidade de saber se a criatura é tão rica quanto apregoa, se paga impostos e a que taxa, quanto é que dá para obras de caridade e, mais importante, quais são as suas ligações empresariais, com que gente faz negócios e qual o seu envolvimento com a Rússia e o Médio Oriente, tudo de maneira a que potenciais conflitos de interesses vejam a luz do dia.
Não creio que o visado esteja disposto a disponibilizar tais dados, pelo que os mesmos só poderão chegar ao conhecimento público por meios ínvios, do tipo "WikiLeaks". Ou através de uma fuga de informação, o que será sempre questionável de um ponto de vista ético e moral, já que a sua divulgação se coloca no mesmo plano das escutas ou imagens obtidas ilegalmente. Ainda que o interesse público, tal como no Watergate, se possa sobrepor aos meios utilizados para lá se chegar.
Mas, para além disso, e independentemente do interesse público que resida nessa divulgação, que segue de braço dado com algum voyeurismo, há um outro aspecto que está a montante da transparência e do cumprimento das regras saudáveis de uma democracia e que se encontra na resposta à pergunta de se saber até que ponto é necessário conhecer os dados que as declarações encerram para se fazer um juízo sobre o fulano. O comportamento de Trump antes e durante a campanha eleitoral, o discurso de posse, a forma como trata a mulher em público, desconsiderando-a e repreendendo-a ostensivamente, o modo como se refere a jornalistas e adversários políticos, a sua profunda arrogância e a ignorância evidenciada, bem como a de todos aqueles que o rodeiam, a começar pelo novo porta-voz da Casa Branca, uma espécie de australopiteco da era digital, levam-me a questionar a necessidade da apresentação pública dessas declarações.
A transparência ficaria a ganhar, seguramente, mas isso seria importante para se conhecer melhor o Presidente?
A amostra já foi mais do que suficiente. O que vai ser interessante de seguir nos próximos tempos será ver até quando os EUA e a sua opinião pública estarão dispostos a manter na Casa Branca um indivíduo que se comporta como um ditadorzeco sem nível de uma qualquer república das bananas, sendo que neste caso as bananas são os milhões de dólares e de estado-unidenses, de porta-aviões, de jactos de combate, tanques, drones sofisticadíssimos e armamento nuclear.
The Economist, ao fazer uma viagem pela Biblioteca e Museu de Richard Nixon, em Yorba Linda (Califórnia), perguntava se um mau homem pode ser um bom presidente. A mim parece-me que ter em Washington uma espécie de Duterte ou de Maduro louro com uma boquinha de enchedor de balões, de onde quando não sai apenas ar saem asneiras, não pode dar segurança a ninguém. Ainda menos aos seus concidadãos, mesmo numa república das bananas. Por isso, como no The Economist também se escreveu, a presidência não é o trabalho adequado para um tipo amoral. Quem diz a presidência diz um lugar num qualquer governo decente. De todo.