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reconciliação

por Sérgio de Almeida Correia, em 11.03.16

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Passaram muitos anos e aquilo que recordava dele era o entusiasmo com que o ouvia contar as histórias das suas aulas de música. Na altura aprendia a manejar o violino. Os anos passaram e, como escreveu Thiago de Mello (Cantiga quase de roda), o menino foi levado pela roda da vida, rodando e cantando. Voltou agora para mostrar à terra onde nasceu e cresceu o que viu e aprendeu.

Aos dezoito anos partiu com uma bolsa de estudo rumo ao sonho. Tirou o seu curso de Música na Universidade de Chichester. Depois tentou a sorte. Tornou-se percussionista e efectuou quatro digressões mundiais com os Incognito, uma das mais importantes bandas inglesas de acid jazz, soul, jazz-funky e pop, fundada em 1979 por Paul "Tubbs" Williams & Jean-Paul "Bluey" Maunic. Tocou ao lado de nomes como Chaka Khan, Mario Biondi, Anastasia, Leona Lewis, Jessie J. e Dione Bromfield. Começou a aparecer em vídeos no YouTube e a ser reconhecido no seu meio artístico. Londres, Zurique, Milão, Tóquio, Madrid, Singapura, apreciaram-lhe o talento.

Mas havia muita coisa que não o deixava acomodar-se. Com imensas ideias, com o entusiasmo de sempre e sem alarido, discretamente, iniciou o seu percurso. Em 2013 começou a preparar um projecto a solo. Conheceu gente aqui e ali. Por onde foi passando espalhou a sua arte e a sua simpatia. Compondo, imaginando, reinventando. Aprendendo a conhecer o mundo e a vida nos seus encantos e desencantos.

Há tempos falou-me da sua vontade de reunir uma equipa de músicos que o ajudassem a pôr de pé um projecto que há muito idealizara. Aproveitando a oportunidade que lhe foi dada pelos organizadores do Festival Rota das Letras, subiu esta noite ao palco para mostrar o que aprendeu. Mais a sua equipa. E  esteve à altura.

Creio que poucos, muito poucos, esperariam ver o que viram. Fazendo jus ao seu extraordinário sentido para a percussão, utilizou-o para projectar o ritmo e a sua poderosa voz nas composições que criou, onde juntou as sonoridades da guitarra e do erhu. Num ápice, "O Menino de Sua Mãe" (Fernando Pessoa) preparou o caminho para o excelente "Vale do Rossio", com letra de Paulo Abreu Lima, antes de avançar corajosamente para as suas próprias letras e composições.

Com um ritmo sempre em crescendo, surgiram então temas como "A Loucura", "A Despedida" e "Eterno Farol", antes de “A Cegueira” e “Até Sempre”. Encerrou com a mais conhecida “É Tempo de Mudança”, conquistando definitivamente o ouvido e o ritmo do público, logo depois de fazer mais uma demonstração das imensas capacidades da sua voz numa recriação, sem microfone e sem qualquer acompanhamento, da Pedra Filosofal.

Vai ter um longo caminho a percorrer. Vai ter de continuar a porfiar para impor o seu imenso talento e a qualidade da sua voz e composição. Mas quem tem a sua vontade, a sua capacidade de trabalho, humildade, disciplina e rigor, aliada a uma presença poderosa, capaz de encher palcos em qualquer latitude e de olhar para o mundo que o rodeia de olhos bem abertos, está condenado a ser uma estrela. Dentro e fora de portas. Em português.

Não sei há quanto tempo não ouvia alguém cantar em português, alguma coisa que não fosse fado, num registo que não fosse enfadonho, anasalado, desafinado e monocórdico. O João Caetano reconciliou-me com a música portuguesa. Tomem nota do que vos digo.

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