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história

por Sérgio de Almeida Correia, em 24.07.15

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Em 1983 Portugal sofria a segunda intervenção do FMI. Nesse mesmo ano, a situação económica do país conduziu à formação do "Bloco Central". A 9 de Junho desse ano o governo tomou posse. O então Presidente da CIP afirmava ser preferível chamar o FMI à ruptura financeira. Silva Lopes, que fora ministro das Finanças considerava inevitável chamar essa instituição internacional para nos ajudar.  A 18 de Julho de 1983 o FMI chegava a Portugal. A intervenção terminou em 1985, ano de eleições legislativas, não tendo chegada a ser recebida a última tranche que havia sido negociada devido à incapacidade de Portugal em cumprir com o que fora acordado.

Nesse ano, o PS escolheu Almeida Santos para seu candidato a primeiro-ministro, tendo conseguido obter o seu pior resultado de sempre. O slogan dessa campanha foi "43% para governar Portugal". O PS queria uma maioria para governar. Os portugueses, zangados, deram-lhe menos de metade do que pedira. Um candidato, um slogan e uma campanha que se revelaram um verdadeiro desastre. Nessas eleições legislativas, que tiveram lugar em 6 de Outubro de 1985, o PSD obteve 29,87% dos votos, o CDS 9,96%. O PSD de Cavaco Silva formaria governo sozinho, não obstante a difícil situação económica do país. Cairia dois anos depois com a aprovação de uma moção de censura. A democracia funcionou e a seguir o PSD venceu as eleições com uma larga margem, o que permitiu a sua permanência no poder durante uma década. 

O Cavaco Silva de hoje não teria aceitado tomar posse em 1985 à frente de um governo minoritário. Com o que teria inviabilizado uma maioria absoluta do seu partido nas eleições seguintes. Foi com um governo minoritário que Portugal entrou na então CEE, na Europa, como hoje se gosta de dizer. O Cavaco Silva de hoje tem a memória curta. Muito curta. O Cavaco Silva de hoje é um arremedo do Cavaco Silva de 1985. Décadas de exercício do poder retiraram-lhe lucidez e discernimento. O corajoso que em 1985 foi empurrado para a liderança do PSD, que aceitou formar governo e tomar posse em condições minoritárias, tornou-se num político medroso, autoritário e sem estamina. E, pior que isso, capaz de usar o cargo que lhe foi confiado como Presidente da República para condicionar a democracia, para condicionar a liberdade de voto, para condicionar consciências, usando a sua posição institucional para impor os seus desejos.

Só os portugueses podem escolher o seu futuro, só os portugueses sabem o que é melhor para si. Se escolherem mal serão os primeiros a sofrer, mas o que escolherem será sempre a sua vontade. A democracia é antes de mais a aceitação das regras do jogo. Quando um Presidente da República se esquece disto, resolvendo intervir a coberto de uma hipotética razão de Estado para orientar as escolhas, quase que apelando a esta distância ao voto útil, está desde logo a inquinar e condicionar o debate entre os concorrentes.

Este é um sinal de que se esqueceu de tudo. É triste quando um homem se esquece do seu próprio passado.         

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