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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Se António Guterres era até ontem o homem que o PS esperava que ainda pudesse vir a ser o seu candidato presidencial, agora que estão desfeitas as dúvidas sobre as intenções e o caminho que o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados pretende tomar, só lhe resta uma opção que de algum modo se aproxima do perfil do desistente que não chegou a partir. Refiro-me a Guilherme de Oliveira Martins.
Católico como uma grande parte dos portugueses, homem de saber e cultura, com experiência da vida e visão do mundo, possuidor de um percurso académico, político e profissional de que poucos dos actuais políticos podem dar mostras, ministro três vezes - Finanças, Educação e Presidência -, com carreira académica numa escola de prestígio - a Faculdade de Direito de Lisboa -, saiu em ruptura do PSD, esteve na ASDI, foi apoiante de Mário Soares, porta-voz do MASP, deputado, enfim, tem um currículo que fala por si e que não precisa de recorrer a falsificações académicas e profissionais para poder brilhar. Para além disso, nunca dependeu de ajudas de custo, de favores, de autarquias ou das empresas de amigos e conhecidos para poder subir na vida. É um homem sereno, discreto, civilizado, capaz de dialogar à direita e à esquerda, sem ideias feitas e radicalismos bacocos, com a noção do caminho que Portugal precisa de fazer para se reabilitar e sair da crise de valores, entre outras crises igualmente graves, em que se vai afundando. A seu favor tem também o facto de saber falar, ler e escrever com correcção, e não apenas em português, coisa que muitos outros putativos, aspirantes e já declarados candidatos presidenciais não sabem.
A tudo isto junta-se a sua independência, reafirmada exemplarmente na forma como sem tibiezas nem meias-palavras tem exercido o mandato de Presidente do Tribunal de Contas, fazendo-o de forma pedagógica e malhando quando é preciso, respeitosamente, na canalha, o que fez tanto no tempo de José Sócrates como nos dias que correm com Passos Coelho.
Neste momento vejo-o como o único homem que pode preencher o espaço deixado vago por António Guterres e aquele que está em melhores condições para com o apoio do PS, e mesmo sem o apoio do PSD, poder vencer folgadamente as presidenciais logo à 1.ª volta. A entrevista que ainda muito recentemente deu ao Público/Renascença, e à qual não terá sido dada a importância que merecia, constituiu um sinal da sua vitalidade, capacidade e preparação para o exercício de um cargo que necessita urgentemente de ser valorizado e dignificado.
Guilherme de Oliveira Martins sabe qual o valor da liberdade, é um homem tolerante e um democrata, possui indiscutível sentido de Estado, e é uma pessoa de uma seriedade à prova de bala, sem telhados de vidro (é minha convicção). Ele só não será o próximo Presidente da República se não quiser. Por tudo isso, e independentemente do facto de ter sido, com gosto, seu aluno, por duas vezes, o que para o caso é irrelevante mas entendo que deve ser levado ao meu registo de interesses para que os leitores o saibam com toda a transparência, gostaria de o ver chegar-se à frente. Resolvia um problema ao PS, resolvia um problema ao País e aos portugueses, e estes não correriam o risco de ver em Belém um qualquer boneco de plasticina ignorante.