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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
E ao fim de oito anos, aproveitando a quadra natalícia, o processo dos submarinos chegou ao fundo. Ao fundo não, ao fim, pelo que resulta do despacho de arquivamento do Ministério Público que a imprensa de hoje noticia. Ana Gomes já disse que não vai deixar morrer o caso. Eu acho muito bem. A pornografia, a obscenidade, a infâmia, nem sempre são evidentes. Neste caso foram tudo isso, o que se confirma pela confissão de impotência, e também de incompetência para investigar, de que o despacho é prova.
Eu, pelas minhas contas, verifico que também se ficou a saber que do dinheiro retirado aos bolsos dos portugueses para pagar os brinquedos, mais de 30 milhões seguiram para o estrangeiro, acabando pelo menos 27 milhões nos bolsos dos arguidos e membros do Grupo Espírito Santo. A estes espera-os uma consoada tranquila, aliviada, farta, onde em família poderão aquecer-se junto à lareira, empanturrar-se com iguarias e champagne, contarem anedotas sobre José Sócrates e Duarte Lima, enfim, gozarem com o regime e com a figura que o sistema judicial e os seus actores fizeram ao longo destes anos, antes de irem comungar à Missa do Galo.
E, imitando o seráfico sorriso de um conhecido ministro, poderão todos brindar junto a uma janela que espreite o Tejo, vislumbrando lá em baixo, a emergir do estuário prateado do rio, a silhueta de um periscópio. Alguém ajeitará então os botões de punho, comporá o nó da gravata, e sem tirar os olhos do horizonte dirá para consigo, repetindo baixinho, que os submarinos tiveram uma blindagem perfeita.
O segredo de uma corrupção intocável, de um tráfico de influências perfeito, de uma reforma tranquila, está no rigor da sua blindagem. Não há nada como o Natal em Portugal.