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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
“Este caso é o mais mediático e emocionante para o país. (...) Mas o caso para mim mais preocupante para o futuro das instituições democráticas portuguesas é o dos vistos gold. Do ponto de vista do funcionamento do Estado português. E aí é que está a questão do regime.”
Sim, convém não perder de vista o âmago do problema e não confundir as coisas, ainda que isso pudesse dar jeito politicamente a alguns. O "caso Sócrates" pode ser uma chatice, um problema político (que não é), um incómodo, mas a partir de agora será cada vez mais apenas um caso pessoal. E também um problema do Ministério Público, dos seus advogados, dos seus amigos e da desacreditada, e recorrentemente condenada nas instâncias europeias, justiça portuguesa. Casos pessoais não são casos nacionais.
É preciso dar-lhe tempo para assentar. Para que os fantasmas possam perder as formas e desaparecer no ar. Até que um dia de novo volte a subir e traga com ela novas formas e novos vultos.
A política, tal como a vida, é um ciclo que se repete com princípio, meio e fim. A sabedoria está em saber fazer esse caminho olhando sempre o horizonte, sem necessidade de se olhar para trás porque se conhece a marca que lá se deixou. E a que um dia há-de ficar no lugar do nosso pó.
Doer dói sempre. Porque a distância não ameniza a dor. Só a torna mais agreste e prolongada.
Em tempos, a portuguesa, teve um diário. Prestava um serviço aceitável, apesar de nunca ser o desejado. Depois, chegou o Governo de Passos Coelho e resolveu reformá-lo. Hoje não chega a ser a sombra do que era, tão mau é o serviço. Razão tem José Manuel Meirim. O outro queria que lhe devolvessem a Alexandra Lencastre, a original. Eu não vou tão longe, sou mais modesto. Bastava que me devolvessem o Diário da República, o que funcionou razoavelmente bem até se meterem a fazer reformas. Pior do que esta coisa que fizeram ao DR só mesmo a reforma do Citius. Mais um desastre.
Tirando os habituais comentários e os textos indignados de meia dúzia de articulistas encartados, o que torna tudo mais real e ao mesmo tempo assustador é a indiferença com que tudo isto é visto pelo cidadão comum. Como algo normal e corriqueiro. Porque o pagamento de comissões, a troca de favores, a agilização de procedimentos e a facilitação de negócios duvidosos está institucionalizada. Como se não houvesse vida depois de amanhã. Como se esta pessegada dos "vistos gold", patrocinada pelo Presidente da República e o Governo, fosse uma coisa normal num Estado de direito respeitável. Como se o significado da diplomacia económica fosse vender apartamentos de cento e tal mil euros por mais de quinhentos mil e repartir o remanescente em comissões entre portugueses e intermediários chineses. Como se isto fosse uma actividade respeitável. Como se pudesse haver seriedade no limbo. Como se o trigo e o joio se tivessem por milagre reunido para constituírem a nossa natureza. Como se mil milhões, dos quais seguramente trinta a quarenta por cento foram para o pagamento de "comissões", valessem o escândalo, a imagem de abandalhamento que fica das instituições, a credibilidade e a reputação do Estado. Como se tudo isto fossem coisas menores.
De um povo de indiferentes resignados só se pode esperar a indiferença. A moleza. É este o preço que andamos a pagar há décadas enquanto nos acenam com a esperança. E que vamos continuar a pagar. Com toda a indiferença.
"Best pics of the most exciting circuit on planet earth, Macau!" - Tom Coronel
Já prenderam o Jacinto Leite Capelo Rego?
Chegou uma boa notícia. Esta é uma nota digna de registo. Hoje, o dia será muito menos cinzento.
Volvidos todos estes anos, depois de Berlim recuperar a sua identidade, e da fuga da corja que o construiu, só mesmo o Avante nos poderia fazer voltar ao passado. O Muro não caiu? Então não caiu. Na Soeiro Pereira Gomes o Muro continua. Feito de pedra, cal e "centralismo democrático". Está decidido.
Poucos, entre os quais não me incluo, conhecerão objectivamente as razões que ditaram o afastamento dos magistrados portugueses e de um oficial da PSP, creio, que estavam ao serviço em Timor-Leste ao abrigo da cooperação judiciária com aquele Estado. Por isso mesmo, não me abalanço a fazer juízos, nem a retirar conclusões apressadas sobre o que aconteceu. Mas parece-me cristalino que a reacção do Governo de Timor-Leste foi excessiva, ofensiva para Portugal e para a dignidade dos visados. As declarações de Xanana Gusmão, manifestando o seu espanto pela reacção portuguesa, só podem radicar no foro da ingenuidade, o que para um líder da sua estirpe e com a sua experiência será sempre difícil de engolir.
Para quem tem a sua vida organizada e cumpre uma função de interesse público, neste caso do interesse de Timor-Leste, convenhamos que uma ordem de expulsão com a amplitude e consequências daquela que foi tomada, para ser cumprida em 48 horas, e com acusações de incompetência à mistura, não é fácil de digerir.
E inaceitável na perspectiva do relacionamento entre dois Estados soberanos com relações de amizade e cooperação a diversos níveis, partilhando o mesmo património cultural e linguístico.
O primeiro-ministro timorense, pura e simplesmente, esqueceu-se do papel desempenhado por Portugal e pelos portugueses no caminho que foi cumprido desde a invasão indonésia até à proclamação de independência e consolidação do Estado timorense. Dizer que com a declaração de expulsão não se visou Portugal nem os portugueses, sabendo-se que estes seriam os primeiros atingidos, e sem pensar nas consequências, evidencia laivos de hipocrisia. As declarações subsequentes agravam esse sentimento. Deste modo, só posso manifestar a minha compreensão pelas palavras do primeiro-ministro português e aplaudir as declarações da ministra da Justiça sobre esta matéria. República das bananas mas não tanto. Nada de confusões.
Um tipo é condecorado por fazer aquilo que tem obrigação de fazer e para que lhe pagam, por sinal bem face ao comum dos mortais, e de caminho ainda justifica os erros cometidos ao longo do percurso com o facto de ter sido condecorado.
Ainda bem que aproveitaram o Halloween para preparar a cerimónia. Da maneira que isto está, com a Maria Luís às voltas com a troika, o melhor era mesmo não se atrasarem e condecorá-lo já.
Agora os portugueses já podem dizer que o Grande-Colar da Ordem do Infante foi atribuído, a título excepcional, a uma parelha de gritos.