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ondas

por Sérgio de Almeida Correia, em 31.10.14

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juízes

por Sérgio de Almeida Correia, em 27.10.14

"Ao todo, 16 membros do Governo de Passos Coelho assistiram com particular atenção ao desmoronar do império Espírito Santo. Alguns têm contas acima de 100 mil euros no BES. Juntos, têm um milhão de euros em aplicações, fundos, carteiras, banca-seguros e títulos. Um exemplo da importância dos biombos é a decisão tomada em Conselho de Ministros em plena crise do BES: até onde se deveria proteger quem tinha poupanças no BES? Todos os depositantes ou só os que tinham menos de 100 mil euros, como estipula o novíssimo regulamento europeu? O Governo decidiu que tanto os pequenos como os grandes depositantes deveriam ficar a salvo". Editorial, Público, 27/10/2014

Juízes todos somos, uma vez ou outra, na vida. A começar quando julgamos aquilo que nos diz respeito. E nessas alturas somos juízes em causa própria. Com  transparência. Porque decidimos e assumimos o risco da decisão. Seja na escolha da profissão ou na escolha do cônjuge. A situação é diferente quando se decide uma intervenção num banco e há membros desse mesmo Governo que vai decidir a intervenção, e o respectivo modelo, que têm contas superiores a cem mil euros na instituição em risco. Aqui o risco corre por conta de terceiros, dos contribuintes, ou por outros que sejam chamados a entrar com a massa. No fim safar-se-ão todos. Os pequenos, os assim-assim e os grandes. Os que decidiram e estavam com o seu dinheiro em risco também. Alguém há-de ficar para pagar a factura. No escuro.

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transparências

por Sérgio de Almeida Correia, em 25.10.14

“Não fazemos batota, nem politizamos as nossas decisões”, disse Passos Coelho

"Temos um nível de transparência como nunca existiu em 40 anos"

Partindo do princípio de que o cavalheiro não estava a referir-se ao reembolso de umas despesas feitas em nome de uma entidade qualquer, de cujo montante não se recordava, embora ascendessem a uns míseros cinco mil euros mensais, e que ainda hoje estamos à espera de saber quais foram, aos submarinos, aos veículos do BPN e da SLN, aos sobreiros, à "Tacho Easy", e que não estava falar do pódio do Calçadão de Quarteira, queria dizer a todos, mesmo a todos, até ao Quim Barreiros, que só posso estar de acordo com o senhor primeiro-ministro.

Seja quanto ao Citius, a colocação de professores, os programas informáticos do fisco, a dificuldade da saída de Miguel Relvas do Governo, os chumbos no Tribunal Constitucional, as promessas feitas em campanha - aldrabando as criancinhas e os seus papás à porta da escola -, a demissão de Vítor Gaspar, a substituição da administração da INCM - a ministra tem medo de alguma coisa? -; sem esquecer as visitas de José Cesário a Macau, as diplomacias paralelas, as nomeações para a CGD, a protecção conferida à vergonhosa actuação recente do supervisor no caso BES, mantendo em funções quem devia ter sido logo posto em quarentena no mercado da Ribeira, passando pela rápida nomeação e ainda ainda mais pronta escapadinha de Vítor Bento, e ao seu aguardado regresso ao Banco de Portugal, como se nada se tivesse passado; sem esquecer, também, os recados para Marques Mendes poder exibir a qualidade das suas fontes, a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP, passando pelo sapo do Acordo Ortográfico, que o saudoso Vasco Graça Moura lhe fez engolir, sem que o cavalheiro se engasgasse, ou os sucessivos aumentos de impostos; ah, e já me esquecia, entre tanta coisa, das mais recentes revelações sobre matérias secretas por parte do ministro Machete e daquela espécie de PPP do Álvaro, por causa das contrapartidas dos submarinos, e das PPP's com os hospitais dos nossos amigos de sempre, do antigamente, tem sido tudo de uma clareza e de uma transparência tal que me faz lembrar as paredes de vidro do Dr. Cunhal. Ou o discurso de Almada do camarada Vasco, que até fez arrepiar o Dr. Cunhal. Ou as conversas em família do Prof. Marcelo Caetano. Ou as condecorações e comendas do Dr. Cavaco.

Confesso que neste momento a única coisa que me aflige é que um dia, com este nível de transparência, todos, velhos e novos, andem de pelota ao léu. Mais a D. Laura e a D. Maria. Todos, elas e nós, comprando o pão na Manta Rota ou na Coelha, ou às compras no supermercado daquele senhor que não quer o dinheiro dos chineses mas vende nas suas lojas os aspiradores deles e as varinhas e os micro-ondas made in China (para compor as contas na Holanda), e elas ali, e as nossas mulheres, todas empurrando o carrinho, com os pendentes ali à vista de todos, em nome da transparência do companheiro Passos Coelho. Todos nuzinhos pelas ruas, sem roupas nem carteiras, vendendo transparência, exportando-a aos molhos, como o alecrim, para a Venezuela e Angola, para depois facturar nas off-shores que desaparecem sempre antes do MP conseguir lá chegar, por causa da transparência da nossa investigação criminal. Enfim, transformando o mundo todo numa espécie de praia do Meco ou ilha de Tavira com a chancela do Dr. Frasquilho das exportações.

Os reformados, que já estão nus há muito tempo, ainda têm o pudor suficiente para não saírem à rua. Mas com os mais novos o problema é diferente, porque os pais têm de ir à procura dos iogurtes para os filhos e não podem ficar em casa. Com este nível de transparência, verdade seja dita, podemos andar todos nus. Nós e o Pedro Mexia, que deve adorar a perspectiva de se passear nuzinho pelos cinemas da capital, com um pacote de pipocas enquanto revê o Nosferatu.

Sim, porque tesos como os portugueses estão - embora alguns camaradas mais dados à filosofia tenham procurado disfarçar, seguindo os exemplos daquelas ONG's que com toda a transparência viviam a catar subsídios como quem cata piolhos -, entra pelos olhos dentro que o problema não será do Viagra. A transparência é que é uma "porra".

Mas lá que há 40 anos não havia disto, lá isso é verdade. Se a transparência não nos entra pelos olhos adentro pelo menos há-de sair-nos dos bolsos até ao resto dos nossos dias. Em notas de cinco euros. Numeradas. Com os carimbos do centrão. E da Câmara de Vila de Rei. Para que não fuja nenhuma para o Panamá ou as contas de um sobrinho que tenha emigrado para a Suíça, enquanto os que ficarem tentarão processar a Red Bull. Elas hoje em dia, as notas, é claro, também deram em tomar Red Bull. É que nos dias que correm o raio da bebida dá-lhes asas. E os portugueses a vê-las partir, de fórmula um ou playstation, antes de desaparecerem na caixa de um supermercado nacional, antes de empreenderem a viagem para o aeroporto da Portela. Com passaporte electrónico e imunidade total. Com toda a transparência.

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sinónimos

por Sérgio de Almeida Correia, em 24.10.14

No léxico do Governo de Passos Coelho e da ministra da Justiça, a expressão "pleno funcionamento", seja de escolas, de programas informáticos dos tribunais, de colocação de professores ou do fisco, é sinónimo de "irrevogável". A conclusão é, por isso, unívoca: trapalhada é o mesmo que execução exemplar de um programa de governo.

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partidos

por Sérgio de Almeida Correia, em 24.10.14
 
 

voto-proporcional.gif O momento em que a questão foi colocada não seria o mais adequado. A forma como foi colocada também não. E o que se seguiu não devia ter tido o relevo que teve. Não porque a questão não deva ser tratada e as regras actualmente vigentes questionadas, mas porque uma vez mais as intervenções e o padrão da linguagem utilizada continuam a deslustrar a actividade parlamentar e a desprestigiar a democracia parlamentar. Contudo, tirando esses aspectos mais formais do que substanciais, quanto ao essencial há muito que a questão devia ter sido colocada.

Todos sabem como o Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) nasceu. Ainda recentemente Zita Seabra, por ocasião de uma conferência promovida na Universidade Nova, a propósito das celebrações dos 40 anos do 25 de Abril, em que também participou Augusto Santos Silva, teve oportunidade de recordar a história. Isto é, a "encomenda" que lhe foi feita por Álvaro Cunhal no sentido de promover e dinamizar a criação desse apêndice do PCP. Mas não é isso que quanto a mim estará hoje em causa. Isso pertence ao passado e a nós interessa-nos o presente e o futuro.

Desde a sua gestação, tudo o que o PEV fez "sozinho" limitou-se à formalização da sua existência. Nunca participou por si em qualquer acto eleitoral que se visse apresentando listas próprias, fazendo-o sempre integrado nos alegres comboios e caravanas do PCP. Repare-se que não vejo nisso qualquer problema. Cada partido, desde que tenha existência legal e cumpra as regras, participa nos actos eleitorais como muito bem entenda.

Parece-me, no entanto, perfeitamente legítimo que se questione a representatividade de partidos que nunca se apresentaram a eleições. Não há nada que o impeça, nem creio que em democracia haja temas que não possam ou não devam ser tratados, desde que a todos interessem, o que me parece ser o caso.

Porém, o que efectivamente deverá ser questionado e reflectido é a meu ver mais vasto e traduzir-se-á em saber se as actuais regras que prevêem e regulam a criação, a actividade e manutenção dos partidos políticos são adequadas. Ou se não será tempo de se proceder à sua revisão de fundo.

A regulação dos partidos políticos por parte dos Estados, para além do aspecto propriamente legitimador[1] e regulador, apresenta uma outra vertente, pois que quando o legislador impõe o respeito por patamares mínimos para a formalização da constituição de partidos, para a apresentação de candidatos ou para a sua manutenção, está a condicionar ou a viabilizar a entrada na arena política de contendores, dessa forma também influenciando o sistema de partidos. Este aspecto pode concorrer, como já referido por alguns autores, para um aumento do potencial de cartelização dos partidos e do sistema de partidos (Rashkova e van Biezen, 2014: 268).

Quanto às finalidades das leis dos partidos, o alinhamento seguido por Katz afigura-se ainda ser aquele que melhor reflecte essa realidade. Para este autor, existirão três propósitos fundamentais na aprovação desse tipo de normas: a) O reconhecimento da qualidade do partido que irá condicionar a sua participação nos sufrágios, a alocação de recursos públicos e o papel dos partidos no governo; b) A regulação das actividades em que os partidos se podem envolver; c) A regulação interna das suas estruturas e modos de actuação que serão compatíveis com o respectivo estatuto (Katz, 2004).

O facto da nossa lei dos partidos ser uma das mais desenvolvidas a nível europeu, à semelhança do que acontece, por exemplo, com as leis da Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Espanha, não faz dela uma lei actual. Pessoalmente entendo que os actuais instrumentos de regulação dos partidos políticos estão ultrapassados, sendo questionável se, por exemplo, não deveríamos, à semelhança do que acontece com outros países, obrigá-los a ter registos actualizados anualmente dos seus militantes, devendo ser fornecidas listagens completas ao Tribunal Constitucional - por onde se possa facilmente depreender as oscilações no seu número, sabendo exactamente quantos entraram e quantos saíram e não apenas os números dos primeiros - e se não deveriam ser introduzidas cláusulas que impusessem patamares mínimos de votação ou a obrigatoriedade da sua extinção caso não participassem, sozinhos ou coligados, durante um certo período de tempo em actos eleitorais. O calvário que é conseguir obter informação, que por natureza devia ser pública, junto de alguns partidos políticos com responsabilidades parlamentares, que nem sequer se dão ao trabalho de responder às missivas que nesse sentido lhes são enviadas por quem investiga e precisa da informação para efeitos académicos, ilustra bem a forma desfasada como estas coisas continuam a ser entendidas e vistas pelos próprios partidos, onde toda a informação que não lhes convém é escondida e protegida do público, de investigadores, de simples curiosos que pretendam informar-se. E mesmo em relação àqueles que disponibilizam informação actualizada sobre os seus registos de militantes, por exemplo, verifica-se que há muita informação em falta que devia ser apresentada e disponibilizada publicamente. Ainda recentemente tive oportunidade de comprová-lo. Conhecendo-se os números a nível europeu relativos ao declínio e abandono da militância, e aqueles que em relação a Portugal são conhecidos, foram-me fornecidas indicações, por parte de alguns partidos, que os transformariam em casos únicos no panorama mundial, havendo mesmo um partido em que nunca houve abandonos e o número de novos militantes somou-se sempre ao que vinha do ano anterior, como se nem uma única baixa tivesse ocorrido nos seus cadernos.  Nem sequer por falecimento. É sempre a somar.

Por outro lado, também tenho dúvidas, por exemplo, sobre se as regras da capacidade eleitoral activa e passiva dos militantes não deviam ser comuns a todos os partidos. Ou se a situação contributiva dos seus militantes não deverá ser sempre pública. Um partido político não é uma associação privada ou um clube de futebol pelo que as regras de transparência que lhes são aplicáveis têm de ser naturalmente mais exigentes e corporizarem as exigências de uma cidadania mais activa e mais participada, não sendo legítimo, a meu ver, que para manutenção dos seus próprios privilégios vivam cada vez mais afastados dos cidadãos, gozando e dispondo dos recursos do Estado a seu bel-prazer, e só se lembrem dos cidadãos quando pretendem proceder a operações cosméticas de relegitimação social e eleitoral ou por razões ligadas às suas lutas internas pela conquista do poder, como ainda há pouco tempo aconteceu.

 

[1] - “Just as political power is seen as legitimate when it is established and exercised according to the law, which makes it legally valid, so are political parties” (Rashkova and Van Biezen, 2014: 268)

 

Katz, Richard S. (2004), Democracy and the Legal Regulation of Political Parties, Paper prepared for USAID’s Conference on ‘Change in Political parties’, Washington D.C., 1 October 2004;

Rashkova, Ekaterina R. e Ingrid van Biezen (2014), The legal regulation of political parties: Contesting or promoting legitimacy, International Political Science Review, Vol. 35(3), 265-274

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memórias

por Sérgio de Almeida Correia, em 23.10.14

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"Tivemos encontros com vários departamentos do Partido, visitámos empresa, centros científicos e escolas. Assistimos a um concerto da Orquesta Sinfónica de Budapeste e visitámos a vida nocturna da capital da Hungria, tradicionalmente famosa em toda a Europa Central, que na altura estava a ser retomada em larga escala.

O nosso acompanhante, alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mais diplomata do que quadro partidário, levou-nos a um cabaré que na altura fazia grande furor. Mal nos sentámos, Cunhal desconfiando do ambiente segredou-nos, ao José Vitoriano e a mim: << Vamos lá ver o que sai daqui.>>

Ora, o que havia de sair, depois de uns números cómicos e de pantomina relativamente inocentes: um grande espectáculo de striptease. Aguentámos. Cunhal bastante contrafeito. À saída não se conteve e repreendeu o acompanhante, embora de modo delicado: <<O camarada devia ter-nos prevenido da natureza do espectáculo. Suponha que não queríamos vir?>> O diplomata, ainda novo, meio zíngaro, teve um momento de embaraço, mas recompôs-se, sorriu e respondeu simplesmente: << Agora trazemos aqui todas as delegações mais importantes e não tem havido protestos.>>

O espectáculo nocturno de Budapeste foi assunto muito debatido na nossa delegação, no dia seguinte, dedicado ao repouso, nas margens do Lago Balacon, a estância turística mais importante da Hungria de então." - Carlos Brito, in Álvaro Cunhal - Sete Fôlegos do Combatente - Memórias  

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impasse

por Sérgio de Almeida Correia, em 15.10.14

Bz9GTuTCMAEW2D0.jpgO cardeal Joseph  Zen Zekiun, bispo emérito de Hong Kong, em declarações ao Ponto Final, teme que a coisa descambe numa espécie de Tiananmen, queixando-se da estupidez. Espero que não tenha razão e que os seus receios não passem disso mesmo. Em todo o caso, para já, está tudo mais apimentado. Face ao radicalismo de que os dois lados têm dados provas e ao elevado nível de insensatez que por aí anda, não se avistam soluções que desbloqueiem a situação. Uma boa chuvada seria o ideal para mandar a malta para casa. Enquanto uns podiam aproveitar para refrescar as ideias, os outros repensariam a estratégia. Assim, como as coisas estão, ninguém se irá safar de cara lavada, embora Pequim talvez devesse começar por mandar recolher o Chefe do Executivo C.Y. Leung, cujas condições de continuidade se tornaram insustentáveis depois do escândalo revelado a semana passada. O combate à corrupção em Hong Kong ou em Macau não pode ser diferente daquilo que se passa em Pequim, Xangai ou Cantão. E, no mínimo, seria um sinal de compromisso perante o futuro.

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fretes

por Sérgio de Almeida Correia, em 13.10.14

 

Hong-Kong-proteste.jpgDe há muito se sabia que as diferenças entre Chris Patten e Rocha Vieira eram grandes, de certo modo confirmando a diferença de estatuto entre Hong Kong e Macau. E essas diferenças tornaram-se mais visíveis depois do fim dos respectivos mandatos como governadores daqueles antigos territórios, ou seja, quando estes regressaram à administração chinesa, respectivamente, em 1997 e 1999. O que se seguiu, relativamente à vida de cada um, é público. Um foi para Comissário Europeu, sendo-lhe atribuído o pelouro das relações exteriores, depois Chairman do BBC Trust e Chancellor of the University of Oxford. O outro tratou de proteger-se dos escândalos da sua governação, designadamente da forma como procedeu à constituição da Fundação Jorge Álvares, aproveitou para promover o BPP, foi jogar golfe e tratar de comendas e medalhas para as Ordens Honoríficas. E, pelo caminho, passou a integrar o Conselho de Supervisão da EDP devido, segundo o próprio, à sua ligação à China e a Macau, órgão onde ainda hoje se mantém.

A propósito das exigências de mais democracia e sobre o complexo momento que se está a viver em Hong Kong, depois de ter dito que a China está a violar compromissos assumidos antes de 1997 e ter apelado à responsabilidade e sentido de honra da antiga potência colonial, Patten veio reafirmar que o que está em causa se insere dentro da esfera de autonomia de Hong Kong. Por seu turno, Rocha Vieira, que não é tido nem achado na questão de Hong Kong, saiu a terreiro para criticar o movimento. Para o ex-governador de Macau o movimento "Occupy Central" "has undermined the prosperity and stability of Hong Kong and seriously damaged the interests of people". Os interesses de que povo, perguntar-se-á?

Não sei se o facto da ligação de Rocha Vieira à China continuar a traduzir-se no recebimento de uma tença de várias dezenas de milhares de euros, a acrescentar à sua choruda reforma, o obriga a sair a terreiro para se pronunciar sobre o que se está a passar em Hong Kong. De qualquer modo, não lhe teria ficado mal, depois do que andou a fazer por Macau, nomeadamente em matéria de defesa dos valores democráticos, transparência política e liberdade de imprensa, onde tentou silenciar a imprensa livre e não submissa, dando e cortando subsídios ao sabor das circunstâncias com a inestimável ajuda dos afilhados e serventuários, tivesse ficado calado.

Pessoalmente interpreto as declarações proferidas por Rocha Vieira sobre "Occupy Central", mais do que qualquer genuína preocupação com o futuro de Hong Kong ou das suas gentes, como mais um sinal da estável ligação que mantém à China. Neste caso através da China Three Gorges e da lubrificação regular da sua conta bancária por parte da "privatizada" EDP. Quanto mais não fosse por essa razão, à falta de outra que a sua fraca memória não lhe permitisse recordar, seria bom que o senhor general tivesse pensado que quaisquer declarações que proferisse sobre o assunto seriam sempre vistas como um favor a quem lhe continua a pagar. A Xinhua, que nestas coisas não brinca, não perdeu tempo em colocar-lhe o microfone à frente e já se encarregou de dar o destaque devido às suas declarações, entretanto também referidas pela TDM.

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aaron

por Sérgio de Almeida Correia, em 12.10.14

Noite tranquila no aconchego das ameias da fortaleza, enquanto a sombra colorida do Grand Lisboa nos espiava. Aquela brisa, que de tempos a tempos chegava, ondulando entre os nossos olhos. Os ouvidos do outro lado. E aquele abracinho tão sereno, tão autêntico, no brilho dos teus olhos. Ainda há noites assim.

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confiança

por Sérgio de Almeida Correia, em 10.10.14

20120704_51b0c6b5a8d395e33407t8R02hzlJ5VQ.jpgEm 2012 muita gente se interrogou sobre se Leung Chun-ying seria digno de confiança. Em causa estava na altura a realização de um conjunto de obras ilegais nas suas casas do Peak. Depois da assunção de responsabilidades e de um pedido de desculpas o assunto morreu. Mas hoje volta a ser pertinente colocar a mesma questão e a resposta mais óbvia parece ser "não, não pode confiar".

Os movimentos desencadeados em Hong Kong em torno da escolha do futuro Chefe do Executivo daquela poderosa Região Administrativa Especial da RPC, no sentido da escolha por sufrágio universal e directo já em 2017, agudizaram-se a partir do momento em que foi conhecida a decisão de 31 de Agosto do Congresso Nacional Popular que determinou que a escolha dos candidatos a sucessores de C. Y. Leung ocorresse no seio do Comité de Eleição em termos idênticos aos verificados em 2012, isto é, sendo aquele órgão escolhido e controlado por Pequim a determinar quem seriam os candidatos que poderiam depois apresentar-se à eleição.

Esta decisão foi vista por largos milhares de pessoas como um grave desvio à letra e ao espírito do artigo 45.º, n.º 2, da Lei Básica de Hong Kong. Recorde-se que este normativo estatui que o objectivo último é a escolha do Chefe do Executivo de HK através do sufrágio universal por parte de um comité escolhido de acordo com as regras democráticas.  Nada mais se dizendo, a única forma que Pequim encontrou para obviar à apresentação de candidaturas saídas dos movimentos e partidos democratas que se lhe opõem foi a de tirar com uma mão o que aparentemente dava com a outra. Ou seja, o que Pequim disse foi que para haver sufrágio universal em 2017 o número e o nome dos candidatos seria previamente aprovado pelo órgão da sua confiança, devendo os três candidatos (número máximo) que viessem a ser aprovados obter o consenso de mais de 50% dos membros do Comité de Eleição.

Se em Maio, Junho e Julho a cena política já estava quente, e não apenas pela impiedosa canícula e humidade, tendo-se os campos extremado após o anúncio do movimento "Occupy Central" e a manifestação pró-Pequim de 17 de Agosto, que trouxe para as ruas centenas de milhares de pessoas, como que a dizer que em Hong Kong não havia só oposição mas também apoio na rua às intenções de Pequim, o final de Setembro colocou as autoridades locais perante novos desafios. A ocupação e paralisação de vastas zonas do centro nevrálgico de Hong Kong por movimentos cívicos e de estudantes veio chamar ainda mais a atenção internacional para a situação da antiga colónia britânica.

Durante algumas semanas, em virtude de ter andado por outras paragens, foi-me impossível acompanhar ao vivo e em directo o que se ia passando, ficando limitado ao que surgia nos jornais e nos ecrãs das televisões por onde passava, e era divulgado via Internet, mormente através de blogues e redes sociais. Apesar disso, creio que qualquer observador externo, que não acompanhasse a realidade local, sem dificuldade perceberia o que se estava a passar e perguntaria até quando as autoridades chinesas estariam dispostas a permitir o caos numa das mais importantes praças financeiras do mundo, numa das cidades mais belas e mais visitadas da Ásia.

Aos poucos foi possível perceber que o movimento desencadeado estava dependente de frágeis lideranças e de uma estratégia que, para além de reclamar o cumprimento de promessas e do artigo 45.º da Lei Básica, fosse mais do que a simples decisão de ocupação pacífica do centro da cidade. Muitos apontaram-lhe falta de consistência política. No entanto, e depois de um período em que o cansaço se começou a tornar evidente nos manifestantes, nas autoridades e em vastos sectores da população, as revelações do passado dia 8, do Sidney Morning Herald, voltaram a colocar a população em polvorosa e podem funcionar como um novo impulso para um reagrupar de forças e um endurecimento do movimento "Occupy Central" contra Pequim e a protecção que tem sido conferida à sua gente em Hong Kong.

Em causa está o recebimento por parte do Chefe do Executivo de Hong Kong de cerca de 4 milhões de libras, cerca de 50 milhões de dólares de Hong Kong, em dois pagamentos que lhe foram efectuados pelos australianos da UGL. De acordo com o que entretanto foi conhecido, C. Y. Leung dois dias antes de se demitir da DTZ, a entidade para a qual trabalhava e de que era director antes de se tornar Chefe do Executivo de HK, assinou um contrato secreto para ser "referee and adviser" do grupo australiano e para prevenir que formasse e/ou se associasse a uma empresa ou grupo rival contra os seus antigos patrões. Sabendo-se que já em Novembro de 2011 C. Y. Leung apresentara a sua candidatura à corrida para Chefe do Executivo, duvida-se da bondade dos argumentos invocados para os pagamentos, tanto mais que estes só viriam a ocorrer em 2012 e 2013, já em pleno mandato. Fosse para pagamento de comissões, tráfico de influências ou corrupção pura e dura, como parece ser, visto que em 2012 e 2013 havia a certeza de que ele não estava a desempenhar funções para terceiros concorrentes mas a exercer um cargo político em Hong Kong, certo é que este caso segue-se ao de Rafael Hui Si-yuan, outro membro do executivo de Hong Kong caído em desgraça devido às suas relações com os dois irmãos da poderosa Sun Hung Kai Properties, cujos contornos têm tanto de rocambolesco quanto de grave.

Se em Macau a sociedade civil é praticamente inexistente, reconhecidamente fraca e tudo - com excepção dos casinos e do que estes envolvem - funciona numa escala ínfima face ao que se passa em Hong Kong, não deixa de ser preocupante para as autoridades chinesas que, num momento em que na RPC o Partido Comunista e o seu líder máximo desenvolvem um combate sem quartel contra a corrupção (na melhor tradição maoísta designado por "Linha de Massas"), que já levou ao afastamento de mais de 70.000 membros do Partido, não sendo sequer poupados os seus mais altos dirigentes e a elite empresarial, nas duas regiões do delta do Rio das Pérolas se sucedam casos de corrupção envolvendo figuras do establishment, milionários, empresários conhecidos e membros dos executivos locais, em ambos os casos desafiados por jovens muito novos e estudantes - em Hong Kong um dos dirigentes do movimento tem apenas 17 anos e esteve detido durante 46 horas.

As reacções a que até agora temos assistido, que rapidamente vão da tolerância ao uso da força - bastonadas, gás pimenta e gás lacrimogéneo já foram utilizados pelas forças de segurança de Hong Kong -, com o arrastar da contestação de rua e a consequente degradação da imagem de confiança, estabilidade e segurança de Hong Kong, não permitem a ninguém com um mínimo de seriedade prever o que se vai passar a seguir. Tudo é possível.

Um endurecimento das posições de Pequim e o uso indiscriminado da força aumentará a desconfiança da população de Hong Kong, dos observadores externos e dos investidores. Por outro lado, a aceitação nas actuais circunstâncias das exigências dos manifestantes transmitiria sempre uma imagem de fraqueza que retiraria face às autoridades chinesas e poderia constituir um desafio aos movimentos, sistematicamente silenciados e desvalorizados, que no interior da China clamam por mais liberdade e democracia. Qualquer que seja o desfecho, que estou convencido ocorrerá muito em breve, talvez não mais que algumas semanas, nada voltará a ser como dantes.

Do outro lado do estreito da Formosa, apesar dos mais recentes desenvolvimentos nas relações com Taipé, são muitos milhões os olhos que observam o que se vai passando em Hong Kong. Deste lado do delta também. Não é só a confiança em C. Y. Leung e a protecção que a RPC tem dado a alguns sectores corruptos da elite empresarial e política de Hong Kong que suscita interrogações. Torna-se por isso legítimo aos cidadãos de Hong Kong perguntar até que ponto a RPC é confiável. A resposta só poderá ser dada pelas autoridades chinesas e vai depender da forma como se processar a escolha do próximo Chefe do Executivo. O que agora está em cima da mesa também não se resume a um punhado de dólares. E dificilmente estes seriam alguma vez suficientes para comprarem o que se receia ver restringido ou perder e que continua a ser preservado - até quando? - num modestíssimo 5.º andar da Austin Avenue: o direito a escolher. A liberdade.

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facturas

por Sérgio de Almeida Correia, em 09.10.14

fe0336f1-e299.jpg(a foto pertence ao Expresso e foi tirada daqui)

Gente séria tê-lo-ia admitido desde o princípio, tal como muitos atempadamente alertaram. 

É mais um "tecno-embrulho" que, de novo, não constava do pacote testamentário recebido dos antecessores. E volto a dizer que não estou a discutir a bondade da solução encontrada, nem se é melhor ou pior que a do BPN, apesar de sem rebuço admitir que em princípio será menos má. 

Em causa está, porque é isso que me preocupa no padrão comportamental dos dirigentes políticos, a actuação política em concreto de quem decidiu e as declarações que a suportaram, destinadas a atirar areia para os olhos dos contribuintes.

Se pode ser estabelecido um paralelo entre este caso e o BPN, para lá da inenarrável actuação do supervisor, ele encontrar-se-á na forma como em ambos os casos se assumiram riscos iludindo a opinião pública sobre os custos inerentes. Sem frontalidade, sem transparência, fazendo dos outros tolos. A começar pelo Presidente da República.

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memória

por Sérgio de Almeida Correia, em 04.10.14

Pura ilusão. Memória não é o que recordamos. É o que nos faz voltar sem olhar para trás. Hoje como ontem, e amanhã também. Até à eternidade.

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guincho

por Sérgio de Almeida Correia, em 02.10.14

 Quando não me lembrar de nada lembrar-me-ei de ti.

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