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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
O que é relatado pelo Público e conhecido das instâncias internacionais e organizações dos direitos humanos devia ser mais do que suficiente para que o Governo Português e o conjunto dos países que compõem a CPLP fizessem marcha atrás e corressem com o Presidente da Guiné-Equatorial da ronda que irá ter lugar em Díli e onde aquela organização lusófona e o MNE português se preparam para receber de braços abertos o líder de um regime sanguinário que espezinha os direitos humanos e mente descaradamente aos seus parceiros internacionais.
Os portugueses deviam ser os primeiros, mesmo tendo presentes as dificuldades que atravessam, a manifestarem-se nas ruas de Lisboa contra o apoio que o Governo de Passos Coelho está a dar ao catre imundo onde aquela sinistra personagem mantém cativo o seu povo.
Não há petróleo nem realpolitik que obriguem Portugal e a CPLP a aceitarem a recorrente conduta de Obiang e do respectivo gangue de verdugos e crápulas. Mas já que alguns articulistas que convivem demasiado com o poder não têm tempo para, entre uma condecoração e um artigo laudatório ao primeiro-ministro, escreverem sobre isto, aqui fica a minha repulsa.
Como português e cidadão recuso-me a aceitar esta pulhice que representa a entrada da Guiné-Equatorial na CPLP e ofende a memória de todos quantos sofreram dentro e fora do país por uma terra livre, sem presos políticos, onde os direitos humanos fossem integralmente respeitados. Confesso que tenho vergonha do ministro dos Negócios Estrangeiros e do primeiro-ministro de Portugal, sendo-me indiferente que Obiang tivesse sido antes recebido por Sócrates e Cavaco Silva, em Lisboa, porque já então me manifestara contra isso.
Gente de bem não convive com canalhas. Nem se cala perante uma infâmia que desacredita Portugal perante o mundo civilizado.
"(...) Sem qualquer ponto de contacto entre as realidades apresentadas pelo Governo e pela oposição, tivemos um debate sobre nações distintas, que de comum tinham apenas o nome: Portugal.
Ao comparar o teatro a um parlamento, Piscator argumentava que o teatro deve induzir o público a envolver-se politicamente. Terá o debate de ontem aproximado os cidadãos da política? Parece improvável, sobretudo quando nenhuma das intervenções nas mais de quatro horas de debate abordou a crescente descrença dos portugueses em relação aos seus representantes políticos: menos de 10% confiam nos partidos e 85% estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia nacional, o mais alto nível de insatisfação da UE. E esse é também o estado da nação."- Carlos Jalali, Público
Perante este facto incontornável, que vai diariamente afundando o regime e a democracia, os actores entretêm-se com jogos florais. Quem sabe se não será altura dos responsáveis por este estado de coisas se inscreverem nesta prestimosa associação? Talvez esta pudesse ajudar os Coelhos, os Seguros e os Portas a ver melhor.