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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Da entrevista dada pelo primeiro-ministro a José Gomes Ferreira há muito pouco a dizer. Uma dezena de remodelações depois atreveu-se a afirmar, sem sombra de remorso e sem se engasgar, que fez uma, registei, uma remodelação para aumentar a coesão do Governo. Presumo que todas as restantes foram executadas para divertir as clientelas do seu partido e o parceiro de coligação, transmitindo a ideia de que até hoje tudo correu sobre rodas. Bateu sempre na mesma tecla, justificou erros e opções como se fossem fatalidades, a seu tempo escrutináveis, quando sabe que já não há remédio. Fê-lo sem transparência sobre as escolhas realizadas e sem esclarecer o que lhe era suposto esclarecer numa entrevista de uma hora. Fez de conta que o penoso cumprimento de um programa de ajustamento e reajustamento, para cujo agravamento sobremaneira contribuiu, é função de que um governante se deve orgulhar. Em rigor, comportou-se com a desfaçatez de um comentador político sem responsabilidades, recordando aos portugueses - quando para fugir às perguntas recordou que não se poderia comprometer com as respostas sem estudar as questões - que as promessas feitas em campanha eleitoral foram dolosas. Sem um acto de contrição, sem nobreza. Por trinta moedas que jurara ir buscar à reforma do Estado e ao despesismo dos antecessores. E que, traiçoeiramente, acabou a tirar dos depauperados bolsos dos irmãos, fechando os olhos aos vendilhões e protegendo os seus facilitadores dos negócios.