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Linhas em jeito de diário. Inspiração. Homenagem a espíritos livres. Lugar de evocação. Registo do quotidiano, espaço de encontros. Refúgio de olhares. Espécie de tributo à escrita límpida, serena e franca de Marcello Duarte Mathias.
Daquilo que convivi com ele, se tivesse de defini-lo em poucas palavras escolheria apenas três: discrição, afabilidade e inteligência. A ordem dos factores pode ser arbitrária porque todas estavam presentes em igual medida. O seu percurso não chegou ao fim, estupidamente quebrado no momento em que a onda se preparava para atingir a praia, desfazer-se em espuma e inundar a areia, molhando-nos os pés. Ele não chegou a bom porto, chegaram os seus papéis, que ganharão nova vida nos olhos e na reflexão de outros que pensam numa língua diferente.
Quem esta tarde ali esteve sabia que percorria mais um troço de uma avenida que ele ajudou a projectar, rasgar e consolidar. Sem se preocupar com o fontanário e os passeios. Nessa medida, o que ficou nunca será uma obra inacabada.
Uns fazem fontanários nas avenidas que os outros constroem. Depois enfeitam-nos e cortam a fita. No final convidam quem passa a aplaudi-los e nunca mais ninguém se lembra deles. Secam.
Outros rasgam avenidas sem se preocuparem com os passeios. Ou com quem passa.
Os fontanários secam. As avenidas deixam-se inundar. E dez anos depois continuam lá. As avenidas. Recebendo quem chega, dando pistas a quem projectará as novas.
Foi isso que marcou. Como se fosse ontem. Discreta, afável e inteligentemente.